Capítulo 6 (Pt. 2)

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O dobro do que era esperado de pessoas enchia seu escritório. Todos os programadores normais, além de uma dúzia de homens e mulheres trajando roupas sociais salpicando a parede do fundo. O coração de Alex disparou. Seria isto uma emboscada?

Dr. Brad Finder estava à frente junto de Rigo Espinosa. Quatro homens em jalecos, que pareciam ter deslocado tempo de suas agendas para estarem ali, amontoavam-se em cima de um tablet. Por fim, Adisah Boomul, em carne e osso, aguardava junto de Tara perto da bancada principal.

Adisah havia ganhado alguns quilos desde a gravação do vídeo de orientação e já se podiam ver alguns fios grisalhos. A idade suavizou sua feição, fazendo com que aquele homem gentil agora parecesse um monge, o qual entoava suas devoções à vida diariamente.

A sala ressoava enérgica. Apesar de sentir-se positivo, Alex mordia o lábio inferior enquanto permanecia na entrada do escritório.

Como que sentindo sua presença, Adisah e Tara viraram em uníssono.

"Ah, Sr. Cutler," Adisah sorriu, "que maravilha finalmente conhecê-lo! Por favor," ele convidou-o a se aproximar.

Todos viraram em sua direção. Alex engoliu em seco e navegou por entre as mesas ocupadas.

Relembrar de si mesmo pulando na ponta dos pés sendo uma máquina orgânica de 1,90m e perceber que aquele homem era o responsável por esta experiência abalou-o como um golpe num gongo, nublando seus pensamentos.

"Você possui um verdadeiro dom, sabia disso?" Adisah disse balançando a cabeça. "É de se pensar onde nós estaríamos se tivéssemos alguém como você vinte anos atrás."

Alex não conseguia responder. O comentário foi como se o seu autor de livros favorito dissesse que você tem uma ótima imaginação, ou se um grande ator ou atriz ficasse maravilhado com seu talento para atuar. Por fim, ele conseguiu dizer, "Bem, agora eu estou aqui, senhor."

Ele abanou as mãos contrariado com a formalidade e virou para a sala.

"Alguém se importa de dizer ao Alex o que faz dele e deste dia fatores tão especiais para nós?"

O som penetrante de um aparelho eletrônico chamou a atenção de Alex. Um senhor idoso que ele imediatamente reconheceu como o sócio majoritário, Roy Guillen, rapidamente dirigiu seu carrinho elétrico para perto dele. Ele assentia com apreço em direção a Alex enquanto seu colega, vestido em um terno de veludo, estava de pé logo atrás dele.

Alex andou procurando informações sobre este homem a semana toda. Além de ser um grande magnata de hotéis, Roy Guillen já havia escalado o Monte Kilimanjaro (onde perdeu um colega por exposição ao frio), mergulhado nos coloridos recifes de coral da costa da Tailândia e passado um ano auxiliando vítimas em Tohoku no Japão após uma tsunami matar 15.000 pessoas. Por ter experimentado tanto, havia algo fora do lugar naquele olhar impetuoso preso a um corpo decrépito sentado em uma cadeira de rodas elétrica.

"Estamos muito felizes que você está aqui, filho," Roy disse. "Muito felizes mesmo."

"Obrigado, Sr. Guillen." Enquanto aquela reunião não significasse um prelúdio à sua demissão, ele gostaria de manter contato com aquele homem. Não era todo dia em que se conhecia um personagem destes, ou melhor, um dos aproximadamente 512 bilionários americanos.

Adisah removeu um cartão de memória da lateral de um laptop próximo e mostrou-o para a sala cheia, enquanto dirigia a palavra para Alex. "Você sabe o que você fez, Sr. Cutler?"

Não, ele pensou. Ele não havia feito nada, ainda. Ele coçava atrás da orelha enquanto observava aquela sala.

Song levantou escondido um polegar para ele.

Denise juntou os lábios em um beijo.

"Ao entrar ou sair de determinado mundo acessível de dentro do Lobby," Adisah começou, "tanto clientes quanto funcionários já sofreram de um desconforto proveniente de uma falha não identificável em nosso programa. Todos haviam aceitado este desconforto como inevitável, um caso de um mal que vem para o bem. Uma sensação de arrasto que era comparada por alguns à uma evisceração, ou, em minhas palavras, a passar um dia com meus analistas financeiros."

Algumas risadas forçadas surgiram na sala.

"E graças a você, Sr. Cutler, que este percalço foi retirado de nosso programa, fazendo com que o Lobby seja uma experiência completamente prazerosa, como ela deveria ser."

Antes que Alex pudesse responder, ou mesmo iniciar qualquer palavra, Tara começou a aplaudir, seguida por outros. Houve um crescimento até que a sala estivesse dançando com o som, repleto de gritos e tabefes nas mesas.

Alex então pensou na mensagem que havia enviado ao departamento de design. Uma mão segurou na dele e o cumprimentou, enquanto alguém batia em suas costas. Roy Guillen agradecia-o diversas vezes por aquele presente.

Eridu e o Lobby eram os presentes de Alex, superando seus sonhos mais absurdos.

Nestemomento, estando em sua nova casa e rodeado por seus novos colegas, ele nãopoderia imaginar algo dando errado nunca.    

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