New Green
Avonford
26 de agosto de 1987
Queridos Tessa e Glyn,
Estes ritos que lhes exponho são idéias e sugestões, nada mais. Uma vez tendo
entendido os princípios básicos de qualquer ritual, vocês podem criar os seus próprios. Na bruxaria não há dogmas, nenhuma liturgia fixa. Em vez disso, há tradições. Depois de as compreenderem, podem executar seus ritos como quiserem. O trabalho viverá por meio de vocês, por meio daquilo que trouxerem a ele. E estas são as tradições, os temas eternos, que desejo comunicar. Irão encontrá-los também em referências de outros escritores e às vezes na mitologia e no folclore. Portanto, leiam muito e aprendam tudo que puderem sobre a bruxaria e o paganismo. Aprendam também as disciplinas que se relacionam, como o vaticínio, a mediunidade trabalhada, a filosofia natural, a magia das ervas, as propriedades das plantas e das árvores, o conjunto de tradições dos camponeses.
Assim desenvolverão seus próprios sentimentos sobre, por exemplo, a celebração do equinócio da primavera. Com o tempo, terão seu próprio estilo. Esta é a força da bruxaria. Suas raízes se encontram nas mais antigas religiões e são sempre recriadas pelas bruxas, a cada vez que a feitiçaria é praticada.
As bruxas das escolas gardneriana e alexandrina (isto é, as seguidoras modernas da bruxaria britânica) possuem formas fixas e definitivas para muitos de seus ritos. Porém, a estrutura e a definição nem sempre são finais, a ponto de não permitirem uma improvisação criativa ou alterações. Assim é que deve ser, pois uma religião cristalizada morreria; as mudanças é que abrem espaços para o novo.
Estes ritos formais baseiam-se em informações expandidas e desenvolvidas por Gerald Gardner, o precursor da primeira onda de revitalização do paganismo. Seguindo a rescisão do Ato de Bruxaria, em 1951, ele tornou públicos certos antigos ensinamentos que acabaram por ser a base da feitiçaria atual.
As bruxas alexandrinas trabalham à maneira do casal Alex e Maxine Sanders, que se
baseia no ritual gardneriano, mas com emendas. As crenças e os ritos alexandrinos foram largamente descritos pelos autores pagãos Janet e Stewart Farrar. Seus livros e os de Gerald Gardner, e de sua pitonisa original Doreen Valiente, que escreveu ou adaptou muitas passagens na obra final de Gardner, o Livro de Sombras, produzindo um conjunto coerente e
sólido, fornecem uma introdução compreensiva aos ideais e práticas de "Wicca" (bruxaria moderna). Todos merecem ser lidos por qualquer aprendiz, apesar de ensinarem mais a respeito da estrutura do ritual para grupos.
Os rituais e ensinamentos gardnerianos são autenticamente tradicionais. Os temas básicos foram passados a Gardner pelo grupo New Forest que o iniciou. Mas não existe uma escrita sagrada ou lei na bruxaria. O mundo pagão deve imensas obrigações a Gardner e a Doreen Valiente pela riqueza e inspiração do seu Livro de Sombras, e pelo sentimento de herança que dá a todas as bruxas, mesmo àquelas que, como nós, se inspiram nos ensinamentos, mas trabalham de outra maneira. Entretanto, esta não é a última palavra.
Há muitas escolas de bruxaria, muitas formas organizadas de ensino, atualmente disponíveis. Os seguidores de cada uma, no passado, ficariam felizes ante a afirmação de que o seu mundo era o melhor, ou mesmo a Única Verdade para formar uma bruxa real. Algumas até hoje pensam assim. Não lhes dêem ouvidos.
Abençoados sejam na sua busca da sabedoria. Que os conduza ao conhecimento de vocês mesmos.
Acaso vocês estariam intrigados sobre minha história, sobre como me tornei bruxa? Como fui iniciada, e por quem? E se auto-iniciada, por sugestão e pelos ensinamentos de quais pessoas?
Bem, fui associada a um grupo alexandrino, apesar de não totalmente iniciada por ele. Nunca procurei qualquer grupo permanente, nem queria procurar. Os alexandrinos que conheci eram bondosos e informativos, mas senti que diferiam do meu modo de ser. Não era o que desejava, quando, primeiramente me dei conta de que iria me tornar uma bruxa. Sob os conselhos e com a ajuda de um alto sacerdote gardneriano, um amigo, desliguei-me de todos e voltei ao caminho da auto-iniciação, que havia originalmente escolhido. Desde então, muitos me ajudaram com seus livros ou por meio de diálogos. O trabalho de Marian Green, professora de bruxaria campestre, sempre me influenciou bastante. Assim como os livros de Starhawk. E também as crenças e a ficção oculta do meu companheiro de vida, Cole. E depois Rowena, sacerdotisa gardneriana, cujas aspirações e direção de vida retiraram-na de um grupo e dela fizeram uma sábia solitária. Suas palavras seguidamente me auxiliam a clarear meu próprio caminho. Na tecedura de todas essas experiências, e levando ou identificando o
próximo fio, sempre tem havido inspiração interior.
Hoje parece vulgar dizer "fui guiada" para tal ou qual pessoa, para essa idéia, aquele
livro. No entanto, é o que aconteceu. Sem os contatos interiores, todas as idéias são áridos conceitos intelectuais sem uma ressonância real para a pessoa que os encontra. E como toda
bruxa de verdade declara, é a experiência interior, o acesso à realidade psíquica, atrás dos conceitos e das observâncias ritualísticas, que faz a feiticeira.
Então, se vocês querem ser feiticeiras (os), desenvolverão estes contatos. O auxílio de outras pessoas será benéfico.
Para aqueles que já trilharam este caminho, não será difícil alcançar os reinos interiores.Sábios e abençoados sejam vocês. Rae
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A Bruxa Solitária - Rae Beth
EspiritualIntrodução As cartas que se seguem não foram escritas para se tornar um livro. Foram escritas, sim, como lições a aprendizes de feiticeiros -Tessa e Glyn. Depois, me dei conta de que este poderia ser um trabalho de interesse para muitas pessoas...