Capítulo 2 (Pt. 3)

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Tara ergueu a voz, "Todos quietos por favor."

O rapaz ruivo parou abruptamente, pulou da cadeira e sentou-se.

A voz de Tara transformou tão efetivamente a bagunçada sala em um estado de ordem que Alex duvidou que um coreógrafo com um mês de treinos pudesse fazer o mesmo tão rapidamente.

"Este é Alex Cutler. Ele irá liderar vocês nômades assim que completar o período de orientação. Se alguém tiver qualquer pergunta antes de sairmos, a hora é agora.

Alex ergueu sua mão e observou que outra pessoa - um homem magro e albino com cabelos brancos, olhos avermelhados e grandes sardas - estava fazendo o mesmo.

Tara suspirou. "Alguém que já esteja trabalhando aqui por mais do que alguns dias tem alguma pergunta?" Ela olhou jocosamente para Alex até que ele abaixasse seu braço. "Como vocês dois podem ver, somente hoje, todos estarão usando etiquetas identificadoras, então aprendam os nomes enquanto podem."

A etiqueta do outro novato lia 'Carl W'. O homem-fantasma não parecia ter idade suficiente para comprar bebida alcoólica. Seus fartos lábios e amplas narinas revelavam feições africanas. Existiriam africanos albinos? De qualquer forma, o olhar perdido de Carl trouxe conforto para Alex, por ser pior que o seu.

"OK, pessoal. Vamos para os elevadores," Tara anunciou.

Como se um sinal de escola houvesse soado, a conversa prosseguiu e todos se ergueram. Alguns funcionários se reuniram ao redor de Alex, inspecionando-o.

"Em que posição você quer jogar?" Kole perguntou. Seu porte era parecido com o de Alex. Entretanto, em uma sociedade que demandava perfeição, a mínima diferença de tamanho na testa, os dois milímetros a mais no tamanho dos olhos e um nariz levemente maior dariam uma nota 9 a Kole enquanto Alex permaneceria com um 7.

Alex deu de ombros. Ele jogaria em qualquer posição assim que aprendesse os comandos.

"Que tal assim," Kole disse, "você é fominha ou joga pelo time?"

Alex respondeu honestamente. "Jogo pelo time."

"Isto é bom. Nós temos muitos fominhas neste time," Denise, uma mulher negra de 1,80m e forte como uma escavadeira disse. As contas plásticas presas nas pontas do seu cabelo chacoalhavam contra seus ombros enquanto ela se movia. A letra 'e' no fim do seu nome se estendia e corria ao redor de sua etiqueta formando uma borda, completa com folhas e espinhos.

"Se precisar de algo," ela posicionou sua mão de modo sedutor no antebraço de Alex, "qualquer coisa que seja, pode vir até mim." Ela percorreu seus dedos pelo braço dele enquanto virou-se para sair. Assim que estava próxima da porta, ela deu um high five em outra colega antes de ir embora.

Kole cutucou o ombro de Alex. "O que vai ser então, chapa? Ataque ou defesa?"

"Eu não jogo futebol americano desde que tinha 8 anos," ele disse embriagado enquanto se recuperava da investida. "Mas eu me garanto jogando Madden"

O oriental ruivo pulou em uma das cadeiras flexionando os braços de diversas formas. "Eu destruo a defesa deles!"

Sua performance garantiu diversas risadas, aplausos e incentivos dos programadores que estavam de saída.

"O problema é," Kole disse, chamando a atenção de Alex, "isto não será no vídeo game. É futebol americano com contato direto sem nenhuma restrição."

"Bem, espero que os guardas joguem de mentirinha," Alex disse com um sorriso amarelo.

"Eu jogo como Left Tackle," uma elegante jovem mulher disse enquanto passava por eles, "então nem pense em jogar ali."

Uma mulher que pesa 60kg jogando como Left Tackle?

Se não fossem jogar vídeo game, talvez eles usariam trajes robóticos e seria então jogado um futebol americano futurístico onde a gravidade não teria efeito e os movimentos seriam amplificados por propulsores. Contatos em alta velocidade criariam sons elétricos tão barulhentos quanto colisões automobilísticas. Caso estivesse correto, a tecnologia deveria ser segura o suficiente para todos os participantes, mas Alex preferia passar. Bem, provavelmente ele gostaria de desistir, mas entraria no jogo e passaria a partida toda desconfortável, desejando ter coragem suficiente para declinar a oferta.

Os dois novatos, Alex e Carl, foram os últimos a entrar no turbulento salão. Uma reunião de mais de duas dúzias de seguranças e programadores misturava-se, todos gritando e provocando uns aos outros.

"Carl, Alex, fiquem próximos do grupo," Tara disse. "Eles vão levá-los onde precisarem ir." Ela confirmou que ambos a ouviram e então recortou por entre a multidão até a frente.

A maioria dos seguranças estavam vestidos com uniformes cinzas parecidos com policiais, enquanto alguns usavam uniformes de futebol americano. A disputa entre os grupos entrou em ebulição - um confronto entre baixos e tenores.

O comportamento confiante dos programadores pouco ajudou para acalmar Carl, que manteve um grunhido de perplexidade enquanto caminhavam pelo corredor. Alex sabia que eles estavam indo em direção à uma disputa de Xbox ou algo como naquele filme 'Os Substitutos', onde você controlava um avatar.

Isto realmente seria sensacional.

Alex seguia um homem negro de quase dois metros de altura no qual uma camisa XXXXL da Universidade de Michigan parecia ter sido feita de tecido elástico. Seus bíceps eram tão grandes que somente um deles já era do tamanho de ambas as coxas de Alex. Como se houvesse sentido os olhares, ele virou para encará-lo. Seu sorriso parecia bastante normal.

O gigante apontou para sua etiqueta de identificação para conseguir se comunicar através do tumulto: 'Dalton'.

Alex procurou em si mesmo sua identificação, destinado a apontar também, mas Dalton acenou para que não se incomodasse, demonstrando não-verbalmente que sabia tudo sobre Alex Cutler. Ele mostrou dois polegares para cima e continuou a caminhar.

Os funcionários reuniram-se ao redor de elevadores prateados decorados com marfim. Quanto mais tempo ele passava vagando por entre os animados combatentes, mais sua tensão diminuía. Independentemente do local de destino, todos pareciam ansiosos em chegar lá.

O elevador abriu pela terceira vez e ele adentrou ao final da fila.

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