Capítulo 11 - Não podemos nos esconder para sempre!

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Júlio estava distraído. Lembrava-se claramente deste dia. O dia em que Pimenta, o pior aluno da sala, o arruaceiro, passou a perceber sua existência. Pimenta era o terror de todos os alunos da escola. Nunca andava sozinho. Sempre com dois ou três outros meninos, sempre menores, mas com atitude agressiva, porém em menor escala que Pimenta.

Lembrava-se também, que por causa deste acontecimento todo, por ironia ou não do destino, Júlio conseguiu ir pela primeira vez para o consultório da doutora Telma. Todos os meninos eram apaixonados pela doutora Telma Trigo. Uma espécie de amor platônico, quase um complexo de Édipo. Coisas de meninos... Coisa de criança.

Doutora Telma era uma mulher linda, jovem, alta e esguia. Dona de cabelos pretos como a noite e olhos azuis iguais aos de Júlio, pele alva, branca como a neve. Telma trabalhava na escola de Júlio desde quando se formou pediatra há três anos, sua paixão eram as crianças. Havia feito residência um grande hospital de São Paulo. Havia entrado substituindo a antiga enfermeira que havia se aposentado, uma idosa megera, a qual as crianças odiavam. Tudo para ela era resolvido com um telefonema para os pais. Simplesmente, mandava a criança para casa.

- Doces lembranças de minha maior amiga na época de escola... – Pensou Júlio ao lembrar-se de Telma. Ou melhor, Doutora Telma.

Seu pensamento foi interrompido, pela voz de Pimenta, saindo do prédio chegando até o pátio, próximo de seus amigos, quase comparsas.

- Velho Romeu maldito! Quase peguei o filho da puta que vomitou em mim. – Disse pimenta esbravejando, enquanto seus amigos tapavam os narizes e diziam que estava fedendo.

- Diga isso de novo, e faço você limpar minhas calças com sua língua! – Pimenta estava completamente descontrolado e ameaçando seus amigos enquanto gritava.

- Mas não tem problema. Hoje na saída eu encontro esse molequinho maldito! Eu já o vi indo embora a pé para casa, e sei exatamente onde ele costuma passar.

- Leonardo! – Grita Júlio.

- Sim Mestre! – Respondo seu amigo, o enorme réptil alado. – Estou bem aqui á seu lado.

- Leonardo, hoje é o dia. O que podemos fazer? Vamos intervir, não deixemos que nada aconteça. – Júlio olha angustiado para Leonardo.

- Mestre, já lhe expliquei. Você aqui é um mero expectador, não pode alterar nada do que aconteceu em sua vida. Se o senhor pudesse mudar, o curso natural das coisas seria alterado. Seu futuro seria totalmente desconhecido e tudo ficaria fora de controle e sem sintonia. Infelizmente o senhor pode apenas observar e analisar o que ocorreu.

- Analisar? Analisar o quê? Não vejo porque de analisar se eu não posso alterar o curso das coisas. – Disse Júlio rispidamente.

- Senhor. Não tenho permissão de lhe ajudar durante este processo, apenas com alguns aconselhamentos, mas desta vez, somente desta vez, vou lhe ajudar! - Disse Leonardo, com a cabeça em direção ao chão e com os olhos fechados. Após, alguns longos segundos de silêncio:

- Já pensou porque essas coisas aconteceram com o senhor? – Disse Leonardo encarando Júlio nos olhos.

- Eu não tenho tempo para pensar a respeito. Aconteceram porque eu estava no lugar errado e na hora errada. Só isso! – Júlio responde secamente e emburrado.

- Mestre, abra sua mente, enxergue além do que lhe é exposto de forma simples. Pense...O senhor já imaginou que isso pode ser uma forma de aprendizado, tanto sua como dos outros que o cercam? Que as pessoas que passaram pela sua vida, podem ter problemas maiores do que os seus? Que essas mesmas pessoas, podem ter passado por coisas mais terríveis que as que o senhor passou?

Dragão DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora