New Green
Avonford22 de julho de 1987
Queridos Tessa e Glyn,
Agora nos aproximamos do Festival dos Primeiros Frutos. Seu nome celta é
Lughnasadh que significa "lamento para Lugh" (ou velório), enquanto o nome saxônio, Lammas, significa "a missa do pão". Como Lugh era um nome antigo, que designava o Deus Sol, os dois títulos somam muito do significado deste festival. É um velório e uma celebração. Mas é ainda um nascimento, o delicado início da colheita. O poder do Sol "penetra o milho". Logo será ceifado, e assim renascerá "o Pão da Vida". Nisto podemos ver as razões ocultas para o tempo do sacrifício.
Como expliquei em carta anterior, o sangue em Lammas era realmente derramado em tempos remotos, quando o homem-que-representava-o-Deus era ritualmente sacrificado para assegurar uma boa colheita. Naquela época a essência pura da adoração pagã havia sido corrompida, e o entendimento dos povos tornara-se deturpado. O que causou a corrupção? Historicamente, foi a origem do paternalismo. Filosoficamente, acredito que se relaciona à natureza da vida manifesta. Por certo tudo percorre este começo, o mesmo ciclo de pura semente, seguido do crescimento estabelecido, corrupção e apodrecimento, depois morte e eventual renascimento (muitas vezes de forma mais sábia e integrada).
Voltemos ao Rito de Lammas deste ano, ao Festival dos Primeiros Frutos, e procuremos verificar que atos ou sacrifícios podem aliviar danos ou evitar perda nas plantações.
A Deusa agora dá à luz, e celebramos este nascimento, os frutos nos campos, pomares, jardim e chácaras. Ao mesmo tempo, a força do Deus míngua, morre e renasce. Como qualquer homem na união sexual, sua força é transferida para ela. A semente deixa o corpo masculino e transmite sua energia vital. Ele revive e faz amor de novo, mais cedo ou mais tarde. Mas a energia gasta pode gerar uma criança. A Deusa absorve essa energia, e então nasce um filho. Este é o significado interior de Lammas. Celebramos a energia vital dada pelo
Deus, como também toda a criação que a Deusa traz dentro de si.
Uma bruxa solitária talvez inicie o rito de Lammas cora um passeio pelo campo. Sei
que vocês têm acesso a esses passeios. Para quem não os possui, há parques, quintas, canais e terrenos baldios. Procurem os primeiros frutos da safra. Há amoras negras nos arbustos? Se
estão no campo, como lhes parece o milho? Está dourado e alto ou ainda verde? Como se assemelham às suas vidas? Se vocês planejaram aprender algo em Candlemas, progrediram? Se vocês trabalham, estão satisfeitos com os resultados? Em sua empresa ou profissão, como andam as técnicas? No ciclo de vida deste ano, e em ciclos mais longos, há frutos?
Tragam de volta um fruto da cerca viva e o coloquem sobre o altar.
Na morte de Lammas, imaginem seu círculo e invoquem o Rei e a Rainha. Por meio deles o tempo da colheita retornou. Agradeçam pelos primeiros sinais da colheita na vida e nos campos. Pois as duas coisas andam de mãos dadas, e como podemos frutificar se a Terra está desolada?
Quando se sentirem prontos a gerar poder, dancem no sentido dos ponteiros do relógio ao redor de uma vela apagada, posta dentro do caldeirão, no centro do seu círculo. A cantiga poderia ser assim:Pelo Sol lamentamos enquanto ele míngua.
As plantações permanecem.
Através do crespo milho, a colheita ê nascida,
e que a vida retorne.
Nossa Mãe Terra traz à luz
a vida derramada em calor e brilho.Alternadamente, podem cantar algum poema selvagem e complexo de sua própria autoria. Usem a vara para dirigir poder ao interior da vela. Ao acendê-la, digam: Agora deixe a luz iluminar, e a colheita amadurecer. Pois vivemos da terra, e apenas sua força e frutificação pode nos tornar ricos em saúde e fruição. Que o Sol brilhe em potência, em luz. Que o Sol
derrame as bênçãos sobre a terra. Acendemos esta vela ao Sol.
Vocês devem ter uma tigelinha com óleo vegetal, de girassol ou qualquer outro, mas sempre o de melhor qualidade. Constitui uma oferenda. A tigela será de cerâmica simples ou de madeira. Consagrem o óleo, colocando-o de lado para a magia. Depois passem a tigela
rapidamente pela chama da vela Lammas. Agora sentem-se de pernas cruzadas, perto do caldeirão, mirando fixamente o óleo. Todo óleo possui ligações simbólicas e práticas com o fogo, o calor, chamas, e assim com o Sol. E o Sol dá força e luz à Deusa-Mãe-Terra. Digam em voz alta: Agora que o Sol derrama sua força sobre a Terra, que as plantações podem amadurecer, e que a colheita pode ser imensa, eu também ofereço minha força à Deusa, à Mãe Terra. Trago___ [por exemplo, minha intenção de proteger a Terra de piores danos, onde e quando puder].
Façam uma promessa sincera e soprem-na dentro do óleo. Visualizem a energia que emitem para o cumprimento desse voto. Vejam-no como um rio de ouro levado pelo seu hálito, que então se mistura ao óleo, carregando a corrente mágica de sua oferenda.
Depois andem ao redor do círculo, sempre para a direita, com o óleo até o altar. Toquem-no na pedra ou pentáculo, assim oferecendo-o à Terra. Deixem a tigela sobre o altar e retornem ao caldeirão, sentados em silêncio, até estarem prontos para o próximo passo do ritual. Pensem na promessa; visualizem-na cumprida; e vejam as conseqüências frutificarem. (Após findar o rito, joguem o óleo na terra do jardim.)
Agora retirem do altar a fruta silvestre, representando os primeiros rendimentos da colheita de suas vidas, urna indicação simbólica de esperança. Se for pintor, por exemplo, sua esperança seria a de produzir bons quadros. Se cultivar frutas, então seria literalmente uma colheita farta. Mas Lammas é também uma boa época para pensar sobre qualquer colheita a longo prazo, que se espere conquistar na vida. Vocês estão vendo alguns dos primeiros frutos? Se não, suas esperanças precisam ser reavaliadas. Vocês se subestimam ou à vida? Sirvam o fruto caminhando da esquerda para a direita ao redor do círculo e a seguir sentem-se ao lado do caldeirão. Pensem na colheita e a visualizem. Que qualidades e que criação vocês esperam alcançar? Que "resultados" gostariam de obter na vida? Filhos? Feitiços bem-sucedidos para a cura da Terra? Sabedoria? Amor? A composição de música? Vistos nesta perspectiva, muitos dos problemas humanos revelam-se surpreendentemente irrelevantes. Pois a meditação Lammas mede os anseios diários contra um ideal de longo prazo.
vela.
Peçam em voz alta a colheita desejada, e coloquem o fruto no caldeirão, ao lado da
Há talvez alguma razão para temer que a colheita enfim não se materialize. A maioria
de nós, de certo modo, teme o fracasso. Por exemplo, uma pessoa pode querer pintar, mas não confia em seu talento; ou pode sentir-se culpada, já que a pintura rouba-lhe o tempo que poderia usar, nutrindo outros seres. Peguem o athame na mão direita e com a outra retirem a vela e o castiçal do caldeirão. Delicadamente, inscrevam as palavras (ou figuras simbólicas), expondo seus obstáculos, no dorso da vela. Use a ponta do athame. Não precisam ser perfeitamente gravados. O que conta é a intenção.
Digam: Enquanto a vela queimar e as palavras [ou figuras] desaparecerem, que minha___ [por exemplo, culpa] também se vá. Que se transforme, enquanto a cera se tornar chama, iluminação. Limpem a ponta do athame num pano, para retirar qualquer vestígio de cera.
Agora celebrem a colheita que chegou. Toquem música, dancem ou escrevam poemas, cantem, façam algo ou desenhem um quadro. O que fizerem, deverá ser feito com prazer. Conscientizem-se de que aquilo que executarem com alegria e celebração, dentro do círculo, lhes dará maior criatividade na vida. Enterro e nascimento e pão; estes são os temas do Lammas, mas não é um tempo sombrio. Os primeiros frutos existem para ser degustados e para encorajar a esperança. São um sinal do que acontecerá na Grande Colheita.
A comunhão do Lammas é especialmente sagrada. Peguem um pão de fôrma (de preferência feito em casa, embora qualquer outro, de centeio, também sirva). Este é, ou será, o Pão da Vida, que cresce do sacrifício solar. É, essencialmente, a energia vital do Sol, renascida no pão.
Passem o pão pela chama da vela, depois carreguem-no ao redor do círculo
(caminhando da esquerda para a direita), elevando-o em cada "quarto", e finalmente segurando-o bem alto acima do altar. Façam uma prece de consagração e invocação, algo assim: Agora o Sol se desvanece, o milho será ceifado, o Deus morre. Ele é a própria vida e seu espírito penetra no milho e em todas as plantações e em todas as colheitas. Mudando, ele
renasce, porque a vida nunca morre.
Cortem uma fatia do pão com seu athame. Antes de mastigá-lo, digam:
Eu, sacerdotisa (sacerdote) e Bruxa(o) como do Pão da Vida em benefício de todos os povos, para que todos sejam bem alimentados. Este é o Pão da Imortalidade. Embora tudo deva morrer, sei que por meio deste alimento renasceremos. De momento em momento, de ano em ano, de vida em vida, morremos e renascemos, transformados; não estamos separados nem, finalmente, sós. Pois este, o Pão da Vida, é o Pão da Comunhão.
Guardem o resto do pão para dividir com a família e os amigos.
Agora, consagrem e bebam o vinho.
Quando estiverem prontos, agradeçam à Deusa e ao Deus por terem abençoado o rito e
agradeçam aos Espíritos Guardiães, dizendo, Salve e adeus. Abram o círculo. Vocês são sábios e abençoados. Comam o Pão da Vida com muita alegria.Bênçãos iluminadas. Rae
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A Bruxa Solitária - Rae Beth
SpiritualIntrodução As cartas que se seguem não foram escritas para se tornar um livro. Foram escritas, sim, como lições a aprendizes de feiticeiros -Tessa e Glyn. Depois, me dei conta de que este poderia ser um trabalho de interesse para muitas pessoas...