Capítulo 12 - Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura!

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Júlio acabará de ouvir o que Rodrigo tinha dito á Pimenta, e mais uma vez, o enorme quebra cabeças de sua vida começava a ser montado. Revelações que ele mesmo nunca poderia imaginar. Estava estarrecido. Tudo começava a fazer sentido. 

- Leonardo! Preciso avisar de alguma forma para Pequeno Júlio se proteger, não quero que ele passe por tudo isso novamente. – Júlio estava desorientado, estava tentando proteger a si, no passado de algo que estava para acontecer, mas que na verdade já havia acontecido.

- Mestre, o senhor esta tentando fazer algo simplesmente absurdo. Não existe forma de conseguir isto. O que o senhor esta vendo, é a passagem de sua vida, ou seja, não serão possível alterações, mudanças ou intervenções. O senhor é um mero expectador. Foi lhe dada á oportunidade de entender, quais os mecanismos que levaram os acontecimentos de sua vida. Júlio não se conformava em não poder fazer nada, não poder interagir, evitar os acontecimentos futuros.

- Leonardo! Onde esta o pequeno Júlio? – Perguntou Júlio aflito.

- Senhor, fique calmo. Ele esta em aula neste momento. Aula de educação física. Esta na quadra coberta, que fica próximo á piscina. Onde esta havendo o... – Leonardo, para imediatamente olha para Júlio, que nem esperou o término da frase, saiu em disparada ao ginásio coberto.

A escola de Júlio era divida em três grandes regiões. O ginásio coberto era onde aconteciam as aulas de educação física em dias de chuva ou muito frio. Tratava-se de uma enorme quadra, com cobertura em alumínio, ao lado de uma piscina olímpica, onde eram praticadas as aulas e treinos de natação. A escola de Júlio era tradicionalmente conhecida nos esportes. Havia campeonatos e treinos constantes, e uma das principais modalidades era a natação.

Júlio correndo como o vento, subiu as escadas que ligavam o pátio principal, até um corredor, onde ficava o laboratório de ciência, logo após o vestiário, dobrou a esquerda, subindo o segundo lance de escada, chegando até a grande quadra coberta. Ao lado, a piscina. Era cercada com um forte alambrado. Olhou em volta, avistou o pequeno Júlio parado a beira da piscina, contemplando seu enorme tamanho.

Júlio, gritou, tentando avisar, mas já era tarde. Viu Pimenta, empurrar o pequeno Júlio para dentro da piscina gigantesca. Caindo na parte mais funda da piscina, onde eram praticados os saltos ornamentais usando trampolins.

Júlio tentou correr, mas não conseguiu, parecia estar com bolas de ferro amarradas á seus pés. Por mais força que fazia, parecia não conseguir sair do lugar. De longe, gritando, e tentando desesperadamente correr até a piscina, conseguia apenas ver, pequeno Júlio se debatendo e se afogando dentro da piscina e Pimenta afastando-se tranquilamente.

Ainda tentando chegar até a piscina, Júlio viu então, um vulto. Alguém havia pulado na piscina, bem ao lado do pequeno Júlio, e como num passe de mágica, o havia empurrado até a borda. Júlio finalmente, consegui chegar até a piscina após o esforço épico, apenas alguns metros o separavam da piscina que pareceram quilômetros. Estava exausto e ofegante.

Pequeno Júlio com sofreguidão saia de dentro da piscina, tossindo e tentando respirar enquanto a água saia de sua boca e nariz. Com certeza, se tivesse ficado mais alguns segundos na piscina teria se afogado. Júlio sentia-se mal, como se ele mesmo estivera se afogando, como se aquilo tudo estivesse acontecendo de novo. Aquela horrível sensação de morte eminente de sofrimento, de impotência.

Nesse momento, Júlio vê o salvador do pequeno Júlio sair na outra extremidade da piscina, um menino alto, moreno claro, de cabelos encaracolados, curtos e com uma enorme cicatriz no pescoço. Saiu de dentro da piscina pelo outro portão de acesso, sem dizer uma palavra, quieto e sorrateiro, com a nítida impressão de fuga.

Leonardo se aproxima de Júlio e pergunta:

- Mestre, o senhor esta bem?

- Não consegui chegar a tempo de me impedir de cair na piscina! – Disse Júlio quase sem fôlego.

- O que aconteceu afinal, mestre?

- Nunca consegui descobrir o que havia acontecido neste dia. Durante anos, achei que eu havia caído dentro da piscina sozinho. Mas hoje, finalmente descobri o que houve. Fui empurrado por Pimenta!

- Minha nossa, mestre! Então quer dizer, que o senhor foi jogado na piscina. – Leonardo estava pasmo.

- Sim. Fui literalmente jogado na piscina e sem saber nadar! – Júlio olha para o pequeno Júlio ainda tossindo do lado de fora da piscina, deitado bem próximo a borda.

- Mas e como o senhor saiu de lá?

- Durante anos, também achei que havia saído sozinho dessa. Mas na verdade, tive ajuda, alguém me tirou da piscina. – Júlio disse olhando para o portão da piscina por onde o misterioso aluno havia saído. – Não sei quem era ele. Parecia um aluno mais velho, alguém talvez do colegial.

- Minha nossa. O senhor então foi jogado na piscina, e foi salvo por um misterioso e desconhecido aluno?! – Leonardo parecido espantando

- Aparentemente sim! – Disse Júlio sentando-se ao chão bem próximo ao portão principal da piscina.

Um enorme rapaz voou pelo portão aberto, chegando até pequeno Júlio:

- Você esta bem, rapaz?

- Acho que sim! – Responde pequeno Júlio.

O rapaz tratava-se do professor de educação física. Professor Renato. Um homem alto, barbudo, que usava óculos, meio gordo. Nítido bonachão. Seu apelido era barba, por motivos óbvios. Todos os alunos o adoravam graças ao seu bom humor costumeiro. Piadista nato. As meninas morriam de paixão por ele, e os meninos o admiravam pela experiência com os esportes com bola.

Barba era ex-jogador de vôlei profissional que foi obrigado a abandonar as quadras, graças a um acidente automobilístico, que lhe custou á mobilidade adequada de uma das pernas. Desde então, lecionava aulas e treinos de todos os esportes na escola de Júlio.

- Vou levar você até a enfermaria, a doutora irá te examinar e dizer se esta realmente tudo bem. Vamos lá! – Disse Barba, colocando a mão nas costas do pequeno Júlio e direcionando-o para a saída do portão da piscina.

Barba e Pequeno Júlio atravessaram a quadra coberta, o pátio. Adentraram o prédio principal, pelo térreo. Pequeno Júlio estava pingando. A porta da enfermaria encontrava-se aberta, dentro da sala, doutora Telma estava sentada, ao ver pequeno Júlio ensopado ao lado de Barba levantou-se rapidamente:

- Júlio? O que aconteceu? – Estava visualmente preocupada.

- Doutora! Encontrei esse mocinho deitado na borda da piscina ensopado, pelo visto estava com calor e resolveu nadar de roupa. – Disse Barba sorrindo e passando a mão nos cabelos de pequeno Júlio.

Pequeno Júlio abaixou a cabeça, estava com vergonha. Muita vergonha.

- Obrigada professor. Pode deixar que daqui para frente eu cuido dele. – Disse Telma pegando pequeno Júlio pelo braço.

-Rapazinho, você terá muito que me contar...    

Dragão DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora