Capítulo 2 (Pt. 1)

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"O senhor está me ouvindo?" Perguntou Victor, o assistente eletrônico de Alex.

"Alto e claro", Alex respondeu.

Dois dias e meio depois, Alex ainda tentava a se acostumar com a voz do ajudante que emanava dos alto-falantes em sua casa e em seu fone quando se aventurava em Eridu, a cidade compacta de Broumgard localizada nas montanhas do estado de Montana.

Seu final de semana passou num misto de choque e admiração. Desembarcando de um jato particular em um aeroporto particular de uma cidade particular e experimentando o máximo do luxo: fazendo um tour em um altíssimo hotel de vidro abarrotado com cortesias, viajando em um trem magnético, visitando parques de diversão e trilhas, mudando-se para um dos prédios residenciais adequado para estar nas regiões mais nobres de Nova Iorque. Foi como entrar em um plano-de-fundo futurístico para 'o Escolhido'.

O apartamento de dois andares e 6.000m² de Alex sobrepôs-se a qualquer expectativa. A começar pelo casaco de couro original do filme Matrix protegido por um vidro e exposto na sala de estar. Seu vizinho do terraço morava sozinho e trabalhava como engenheiro biomédico. Só isto já bastaria. Descobrir que Brad Finder ajudou a fundar Broumgard e projetar seu oásis escondido amplificou o sentimento de grandeza para Alex.

Saindo do Prédio A, a estrutura mais a Leste, ele observou detalhadamente o complexo high-tech que se alongava por aproximadamente 3km de ponta a ponta. O sol da manhã perseguia as sombras da longa estrada vazia enquanto se erguia em suas costas. Sua respiração ainda estava presa devido à geada matinal, fazendo com que ele agradecesse ter usado uma camisa de flanela verde sobre sua camiseta marrom com um dragão. Antes de aproximar-se, ele esperou algumas pessoas entrarem na torre cilíndrica do trem elétrico, um brilhante edifício cromado que se assemelhava a uma espaçonave recém-polida e pronta para o lançamento.

Sentindo-se estrangulado pela crescente angústia, ele ignorou o elevador, escolheu os lances de escada que ziguezagueavam e atacou-os dois degraus por vez.

Próximo ao topo ele ouviu vozes e desacelerou, tentando não parecer aquele cara que chega correndo no primeiro dia de trabalho, apesar da veracidade deste fato.

Um aperto envolveu seu estômago assim que caminhou para o pátio. Teria sido ele o último a chegar? Grupos de funcionários aguardavam na área de embarque parcialmente aberta. Um grupo vestindo camisas brancas e calças pretas como garçons; uma porção desarranjada de maltrapilhos os quais ele acreditou serem os programadores; dois homens e uma mulher em trajes finos; alguns trajando jalecos de laboratório; outros com roupas de hospital. Subitamente tenso, ele reparou em uma mulher em trajes hospitalares azul-claros.

Ela aguardava de braços cruzados entre os programadores e os médicos. Lentamente o mundo ao redor dela perdeu o foco.

Seus cabelos negros na altura dos ombros estavam presos. Suas roupas folgadas acentuavam um quadril delineado e seios fartos. Seu casual semblante matinal tornou-se vivo, como se um pensamento profundo houvesse surgido. Ela virou em direção a Alex e encontrou seu olhar.

Pego à espreita, ele pressionou seus lábios, trouxe sua mão ao nível do peito e acenou.

Após uma leve elevação de sua mão ela desviou o olhar, mas Alex acreditara que havia despertado sua curiosidade.

Pouco tempo depois, funcionários embarcaram no trem. Ela aumentou sua suspeita ao olhar para ele mais uma vez antes de entrar no vagão à frente do dele. Ele considerou correr para alcançá-la, mas ao perceber que estava sozinho na estação, correu para o vagão do fundo.

Espaçosas cabines cor de sangue alinhavam-se no seu interior. Uma televisão entre as janelas mostrava as notícias da manhã, apresentando outro surto de gripe aviária, a qual cientistas acreditavam que em breve sofreria uma mutação e dizimaria a raça humana. Ele desejou poder desligá-la, mas uma proteção de acrílico o impedia de acessar os controles.

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