Capítulo 6 - Dragões existem! Fato! Fato?

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Júlio boquiaberto observa o que esta se formando em sua frente. Uma grande névoa de areia girando em volta do quarto. Centenas de milhares de grânulos de areia fina começam a se juntar e formar ossos enormes de uma criatura diferente. Parecendo um lagarto alado. Em seguida, os órgãos começam a aparecer um depois do outro, montando sombriamente um corpo reptiliano. Construído por algum mago ou feiticeiro poderoso. Músculos cobrindo todo o corpo já formado com os órgãos, veia e músculos. Tudo parece uma animação mórbida de computador.

Logo após aparece finalmente a pele. Pele não, escamas. Com certeza se trata de um réptil, grande de 2 metros de altura por quatro de comprimento, uma enorme cauda desponta e asas arqueadas surgem. De cor dourado escuro, forte e equilibrado. Não conseguindo pronunciar uma palavra sequer, Júlio observa o imenso réptil a sua frente. Era sim, um dragão dourado.

- Boa noite meu Senhor! Há quanto tempo não nos vemos. – Diz o dragão com sua voz retumbante e fazendo uma grande reverência, como se Júlio fosse um rei. – Fará essa enorme desfeita comigo e não me dará a honra de teu cumprimento?

- Você só esta aqui graças ao sonho. Você na verdade não existe. – Júlio diz sério ao grande dragão curvado a seus pés.

- Meu Senhor. Você acredita realmente que isso é somente um sonho? Por muito tempo eu vos lhe disse que este dia iria chegar, lembra-te?

- Talvez eu me lembre, talvez não. – Disse Júlio confuso. Não conseguia se lembrar.

- Meu Senhor, este dia é chamado do dia autoconhecimento. Durante anos, avisei-o que este dia chegaria. – Disse o dragão se levantando e mostrando toda sua imponência. – Provavelmente o Senhor não se lembra de mim, ao crescer fui jogado no esquecimento infantil de sua mente, o qual o Senhor bloqueou tão veementemente.

- Talvez. – Disse Júlio muito confuso. Aquilo tudo não fazia sentido algum, e realmente ele não lembrava nada parecido com aquilo.

- Vou tentar ajudá-lo a se lembrar. Na estante acima de sua escrivaninha, há um grosso livro de capa vermelha. Poderia pegá-lo, por favor?

Júlio fitou o grande dragão nos olhos, e virou-se em direção a estante apontada por ele. Deu três passos, e chegou até a estante. O livro esta em pé, ao lado de alguns outros, mas se destacava, pois era grande e grosso, possuía muitas páginas, sua lateral era de um vermelho vivo cor de sangue.

Júlio arrepiou-se todo. Era o livro que havia encontrado em seu armário no seu apartamento. Aquilo realmente era muito estranho. Mesmo assim Júlio pegou o livro da estante e virou-se para o dragão. Parou em sua frente com o livro em mãos. O dragão se sentou, com a pose de um cão de guarda, ficando com os olhos na altura dos olhos de Júlio.

- O Senhor não se lembra deste livro não é? – Pergunta o dragão

- Lembro apenas que este livro me traz amargas lembranças que não faço questão alguma de reviver. – Disse Júlio irritado.

- Lembra-se de meu nome? De quem sou? – O dragão ajeitasse vagarosamente, e deita como uma serpente ao chão.

- Não! Sei que és fruto de minha imaginação, e que quando garoto, tive um amigo dragão imaginário.

- Realmente estou impressionado com a frieza desta sua colocação. Não lhe sou familiar, não se lembra de meu nome, clamou pela minha presença desnecessariamente ou involuntariamente. Qual das duas opções lhe cabe melhor?

- Nenhuma delas. Em nenhum momento solicitei vossa presença! – Júlio esbraveja indignado. Uma das poucas coisas que o irritam profundamente é quando tentam adivinhar seus pensamentos ou colocar palavras em sua boca.

- Entendo. Mas o Senhor folheou o livro, não foi?

- Sim. Estava averiguando seu conteúdo.

- Isso já é o suficiente. Ou também foi apagada de tua memória a forma de como evocar minha presença terrena? – O dragão pronuncia esta frase mostrando seus afiados e enormes dentes. Brancos como a neve e com um hálito acre.

Por um breve momento Júlio, ficou sem ação, as lembranças fervilhavam em sua mente. Entrava em seu armário no mais absoluto escuro e com os olhos fechados, folheava rapidamente o grande livro, e então aquele mesmo turbilhão de vento gélido, areia e poeira pairavam no ar, até que no redemoinho violento o grande réptil se formava a sua frente. Seus encontros com o grande dragão dourado eram sempre em uma grande clareira, que se abria em meio a uma densa floresta de mata fechada.

- Vejo que as lembranças aos poucos começam a acordar de seu sono prolongado. Vamos tornar esta conversa mais interessante. – Diz o dragão sorrindo novamente – Temos tempo suficiente.

Júlio ainda perdido em meio a tudo aquilo, o acordar dentro de um sonho, a voz de sua avó, estar em seu antigo quarto de criança, a voz de sua avó, o livro, o dragão. Tudo aquilo estava deixando-o confuso.

- Estampado em seu rosto está á face da desorientação. Deixe-me ajudá-lo. Faça as perguntas e responderei a todas elas, com exceção de três. As quais o Senhor obterá as respostas no momento oportuno. – O dragão mostrou-lhe delicadamente três garras de sua pata direita, em seguida levantando mais uma garra.

- E uma quarta pergunta que a resposta está impregnada em seu coração. Esta só pode ser liberada e lida por você mesmo.

- Uma espécie de gênio da lâmpada só que com o poder de esclarecimento de todas as perguntas exceto três? – Júlio era famoso por suas provocações rudes e humor duvidoso.

- O Senhor não mudou nada mesmo. – Gargalhou alto com a voz de trovão característica. –Desde jovem sempre alfinetando a tudo e a todos para saber até aonde pode chegar ou descobrir os verdadeiros motivos.

- O Senhor ainda lembra meu nome?

Júlio com um ar de dúvida que não foi possível esconder, responde balançando a cabeça só confirmando o que o dragão já esperava.

- Não! Não me lembro. – Júlio sente que deveria se lembrar do nome.

- Leonardo. – Curvando a enorme cabeça em reverência.

- Mas é claro! Leonardo! Minha nossa, como pude esquecer?! – Júlio coloca as mãos na cabeça como se fosse a coisa mais obvia do mundo. Tinha batizado seu dragão com este nome porque era fanático por Leonardo Da Vinci. O mais completo gênio e ser humano da alta renascença que já existiu em toda a história da humanidade. Pintor, escritor, arquiteto, escultor, poeta, engenheiro e tantas outras coisas.

- Leonardo! Nome muito propício que me sempre me deixa lisonjeado desde meu batismo. – Um sorriso maroto escapou no canto da enorme bocarra do dragão. – Vejo que agora suas lembranças começam a aflorar dentro os obscuros cantos de sua mente.

Lentamente, Júlio começa a lembrar-se de Leonardo. Dos momentos que tinha passado enfurnado no armário, escondido de seus medos insólitos, as viagens loucas até a imensa clareira onde ficavam juntos conversando, Leonardo e Júlio, durante horas. Uma ajuda mútua tão necessária e tão bem vinda.

- Mestre, entenda de uma vez. Suas lembranças aos poucos serão afloradas novamente. Será um processo doloroso e longo. Como eu já o havia avisado há muitos anos atrás. – Leonardo disse, levantando-se e estendendo sua enorme pata em direção de Júlio, esperando um singelo gesto de complacência pelo mesmo.

- Leonardo, me explique de uma vez por todas isso é um sonho, não é?

- Mestre. Eu não classificaria como um sonho. E sim como uma viagem para seu próprio interior. A oportunidadeque tens de resolver pendências há muito abandonada. Inclusive, não é a toa queo senhor retornou para este tempo preciso. Aqui há uma pendência enorme nãoresolvida, e é chegada á hora.    

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