Capítulo 26 - Amigos são pra isso!

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Júlio sai correndo de dentro de seu quarto correndo tropeçando em tudo pelo caminho, o livro estava com Natascha, não deveria ter acontecido isso. Não deveria. Esforçou-se ao máximo para conseguir chegar até a sala onde estavam conversando Jovem Júlio e Natascha. Júlio sabia exatamente que momento era aquele, o momento da revelação dela, o momento em que ela conta a Júlio que ela encontrou seu livro jogado em meio a bagunça de sua casa, e que num rampante de loucura folheou o livro e quando percebeu que se tratava de memórias de Júlio decidiu escondido levar o livro embora. Júlio prestava atenção no dialogo dos dois:

- Do que você está falando Naty? – Somente Júlio e Allan a chamavam assim. Natascha não permitia que mais ninguém a chamasse assim, nem mesmo Fábio.

- Não vou mentir pra você! Apesar de que acho que isso vai acabar com qualquer coisa que tenhamos! – Disse Natascha olhando para o chão. – Eu achei sei livro!

- Que livro? – Júlio se fez de desentendido, mas sabia exatamente do que ela estava falando.

- Desculpe! Eu achei seu livro, levei embora e o li. Inteiro... – Natascha olhou para Jovem Júlio com lágrimas nos olhos.

Jovem Júlio ficou estarrecido, paralisado, não conseguia dizer uma palavra, um frio correu sua espinha, começou a sentir calafrios. Tentava controlar seu corpo, era impossível. Aquela sensação de estar nu em público sem poder ao menos se mexer, ou sem se esconder era terrível.

- O que você leu? – Jovem Júlio estava com a voz tremula.

- Desculpe! Eu li tudo! – Natascha chorava. – Me desculpe! Eu não deveria ter feito isso! Eu nunca deveria ter pegado aquele livro, não sei o que me deu!

Jovem Júlio se levantou, suas pernas estavam bambas. Aquele livro era o único reduto de seu verdadeiro eu, ninguém jamais havia lido o que ali ele escreverá, era o depósito de seus segredos mais profundos e íntimos. Apoiou-se na parede com uma das mãos e baixou a cabeça. A sensação era de como se o chão houvesse sido removido de seus pés e ele despencava abismo abaixo.

- Júlio! – Natascha levantou em direção. - As coisas que li me fizeram te enxergar de uma forma! Hoje eu sei que você é outra pessoa, porque você é desse jeito e sei lidar melhor com você! Que você veste uma fantasia exterior para se proteger das pessoas. Você não é desse jeito que se mostra!

- Exatamente! – Respondeu secamente Jovem Júlio, em seguida se virou para Natascha encarando-a nos olhos – E é exatamente por isso que eu não quero ver você nunca mais! O que você fez não tem nome! Você invadiu a minha privacidade, entrou em mim sem meu consentimento! – Tomou fôlego e continuou:

- Nunca me escondi verdadeiramente de você, desde o dia em que nos conhecemos. Sempre fui mais brando com você, por que acreditava que fosse diferente! Diferente das pessoas desse mundo, mas eu me enganei! Você é só mais uma, que não se contenta com o que tem de uma pessoa, não mede esforços para conseguir mais e mais custe o que custar!

- Júlio... Perdão! Estou aqui te contando á verdade, não quero te perder, você é muito importante pra mim, sempre foi e sempre será. Não me trate assim! – Natascha chorava enquanto tentava quebrar a casca espinhosa que Jovem Júlio criava quando estava em seu momento de fúria.

- Eu não tenho mais nada a falar com você! A partir deste momento, Natascha pra mim é uma lembrança amarga e sem valor! – Jovem Júlio estava transfigurado, sem demonstrar nada, nem ódio nem tristeza. Estava frio, com um olhar frio e perdido. Falava baixo e em tom funesto. – E pensar que eu me afastei da Milena por sua causa, eu fui muito burro mesmo! Obrigado por abrir meus olhos antes de eu cometer mais loucuras com você! Por favor, retire-se da minha casa, aqui você não é mais bem vinda!

- Júlio... – Natascha em vão tentou argumentar, porém Jovem Júlio simplesmente deu as costas, mas antes de sair da sala disse:

- Ah, e quando terminar de ler e puder, devolva meu livro, por favor! – E foi embora sumindo corredor á dentro.

Natascha ainda chorava, pegou sua bolsa e saiu da casa de Júlio. Quando ela se afastou o suficiente, Jovem Júlio voltou á sala, pegou o pedestal de um dos pratos da bateria e começou a bater com este em todos os instrumentos. Quebrando amplificadores, bateria, pedestal de microfone e tudo o mais que tinha pela frente. Bateu contra parede, lâmpada, deixando a sala na penumbra absoluta, até que se cansou, sentou-se ao chão e se pôs a chorar. Chorar um choro que nunca havia chorado antes, daqueles de lavar a alma e permaneceu assim por horas...

(...)

A campainha de sua casa toca. Jovem Júlio nem se mexeu, continuava sentado á penumbra da sala. A pessoa insistia na campainha, até que Jovem Júlio criou coragem e decidiu levantar-se.

- Que droga! Ele não deveria atender essa campainha! – Júlio então começa a atirar coisas ao chão, esmurrar pratos da bateria, fazendo muito barulho. – Não vai! Fica aqui, maldito! Não vá...

Mas foi em vão, Jovem Júlio sai pela porta da sala até a garagem. No portão estava Allan. Com o livro em mãos. Suas mãos tremiam do ódio que estava de Natascha, e como senão fosse suficiente, agora via Allan parado bem a sua frente com o livro em mãos.

- Eu vim trazer o seu diário! Natascha me pediu! – Allan falou em tom ríspido e ameaçador. Jovem Júlio parecia anestesiado. Não esboçou nenhuma reação, chegou ao portão, pegou seu livro. Sem dizer uma palavra sequer, virou-se para entrar em casa:

- Não sei por que tanto drama por causa desse seu diário! Parece história de menina! Nunca vi marmanjo ficar escrevendo essas coisas! – Allan provocou Jovem Júlio que parou para escutar as ofensas. – Você é um babaca mesmo! O Fábio tinha razão, você nunca mereceu alguém como a Natascha!

- Só mais um pouco... – Disse Jovem Júlio.

- Só mais um pouco o que? Sua bicha enrustida! – Perguntou Allan.

- Só mais um pouco... Pra eu fazer você engolir todos os seus dentes! - Jovem Júlio já estava descontrolado. – Abriu o portão, e com um empurrão rápido derrubou Allan na calçada de casa!

Jovem Júlio saltou em cima de Allan, conseguindo prender-lhe os dois braços. Com essa vantagem, Jovem Júlio desferia golpe atrás de golpe contra a cabeça de Allan, que lutava loucamente para se soltar.

Júlio, o expectador mórbido tentava intervir, mas não conseguia, todas suas investidas atravessavam os dois brigões como se fossem hologramas. Em poucos segundos a vizinhança se aproximou, algumas pessoas tentando separar os dois, outros gritando e fazendo ainda mais algazarra, instigando ainda mais a briga dos dois.

Em um dado momento um dos vizinhos conseguiu separar a briga. Com um movimento rápido Allan, conseguiu acertar uma facada de raspão em Jovem Júlio, que não havia percebido que ele estava pronto para o ataque. Por sorte, Allan já estava tonto e não conseguiu acertar em cheio. A facada foi apenas de raspão na altura do braço direito.

Jovem Júlio segurando o ferimento de seu braço voltou para sua casa. Um dos vizinhos insistia para que ele fosse para o hospital, mas Jovem Júlio recusou-se. Allan resmungou um pouco ainda á rua, e depois foi embora.

Jovem Júlio decidiu então, ver sua amiga Milena. Há algum tempo não a via, estava morrendo de saudades, e com os últimos acontecimentos, ele precisava vê-la de qualquer jeito.

Saiu pela porta da sala, e chegando á garagem, seu livro estava jogado ao chão aberto.

- Você sempre foi um peso na minha vida! Eu te odeio! - Fechou o livro, deixando-o de lado na garagem. – Depois eu cuido de você!

E pôs-se a andar até sua única everdadeira amiga... Milena estaria morrendo de saudades, bom pelo menos era o queJúlio esperava! Andou; a caminhada até a casa de Milena nunca fora tão distante, tão demorada e tão aguardada. Casa e casas iam passando, quarteirõese ruas inteiras, conseguia pensar somente no abraço que ia dar em sua amiga. Oquanto de coisas teria para contar, e como aquele colo que Milena sempre lhe oferecia agora seria bom para ele. Recuperar o tempo perdido, esquecer o que havia acontecido com Natascha. Era a única coisa que queria...    

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