New Green
Avonford
3 de julho de 1987
Queridos Tessa e Glyn,
Vou responder à pergunta de Glyn: "Por que a feitiçaria deve acontecer formalmente,
dentro de um círculo? Não poderíamos venerar e trabalhar a magia em qualquer lugar onde estivermos?"
A resposta é curta: Nós geralmente trabalhamos dentro de um espaço definido, protegido, sagrado, porque é mais fácil. A consciência enaltecida necessária à comunhão e o lançamento de feitiços são mais facilmente atingidos "entre dois mundos". A Deusa e o Deus estão ao redor de nós para que possamos comungar com eles, é verdade. Mais especialmente junto à natureza, em bosques ou jardins, ou campos ou cercas de sebes, em toda parte. Mas a consciência mágica, que alcançamos dentro do círculo, não pode ser vivida em cada momento mundano. Seria a tentativa de compor música ao lado de uma britadeira pneumática; pode ser muito difícil atingir a clareza e a visão interior necessárias para uma invocação, na atmosfera psíquica do mundo comum atual. O círculo propicia a existência de um clima diferente, mais sagrado, e a criação de poderes mágicos.
Tendo falado que a bruxaria não pode ser facilmente praticada em qualquer lugar ou em todos os lugares, e tendo explicado o porquê, digo que mesmo assim muitas pessoas o fazem e inclusive você pode fazer. Se um amigo foi recém-internado num hospital, e você foi avisado de que haverá uma operação de emergência, não espere pela próxima fase propícia da Lua, nem queira obter um círculo cheio. Você vai lançar seu feitiço para curar, onde estiver. É assim que se faz.
Sente-se no lugar mais silencioso e confortável que encontrar e feche os olhos. Agora trate de se visualizar cercado por uma esfera de luz azul. Não esqueça que, não importa o que imaginar, há realmente uma verdadeira existência astral e está nos planos interiores. Convoque os Espíritos Guardiães das quatro estações para ajudarem e protegerem. Crie a oferenda apropriada, enquanto invoca a proteção de cada um, para que seja cercado não
apenas de luz azul, mas também pelo incenso a leste, uma vela ao sul, uma bacia d'água a oeste e um pentáculo ou travessa com terra ao norte. Não precisa se preocupar imaginando que as coisas possam desaparecer; elas permanecerão o tempo que você quiser, como também os Espíritos Guardiães; exatamente como as partes da sala atrás de você continuam a existir,
mesmo quando não estiver olhando. Agora você está "entre os mundos", num leve estado mediúnico. Passe o tempo que quiser, não se apresse. Você se interiorizou no mundo astral; por baixo, por dentro e através. Aqui há infinitas possibilidades, distâncias incomensuráveis, como no espaço externo, no universo. Dentro deste reino, você definiu um espaço. Invoque a presença da Deusa e do Deus, como se houvesse, formalmente, lançado o círculo. Peça sua assistência. Exponha a eles sua intenção mágica. Na profundidade de si mesmo, encontre a linguagem, que não precisa ser especial. Simplesmente ofereça seus pensamentos e sentimentos. Coloque o resultado de sua magia nas mãos dos Deuses.
Agora abra os olhos e lance o feitiço. Pode ser que você queira acender uma vela para a cura do amigo. Primeiro, consagre a vela. Ao acendê-la, diga: Enquanto esta chama queimar, que a chama vital queime iluminada em_______ [o nome do amigo] carregando-o durante o tempo do perigo. Ao baixar a chama da vela, assim se eleve a sua vitalidade. Quanto mais tempo queimar, mais curado ele ficará, pelo poder dos Espíritos Guardiães e em nome da Deusa Tripla e de seu consorte, Rei do Dia e da Noite. O dito acima é apenas um exemplo das palavras que acompanham um feitiço para curar, por meio de uma simples vela. Na verdade, você vai descobrir que sabe como dizer na hora, e que raramente usará a mesma fórmula mais de uma vez.
Poderá em seguida consagrar um pequeno vidro com essência de lavanda ou sândalo, ambos óleos curativos, para ser dado como presente mágico em favor da cura completa. Os feitiços também acontecem de improviso, e não necessariamente para efeito de curar. E você pode usar qualquer material à mão. Uma vez, quando visitava um lugarejo, comprei uns belos cartões e os consagrei, numa lanchonete, à magia. Era tudo que possuía de meios físicos e veículos transmissores para o meu feitiço. Na parte frontal do cartão havia o retrato de uma casa. O feitiço visava obter nossa casa nova. Postei, endereçado para mim mesma e para Cole. Logo meu desejo foi bem-sucedido.
Antes de retornar ao mundo, o mundo exterior, você deve cerrar os olhos novamente. Agradeça à Deusa, ao Deus e aos Espíritos Guardiães, como se acabasse um rito formal dentro do círculo. Deixe permanecer a esfera azul de luz ao seu redor e visualize um pentáculo protetor, um pouco acima de sua cabeça, para ficar ali o tempo que possa precisar. Agora abra os olhos e pratique seus outros trabalhos.
Uma vez presenciei um feitiço lançado com finalidade curativa, num pub cheio de gente. Usou-se papel de uma caderneta comum, uma caneta Bic vermelha, fósforos e um cinzeiro simples, daqueles de bar. O nome da amiga e o nome da doença estavam escritos em vermelho, e o papel queimou no cinzeiro, com a afirmação de que, enquanto queimava, a
doença desaparecia. A amiga ainda está saudável, após oito anos.
A bruxaria pode ser praticada em qualquer lugar, e, no caso citado, o bruxo que lançou
o feitiço era experiente. Suas habilidades de concentração, visualização, invocação e enfoque eram bem atiladas e desenvolvidas e, sem dúvida, assim se tornaram depois de muitos anos de prática, dentro do círculo, e de profundos estados mediúnicos em ambientes silenciosos.
Não aconselho a lançar feitiços em lugares populosos, pelo menos no início. Tal magia pode não dar certo, se trabalharem dentro de atmosferas desarmoniosas, pode lhes faltar uma percepção adequada sobre como praticar ou mesmo se um feitiço deve ser praticado. E seu equilíbrio psíquico pode ficar perturbado. Usem discrição e humildade. Na verdade, os feitiços em pubs e lugares semelhantes, praticados de maneiras simples, são para os mais experientes. Vocês podem queimar os dedos de diversos modos!
É um fato estranho da vida que, na magia, quanto menos experientes formos, mais parafernália vamos precisar para obter os efeitos desejados. Mesmo os mais hábeis trabalham melhor com ferramentas e equipamentos especializados — athame (faca), robe, vara, caldeirão e assim por diante. Estas coisas têm uma beleza e um significado simbólico antigo. Também ficam altamente carregados de poder e representação após muito uso; portanto, apenas um toque já é meio caminho andado "entre os mundos".
Às vezes, é preciso toda a nossa humildade para admitir o quanto necessitamos dessas ferramentas, um rito formal, um espaço certo, um lugar sagrado. Mas é assim no mundo em que vivemos.Iluminados e abençoados sejam. Rae
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A Bruxa Solitária - Rae Beth
SpiritüelIntrodução As cartas que se seguem não foram escritas para se tornar um livro. Foram escritas, sim, como lições a aprendizes de feiticeiros -Tessa e Glyn. Depois, me dei conta de que este poderia ser um trabalho de interesse para muitas pessoas...