Capítulo 19

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New Green

Avonford

1.° de janeiro de 1988

Queridos Tessa e Glyn,
Respondo às suas perguntas. Há algo impenetrável no solstício de inverno, uma
transcendência e um mistério. É um momento sem tempo, toda a natureza morre e renasce. É como o início dos tempos, a primeira criação de todos os mundos, os muitos níveis de realidade e existência, tanto manifestos quanto não-manifestos, objetivos e subjetivos. Não posso explicar como acontece; mas o ciclo do ano, que celebramos, é a manifestação da Deusa, do Deus. No Natal, devemos admitir sua transcendência. A Deusa não nasceu, ela nunca morre. Entre os mundos, está eternamente criando. Assim, ela dá à luz novamente os mundos, a cada ciclo de tempo. É isto que celebramos no Natal, o nascimento do Ano-novo. O caldeirão simboliza o mistério. Dentro dele a Deusa transforma o Rei da Noite em Criança de Luz. O caldeirão é tanto o túmulo quanto o útero e é o receptáculo da transformação.
Em Imbolg, a jovem Deusa Noiva e o jovem Deus Solar são filha de Lua e filho do Sol, sobre a Terra. E celebramos o Deus e a nova Deusa imanentes, insertos no Universo. Não são divindades diferentes da Deusa e do Deus transcendentes, assim como vocês não são diferentes de suas ações e de seu comportamento. A criação os revela, assim como a infinitude do espaço exterior revela o infinito dos reinos interiores. Há uma Deusa, três em uma. Há um Deus, Rei do Dia e da Noite. Conhecemo-los em muitos disfarces e por muitos nomes. Estes, e os muitos nomes pelos quais outros conhecem a Deusa ou o Deus, são todos sagrados.
Tessa, você pergunta pelas ervas, incensos e óleos. Há livros especializados sobre o assunto, mas direi alguma coisa, como introdução. Pois você tem razão. O que pode fazer uma bruxa que nada sabe sobre as propriedades mágicas das ervas?
Aprendemos bastante por um simples olhar ao nosso redor. Que flores vicejam em determinada estação? Que cores possuem? Que árvores estão sempre verdes? Muito pode ser observado nos costumes e tradições populares. Por exemplo, as rosas vermelhas constituem o
emblema do amor. O alho é bem conhecido em ligação ao exorcismo. (Poucos sabem que o alho é protetor em viagens sobre a água, como talismã contra o afogamento.)
A mistura de incenso é, em si, um trabalho completo. É possível criar um tipo específico para usar em cada ocasião. Vocês talvez tenham interesse particular neste aspecto
da magia, mas Cole e eu tendemos a queimar o pinho no inverno e a lavanda no verão. Para simplificar, variamos somente se um rito ou feitiço individual pede o uso de incenso especial; se, em outras palavras, queimar incenso é o meio físico pelo qual o feitiço é praticado. Por exemplo, quando purificarem a atmosfera numa sala, o pinho, o zimbro e o cedro constituem boa combinação. (Seria interessante lembrarem-se disto, quando fizerem mudança para uma casa nova.)
Para os trabalhos de transe, devem queimar louro ou losna e absinto. Poderão querer usar erva-cidreira, porque abre os centros psíquicos. Um pouco antes de consultar ou ler as cartas do tarô ou antes de qualquer forma de vaticínio, vocês podem beber chá de alecrim, tomilho ou mil-em-rama, pois estes encorajam percepções nítidas e o desenvolvimento da clarividência.
Estas são formas gentis, inofensivas de receber os benefícios mágicos de ervas e óleo. As histórias de que alguns grupos de bruxas no passado usavam poções de ervas alucinógenas, e que se cobriam de ungüentos, os famosos "ungüentos voadores" que induziam a visões, constituem verdade. Poucos grupos modernos ainda se utilizam de ervas alucinógenas, mas não seria aconselhável o seu uso caseiro sem um conhecimento especializado. O uso da magia de delicados herbáceos, apesar de sua ação mais lenta, é efetivo. Significa menos crença no efeito físico das ervas e mais nas vibrações etéricas e estéticas. A principal ferramenta mágica é então a própria bruxa e sua habilidade de contatar os reinos interiores, e de focalizar e visualizar. Isto se conquista com a prática e a experiência. A mágica das ervas pode ser útil. Penso que a força energética da planta em contato com a psique humana provoca resultados positivos. Mas pode ser perigoso abrir os centros psíquicos de repente, com isso danificando-os. No entanto, a magia das ervas, unindo as vibrações das plantas ao transe e à concentração interior, é forte e poderosa, embora menos dramática, obviamente. É o que recomendo a vocês.
Aqui está uma breve lista de ervas, com algumas de suas qualidades mágicas.
Para curar:
alecrim, eucalipto, menta, tomilho, sândalo.

Para purificar:
pinho, junípero, cedro, lavanda, hissopo.

Para o amor:
rosa, abrótano, mirta, flor-de-noiva, manjericão.

Para a clarividência:
louro, losna, absinto, mil-em

Proteção psíquica:
assafétida (cheiro horrível!), cipreste, olíbano, alho, verbena.

Para boa sorte
urze, azevinho, musgo-da-irlanda, noz-moscada, carvalho.

Óleos essenciais para os mesmos propósitos:

Curar:
alecrim, sândalo.

Purificar:
lavanda, mitra.

Amor:
rosa, jasmin.

Clarividência:
erva-cidreira, açafrão.

Proteção psíquica:
cipreste, olíbano.

Sorte:
flor de maçã, bálsamo de limão (melissa).

As ervas, com ou sem óleos, podem ser queimadas como incenso ou costuradas dentro de sachês ou talismãs de pano. Óleos puros podem ser usados para nos untarmos, ou untar outra
pessoa, ou objeto (por exemplo, uma vela ou vara).
Em cada festival, certas flores ou frutos são apropriados para colocar sobre o altar ou
no solo. Às vezes é difícil encontrá-los, e então devemos procurar alternativas:

Pingos de neve para Imbolg
Narciso-dos-prados para Eostar Pilriteiro em flor para Beltane Rosas para Litha
Frutos de sebe para Lughnasadh Milho para Mabon
Maçãs e nozes para Samhain Azevinho, carvalho e visco no Natal

Estas são algumas das flores e árvores sagradas à Lua: gardênia, jasmim, bálsamo de limão, lírio, salgueirinha e salgueiro. Para o rito da Lua, todas elas são usadas.
Agora, Tessa, cabe a você (e a você, Glyn, se resolver se auto-iniciar no futuro) redescobrir o antigo trabalho das feiticeiras sábias, solitárias e das sebes. Isto significa andar pela senda que o mundo, em geral, mal conhece. É a vereda das flores silvestres, luz de velas e noites estreladas. É também o caminho das rosas de sangue, raízes de rocha. Muito será demandado, mas você conhecerá os mistérios. O cálice de vinho da vida é seu para beber, e o pão da comunhão é seu para comer, mesmo que, às vezes, não haja muito mais à mesa. Sua vida se tornará uma busca na qual todo tipo de experiência tem significado.

Que as bênçãos da Deusa Tripla e do Deus Cornífero estejam juntos a cada passo que vocês derem.u Rae

A Bruxa Solitária - Rae BethOnde histórias criam vida. Descubra agora