Apesar de ter que sair do Lobby—algo que toda vez incomodava Alex—ele gostava da leve desorientação que sentia ao retornar para o mundo real. Ele associava esta sensação a acordar de uma noite de sono reparador na qual você sonhou sobre anjos, sobre o amor e fogueiras na beira da praia.
Apesar de saber que a equipe passava sondas modificadas assim que um usuário entrava no Lobby e as removia antes deles saírem, ele sempre tinha que urinar após regressar.
Lembrando-se de Rosa, ele se alongou já antecipando recebê-la quando ela saísse. Infelizmente as ressalvas dela quanto ao Lobby não haviam sido completamente sanadas. Alfinetadas sobre a alma e a moralidade—duas coisas não relacionadas ao Lobby—anuviaram a tarde de ambos. Irem nadar trouxe ainda maiores complicações.
A água estava fria na exata temperatura que fazia com que ele sentisse que estava renascendo cada vez que chegava à superfície. O mar era salgado e possuía uma perceptível corrente, mas assim que saíam d'água, esta escorria totalmente de seus corpos. Um avanço na opinião de Alex. O fato dos cabelos de Rosa estarem secos em menos de um minuto sem mesmo ela usar uma toalha deveria agradá-la. Não foi o caso. Resultou em 20 minutos de transtornos.
De modo geral ela havia se divertido. Ele esperava focar nesses momentos a fim de evitar maiores debates sobre o Marcador, talvez até convencê-la a ir novamente—tentar um mundo diferente.
Antes de levantar de sua cadeira, ele encontrou Claire, a supervisora da sala de acesso, olhando-o de cima e esfregando suas mãos. Conhecê-la como a pessoa empolgada que era diminuiu um pouco sua preocupação, mas ele nunca havia visto-a assim tão diferente. Após um breve momento em que a viu engolindo em seco e olhando à sua volta, Alex disse, "Olá Claire."
"Eu não quero alarmar você, mas... bem... alguma merda muito estranha tá acontecendo lá embaixo." O xingamento aumentou a confusão dele. Claire era uma pessoa educada e introvertida. "Algo com os programadores?" Ele alongou as costas e levantou.
"Ah não, senhor. Eles foram ordenados de volta às suas casas. Todo mundo foi. Você acabou de perder o milésimo aviso."
Aviso? Funcionários mandados para casa? Alex não conseguia pensar em um cenário plausível para aquilo. Com uma escala rotativa, programadores trabalhavam sete dias por semana. Todos que estavam envolvidos eram encorajados a continuar criando mais mundos. A equipe de Alex do final-de-semana e das horas-extra possuía até um leve status de celebridade.
Indo até Rosa, Claire ficou logo atrás dele.
Na estação de Rosa, ele abriu a cortina esverdeada. Ela sentava com uma perna de cada lado da cadeira, massageando sua nuca com uma das mãos. Ele suspirou, já antecipando uma noite recheada de debates sobre o Marcador.
"Sr. Cutler," Claire insistiu, "você e a senhorita Newberg devem regressar à sua residência imediatamente. Há um carro esperando por vocês lá embaixo."
"Quem está nos esperando?"
"Seguranças talvez? Por favor, vamos. Eu tenho que evacuar outros." Ela virou para dais, parou e olhou para ele. "Dalton disse que talvez tivéssemos que retirar usuários manualmente; Nós quase o fizemos com você." Ela franziu o rosto enquanto andava por um dos corredores e desaparecia atrás de uma cortina.
Alex estava pensativo. Retiradas de emergência significavam arrastar fisicamente um usuário para além da área de conectividade de 5m do Marcador, ou então liquefazer seu receptor, trazendo instantaneamente o usuário de volta ao seu corpo.
Devido à falta de dados suficientes sobre os efeitos a longo-prazo, ou mesmo se havia algum, estas medidas extremas ficavam reservadas para incêndios, ameaças de bombas ou um de um ataque por atirador.
Enquanto a preocupação de Alex tomava forma, ele voltou sua atenção para Rosa, que ainda estava na cadeira, mas agora havia deitado enquanto olhava para o vazio.
"E então?"
"Me dê um minuto," ela disse sem se mover.
Algumas vezes usuários precisavam de um momento para se ajustarem. Especialmente após a primeira viagem. Entretanto, devido a este fiasco no térreo, ele precisava falar com Victor. Ele havia deixado seu fone em cima de sua mesa logo no andar abaixo de onde estavam.
"Eles estão evacuando o Atrium"
"Exercício de incêndio?" Ela enrugou o rosto. Os alto-falantes ligaram. Ambos se assustaram com o intenso volume. "Atenção visitantes e funcionários de Eridu, por favor retornem aos seus aposentos. Isto não é um teste. Todos os visitantes e funcionários devem retornar aos seus aposentos imediatamente. Por favor, retornem aos seus aposentos."
O elevado volume deixou um zumbido nos ouvidos de Alex e um aperto de medo em seu peito.
"Do que estão falando?" Rosa disse enquanto descia de sua cadeira e seguia Alex até o elevador.
Seu coração palpitava tão fortemente que era possível senti-lo em seus tímpanos. Não poderia ser nada bom. Ele tentou manter a compostura e disse, "Talvez algum novo tipo de exercício agendado?"
As palavras saíram nem um pouco convincentes. Rosa vivia ali há mais tempo do que ele. Em todo este tempo, ele nunca havia ouvido falar de um treinamento de emergência que envolvesse o complexo inteiro. Eles executavam exercícios de incêndio departamento por departamento. O resultado deles era puro e simples tédio. Claire transparecia medo em sua expressão. Alex estremeceu por dentro.
Terremotos, tornados, tsunamis—nenhum destes afetava aquela região. As montanhas de Montana negavam a maior parte das fúrias da Mãe-Natureza.
As possibilidades de dramas humanos eram infinitas.
Vários dos clientes de Eridu eram dignitários, bilionários ou oficiais governamentais de todas as partes do planeta. Pessoas poderosas na maior parte do tempo eram associadas a inimigos também poderosos.
No seu dia-a-dia, o bilionário comum possuía aproximadamente 60 agentes de segurança muito bem treinados. Ainda assim o Broumgard insistia que estas pessoas importantes chegassem ali com não mais do que dois. Subentendia-se que eles deveriam confiar nas equipes de segurança de Eridu, que teriam o prazer e orgulho de serem honrados com aquela tarefa.
O Broumgard servia à elite mundial. Pelos seus alvos valiosos, Alex imaginava uma enxurrada de cenários nos quais um bloqueio universal de Eridu seria implementado. Todos eles amedrontavam-no.
A chegada do elevador fez com que ele percebesse que estava repetidamente apertando o botão de chamada.
"Você acha que pode ser algum tipo de ameaça a um cliente?" Rosa disse enquanto entravam. "Algum terrorista maluco?"
"Victorsaberá."
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Paraíso Virtual
Science FictionAlex Cutler aceita o emprego dos sonhos indo trabalhar para uma empresa que possui um grande segredo. Milionários poderosos despejam ali suas fortunas junto de moribundos que lá depositam suas últimas esperanças de vida. O que inicia como um meio de...