Uma dor lancinante, o impacto com o solo foi poderoso. Novamente aquela claridade absurda deixa Júlio completamente cego por uns bons segundos. Sem enxergar nada, ouve-se uma grande gritaria de crianças, umas correndo, outras gritando como se estivessem jogando bola, brincando de esconde-esconde, tudo junto e misturado, uma grande confusão, parecendo o recreio de uma escola.
- Opa! – Júlio levanta rapidamente, protegendo os olhos da grande claridade branca, e já se acostumando, consegue começar a abrir os olhos. – Sim. Estou em um pátio de um colégio.
- Espera ai. Estou no pátio do meu colégio. É minha escola... Veja Leonardo, sou eu jogando bola com lata de refrigerante... Leonardo, onde você esta?
Júlio olha ao seu redor, muitas crianças correndo, gritando, fazendo barulho, porém nenhuma resposta de Leonardo. O pequeno Júlio jogava futebol com outras crianças com uma lata de alumínio amassada de refrigerante. A escola não permitia que utilizassem bolas no horário do intervalo, então as crianças usavam latas de refrigerante vazias, embalagens de suco á vácuo, o que tivesse disponível para esse momento de distração.
Júlio assistia a si divertindo-se muito, estava animado, correndo e gritando junto com as outras crianças. Era uma época boa de sua escola, ainda sentia-se bem, com algumas dificuldades de relacionamento com os outros, porém, tudo ainda era tranquilo. O pequeno Júlio corria, atrás da lata, nunca foi bom com esportes, de nenhum tipo, mas gostava da bagunça, correr, gritar, era um momento que se sentia livre.
O pequeno Júlio estava, disputando a lata com outro menino, correndo muito, aquela lata seria dele, não deixaria o outro menino pegar, correndo muito, mais e mais, olhando somente para a lata, os dois emparelhados, se empurrando, tentando impedir que o outro chegasse... Uma dor forte, um encontrão, uma batida. O pequeno Júlio bate com toda sua força em outra pessoa, foi arremessado para traz com força e caiu sentado.
Sem conseguir respirar devido á terrível pancada que levou em seu corpo, o pequeno Júlio, tenta buscar pelo ar, seus pulmões não obedecem, o ar não chega até eles, que agonia, que dor, que sofrimento. Num esforço sobre humano, consegue ficar de pé. A sua frente, o garoto mais arruaceiro da escola, seu apelido era Pimenta, a muralha humana com que pequeno Júlio acabará de colidir.
Pimenta era alto e muito forte. Era mais velho que a maioria dos outros alunos. Era repetente. Estava na escola há anos.Com seus cabelos curtos, lisos e ruivos, sua pele alva e com sardas no rosto, era o terror de toda a escola. Daqueles que todos conhecem ou já ouviram falar uma dúzia de coisas ruins e que não sabemos o nome real, só o apelido. Certa vez, conta à lenda que Pimenta, teria quebrado o dedo de outro garoto porque este o colocou perto de seu nariz.
Depois de alguns segundos olhando para Pimenta, que estava com um ar de poucos amigos, o pequeno Júlio não aguentou mais, e em um mal súbito, vomitou todo seu almoço sobre a calça de Pimenta, na frente de diversos alunos de todas as idades. Gargalhada geral. As risadas dos alunos ecoaram no pátio da escola. O pequeno Júlio sai correndo em direção ao banheiro, empurrando todos que estão á sua frente, Pimenta fica parado estático, todo vomitado com dezenas de alunos comentando, rindo e cochichando.
O pequeno Júlio entra correndo no banheiro, e vai direto para o último banheiro, a escola era muito grande, e o banheiro dos meninos tinha várias cabines com vaso sanitário, cerca de 10 ou 12. Ainda sentindo-se mal, não tem tempo nem de dar a descarga, vomita novamente dessa vez pelo menos, dentro do vaso sanitário.
Só o tempo de dar a descarga e um enorme estrondo ecoa no banheiro, a porta do banheiro parecia ter sido arrombada, semelhante a uma explosão.
- Você ainda esta aqui, porco! Vou fazer você limpar minha calça com a cara seu filho da puta! – Pimenta entra no banheiro aos berros procurando quem havia sujado sua roupa.
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Dragão Dourado
Novela JuvenilA vida trata os diferentes implacavelmente, tirando-lhes o brilho da infância e adolescência. Iguais, mas, tão diferentes de inúmeros igual a ele que habitam esse mundo insólito e cruel. Percorra a saga da vida incomum mais comum de Júlio Almeida! ...