Ladywell
Hillsbury5 de maio de 1988
Querida Tessa,
Minha última carta me conduziu à questão da ética. Até que ponto você pode entrar
em transe sobre questões da vida alheia?
Esta é uma área em que precisamos exercer honestidade absoluta e o maior cuidado.
Tendo declarado essas palavras sérias e plenas de implicações, devo dizer que há um lado cômico em um transe, que envolve outros entes encarnados. Por exemplo, quando o nosso cão late à noite porque escutou o silencioso caminhar de um gato. Cole muitas vezes se projeta psiquicamente ao andar inferior e o xinga. Ele simplesmente visualiza que está em pé ao lado do animal, gritando: "Pare de latir, Happy!", e isso resolve. O cão sempre pára. Isto nos causa muito divertimento ao imaginarmos como o cão deve ficar intrigado com o instantâneo aparecimento da presença de Cole.
O mesmo artifício pode ser empregado com pessoas. Mensagens de amor, conforto, amparo ou pedidos para contatos são possibilidades, e sempre benéficas. Uma declaração expressando um ponto de vista para o propósito de comunicação também funciona. Serve ainda para expor sentimentos em estado de tensão — por exemplo: "Me deixe em paz!" Mas, e quanto à questão de implantar pensamentos ou emitir comandos, porque você decidiu que é para o bem de outra pessoa? Ou porque acredita que pode se beneficiar pelo controle dos atos dela? Enfim, para resumir, isto é comparável à magia negra. A implantação sugerida na mente de alguém, uma sugestão ou um pensamento que você pretende que outros percebam como deles, é o equivalente psíquico de uma propaganda subliminar. A visualização de uma pessoa se comportando ou agindo em seu benefício, mas com quem nunca dialogou na vida, nem sabe se é o que deseja, é o equivalente a coerção.
Devo acrescentar, sobre o assunto, que falei com várias pessoas, em anos de contato, sobre o psiquismo. E, acredito, técnicas "subliminares" e "coercivas" são usadas freqüentemente, em muitas situações. Nenhuma das pessoas que me informaram a respeito era
bruxa ou ocultista de qualquer espécie. Esta é uma das razões por que acredito na importância de discutir abertamente sobre as perícias psíquicas. Pois hoje uma bruxa ou qualquer outra pessoa com conhecimentos e experiências psíquicas reais sabe quanto mal essa prática pode causar (e como está sujeita à lei do retorno), mas um ser comum não saberia. Também não
teria a intuição de que tal poder foi praticado. Uma bruxa, ao contrário, intui, sente e pode se livrar do mal. Penso que muito sofrimento poderia ser evitado se essas coisas fossem desmistificadas, identificadas, se o nosso conhecimento fosse partilhado. Pois nada mais é necessário do que a consciência de que tais coisas podem acontecer, tão facilmente quanto as pragas e manipulações verbais. E a mesma resposta é apropriada em ambos os casos, um desafio e um repúdio. Não acredito que tal consciência deva levar a atitudes demasiadamente defensivas ou a paranóias, mais do que estas emoções são provocadas, em relações sociais comuns, por meio do conhecimento de que certas pessoas não merecem confiança. Não merecem. E isto é um fato comprovado. Entretanto, você deve manter sua mente em alerta. E o mesmo acontece com os inter-relacionamentos psíquicos e constantes entre as pessoas no dia-a-dia.
Se existem regras, uma delas deve ser: "Nunca projete um pensamento em alguém sem a sua identificação psíquica." (Você pode surgir diante de uma pessoa, quando em transe, ou pode projetar mensagens pensadas, tais como: "É Tessa quem lhe fala.") Então a mente dela pode identificá-la como fonte do recado psíquico. Outra regra importante é que você nunca deve dizer ou praticar algo em transe, que não esteja preparada para dizer ou praticar fisicamente. Portanto, por que não usar o telefone ou fazer uma visita? Na maioria dos casos, é o modo certo. Porém, há exceções e certamente você as encontrará. Por exemplo, a outra pessoa pode estar doente; sem telefone; não se convence por palavras, ou precisa de ajuda tanto verbal quanto em níveis psíquicos.
Não esqueça dos códigos de segurança psíquica quando enviar mensagens. Cerque-se da esfera azul, coloque-se sob a proteção dos Espíritos Guardiães e só aí projete-se na outra pessoa ou chame-a para você. Então fale o que for preciso. Volte e agradeça aos Espíritos Guardiães. Depois desenhe a luz azul debruada de ouro ao redor de seu corpo.
Como você já deve ter percebido, esta técnica de sugestão psíquica é muitas vezes usada para seduzir, e por pessoas que nada sabem (conscientemente) sobre magia. Se alguma vez suspeitar que esteja sendo praticada em você, e por alguém que não lhe agrada, pode dizer firmemente à pessoa (em transe) que você não se interessa. Se ela persistir, você pode cortar todos os fios psíquicos entre ambos. Aponte seu athame e demande que os fios que os unem (pode ser uma obrigação social, uma intimação, sentimento de pena, confusão ou algo a ver
com finanças, entre outros fatores), agora, se tornem visíveis. Então, usando o seu athame, corte os fios com um golpe só. Isto muitas vezes pode acabar com o contato físico, e, depois, com as relações psíquicas. Mas raramente é necessário tomar tais medidas extremas. Estou falando aqui sobre a determinação voluntária de manipular alguém
psiquicamente, a fim de conseguir o que quer. Não falo sobre as imagens espontâneas dos seres amados ou mesmo a projeção singela dos sentimentos a respeito deles. Tudo isto faz parte do amor. Mas uma coisa é declarar o amor e o desejo psiquicamente, e outra é pressionar ou invadir deliberadamente um relacionamento real. Suponho que você diria que uma grande parte de tudo isto se atribui às boas ou más maneiras psíquicas. São realmente semelhantes às boas maneiras da vida física. (Quanto mais experiente se tornar uma bruxa, mais consciência terá de quem as possui e quem não as possui.)
Bem, não sei se alguém está enamorado de você neste momento, Tessa. Mas sei que você não está enamorada e gostaria de estar. Você pediu um transe de amor, para melhorar as chances de conhecer alguém com quem possa partilhar a felicidade. Aqui vai um método.
Após a entrada usual no transe, chame o seu guia familiar e peça-lhe que a leve à Velha Sábia. Você descerá através da caverna pela passagem, e então caminhará ao lugar na praia onde a encontrou da última vez.
Pergunte: O que posso fazer para encontrar meu companheiro certo, aquele que eu possa amar e que me amará, para o encantamento de nossas vidas?
A Velha talvez retire de você alguns elos e cordões que a estão amarrando a um relacionamento gasto, algo que a prende e que está obstruindo a possibilidade de um novo amor. Ela pode pedir que você mude algumas coisas na sua vida, sugerindo que abandone os antigos padrões.
Você acha estranho pedir à Velha Sábia para orientá-la sobre o amor? Mas quem possui maior experiência? E quem é mais casamenteira? Escute cuidadosamente tudo que ela tem a dizer, qualquer conselho positivo sobre lugares a que deva ir ou sobre novos relacionamentos.
Pouco a pouco, ela vai encaminhá-la à Jovem, que, sem dúvida, lhe indagará o que você deseja de uma união amorosa. O que lhe serve? Quais são seus reais anseios? O que você pode oferecer? A Velha é a figura da avó. Ela já viu tudo. Mas a Jovem é como uma sábia e simpática amiga ou irmã. Ela perguntará coisas astutas, pois quer proteger a sua integridade, para ter certeza de que o relacionamento não vai pôr em perigo sua liberdade básica de ser você mesma. Somente se esse requisito for preenchido dará sua bênção.
Depois a Mãe fará outro tipo de indagação. A que você dedica a força criativa, a força
vital, do seu amor? Você quer a união para dar à luz uma criança, ou trabalhar em comum, ou para um relacionamento baseado em magia natural? Um trabalho espiritual conjunto? Você deve responder honestamente, como respondeu a todas as outras perguntas. Depois chegará o momento em que a certeza de seus desejos atinge o ápice, e você saberá o que precisa e o que
está preparada para receber. A Mãe lhe oferecerá algum sinal ou símbolo. Verifique-o com o athame, certificando-se de que representa o tipo de relacionamento que você pede. Se aceitar, está comprometida. A Deusa assegurará que seu caminho se cruzará com o companheiro certo, isto é, aquele com quem pode atingir a maior felicidade possível para ambos, em termos do seu destino. Pode não ser o verdadeiro "companheiro de alma", porque ele, possivelmente, não está nesse momento encarnado. Quem sabe as suas circunstâncias, ou as dele, estabeleçam que nesta vida nunca poderão se encontrar.
Você pode perguntar sobre isto. Talvez não obtenha uma resposta clara, pois é uma indagação difícil. Mas se for o caso, ela vai lhe indagar se aceita uma união de amor com outra pessoa (para esta vida). Tais casamentos são, de fato, bastante usuais. O companheirismo de uma vida inteira (com a alma gêmea) é bem raro. Mas isto não quer dizer que outros relacionamentos sejam de qualidade inferior. Podem até revelar coisas que não se aprendeu com a verdadeira "alma gêmea". Isto é um pouco como viajar, em vez de ficar em casa a vida toda.
Não falei algo a respeito antes, na carta que mandei sobre os casamentos entre bruxa e bruxo? Não faz mal. Merece ser repetido.
Às vezes, o transe pode indicar que um ritual deve se seguir. Pode ser informal, por exemplo, uma peregrinação ou uso de certas cores associadas ao amor. Ou formal, um ritual completo, no círculo, especialmente desenhado e talhado para este propósito. Vou explicar como são criados os rituais para este fim ou o outro numa carta futura.
Boa sorte no transe de amor.E receba minha bênção. Rae
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A Bruxa Solitária - Rae Beth
SpiritualIntrodução As cartas que se seguem não foram escritas para se tornar um livro. Foram escritas, sim, como lições a aprendizes de feiticeiros -Tessa e Glyn. Depois, me dei conta de que este poderia ser um trabalho de interesse para muitas pessoas...