Paraíso Virtual

Capítulo 8 (Pt. 1)

"Nós estamos direcionando todos os nossos esforços para a criação deste mundo de Gettysburg," Alex disse a Rosa enquanto ela rodava uma pirueta dentro da imensidão branca do Lobby. O corredor indefinido ganhava mais 5m² cada vez que uma pessoa entrava, retraindo-se novamente quando esta saía ou adentrava em algum dos mundos. A cor neutra fez com que fosse impossível diferenciar estes momentos. Vez ou outra um novo cliente desembarcava no imenso salão, criando um marcador virtual de distância. Se não fosse por isso, Alex acreditaria estar habitando o interior de uma nuvem. "Esperamos que tudo esteja pronto perto do final do ano. As pessoas já estão guardando seus créditos de Lobby para usar durante as festas de Dezembro."

"Você irá naquele mundo?" Rosa perguntou sem muita expressão na voz. Ele a conhecia suficientemente para pressentir a armadilha.

Quando se encontrou prestes a mentir para Rosa e, com isso, perder a confiança dela, Alex preferiu ser honesto, "Estou muito curioso para ver como aquele ambiente me afeta."

Ela observou-o por um momento, assentindo, "E o que virá depois deste?"

"Gettysburg é ambicioso, mas muito mais complexo do que esperávamos. Está esgotando minha equipe. Assim que estiver pronto, nós pretendemos realizar alguns outros projetos menores. Provavelmente um mundo subaquático para mergulho, onde os usuários poderão aprender sobre a vida marinha. Talvez colocaremos uma opção de brânquias humanas ou então de uma membrana entre os dedos das mãos. Ou talvez um mundo para caça de animais de grande porte. Um mundo equestre com trilhas e percursos com obstáculos. Estive pensando também sobre um mundo do Japão de 1860. Samurais batalhando contra o Ocidente. Mas, para que fosse uma batalha justa, colocaríamos algumas habilidades mágicas no lado do Shogun."

"Outro tipo de guerra, então." Rosa juntou seu cabelo em uma bola e apertou.

Ao acordar pela manhã, ele havia percebido que a revolta dela havia diminuído. Ainda assim, ela estava longe do que ele havia esperado quando sonhava sobre o momento em que eles estivessem aproveitando tudo aquilo juntos. Atualmente ela parecia resignada a terminar o prometido do jeito mais educado possível.

Um trio de homens apareceu, um após o outro, aproximadamente 20m de onde Alex e Rosa estavam. Alex raramente via usuários dentro do Atrium. Ao entrar já com o destino em mente, ele normalmente anunciava seu mundo sem olhar para o entorno, já adentrando pelo portal. Cada novo mundo aumentava o tráfego. O fato destes homens possuírem modificações de roupas identificava-os como usuários regulares. Normalmente demorava três ou quatro acessos para que se aprendesse a trocar o uniforme padrão do Broumgard.

Um dos homens disse algo num tom acima do normal e um enorme portal materializou próximo deles. Mesmo observando-os por um ângulo ruim, julgando pela coloração dourada e avermelhada, Alex sabia que eles haviam escolhido São Francisco 1968. A imagem dos homens se mesclando com o portal resultou em Alex novamente sozinho com sua namorada, que estava linda, ainda que nas roupas-padrão do Broumgard.

Outro homem apareceu próximo a eles, anunciou sua sala e correu para dentro. O portal dele parecia com qualquer porta que poderia ser encontrada numa casa chique, o que significava que esta levaria à Casa dos Prazeres 101. Não só Alex não havia visitado aquele mundo ainda, como ele nunca o visitaria. Com algumas coisas na vida, Alex acreditava que a abstinência seria o melhor caminho. Ele supunha que as estimativas do Broumgard de 70% dos minutos utilizados serem neste mundo apoiavam sua crença. Brincar com fantasias sexuais sem dúvidas geraria grande euforia, mas também teria seu intenso lado negativo, assim como o uso de qualquer outra droga. As desvantagens eram bastante conhecidas. Cada indivíduo deveria estabelecer seus próprios limites. A maior parte dos limites de Alex traziam a ele conforto.