Capítulo 4 (Pt. 3)

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Chegando no final da fileira de programadores que saía, ele conseguiu pegar o elevador com três deles, recebendo os parabéns por sua contratação e pelo jogo de ontem. Ele ruborizou e estendeu os créditos a eles também. Cada palavra que era dita trazia mais conforto. Quando Alex chegou ao último andar, o trem elétrico o esperava. Funcionários conversavam enquanto entravam em seus vagões de costume. Inseguro sobre qual embarcar, Alex suspirou aliviado quando Kole apareceu na segunda porta e indicou para que entrasse ali. Denise caçoou sobre seu atraso.

Enquanto o trem viajava, Alex sorria, gargalhava e aceitava outros comentários positivos referentes ao dia mais incrível de sua vida, no qual ele jogou futebol americano como um verdadeiro astro.

Observando um grupo de programadores em uma das cabines, Alex reconheceu seus rostos, mas sua mente ainda os mesclava com as versões atléticas que ele havia visto. Um efeito tão confuso e surreal que fazia sua cabeça chacoalhar a cada segundo.

"Bom, todos queremos saber," Kole disse. "Quanto tempo você ganha no Lobby por ser um supervisor?"

Respondendo verdadeiramente, Alex disse, "Não tenho certeza. Acho que irei descobrir tudo isso na Quinta-Feira."

"Que seja," Kole disse. "Só para que você saiba, todos nós queríamos esta sua posição."

A temperatura de Alex subiu enquanto Denise cutucava Kole com o cotovelo. Ele não havia considerado ser um alvo de inveja e raiva. Ele desejava estimular e inspirar estas pessoas e não sofrer com o ressentimento delas. O olhar amigável de Kole e o comportamento agradável daqueles ao seu redor acabou com a maior parte daquela preocupação.

"Primeiro estávamos chateados pelo fato deles trazerem alguém de fora," Kole disse, "agora não. A verdade é que estamos felizes em ter você. Ninguém aqui vai admitir que ter um trabalho estruturado irá fazer bem a nós bobões. E nossos egos não iriam aceitar qualquer um. Agora, nos traga Alex Cutler, e tudo ficará bem." Ele deu um grande sorriso ao perceber a confusão no rosto de Alex. "É isso aí, cara. Todos nós usamos o Plow Straight. Trabalho brilhante."

O trem reduziu a velocidade assim que eles se aproximavam do La Berce.

"Obrigado," Alex disse. "Eu quero muito ajudar e tenho..." Sua voz diminuiu pouco a pouco enquanto ele a via esperando em frente ao La Berce. Seu uniforme azul-claro parecia o daquele dia, com seu cabelo solto até os ombros e seus olhos fixos em contemplação. Sua beleza, aliada à presença de uma carteira de mão, faziam com que ela se assemelhasse à Duquesa de York como quando fazia trabalhos voluntários e ficava entre o povo comum. Ela aparentava ser cheia de virtudes, força e independência. Poderia ele realmente ler todos estes atributos em uma mulher que aguardava o transporte público?

"Ah sim," Kole disse ao seu lado ao ver o que prendia-o. "Rosa Newberg. Ela mora no B-16. Essa sim um exemplo de pacote completo."

"Você conhece ela?" Alex perguntou sem mover os olhos de Rosa, enquanto ela caminhava para o vagão à frente deles e saía do seu campo de visão.

"Sim, nós conversamos. Eu já almocei com ela. Tentei algo a mais, mas eu sou um cara mais Harry Potter, aparelho de abdominais e vodca. Ela é mais Machado de Assis, yoga e muito sóbria para cair nas minhas bobagens."

Alex se orgulhou da força da convicção dela. Ele acreditava que várias mulheres não se importariam se um cara como Kole as cantasse.

"Eu ajudo você mesmo assim," Kole adicionou, enquanto o trem resumia sua viagem.

Alex virou subitamente para Kole, e então relaxou. Um gesto legal, mas Alex possuía na melhor das hipóteses uma beleza 'normal', com hábitos financeiros muito abaixo da média e nenhuma ideia sobre qual foi a última separação entre celebridades. Em outras palavras, o exato oposto de um 'matador'.

"Obrigado, mas..."

"Sem problema algum," Kole disse. "Estou fazendo isso mais por mim mesmo de qualquer forma. Eu quero conhecer a sua casa. Eu trabalho aqui há dois anos e você é o único cara que eu conheço que mora em um daquelas coberturas malucas. Eu vou convidar ela, o outro novato e alguns outros, incluindo a recepcionista daquela churrascaria," ele esfregava as mãos empolgado, "e com isso usar sua casa para impressionar ela."

Alex estremeceu. Ele não estava seguro em receber pessoas desconhecidas em sua casa. Ele havia sido instruído a limitar ao máximo o tempo junto de pessoas que não tivessem liberação de segurança menor que o Nível 3 - uma sugestão que levava muito a sério. Entretanto, Rosa Newberg valia o risco.

Ele sonhou acordado: vestido com um terno, a Duquesa de York em um vestido esvoaçante. Ambos dançando uma valsa num grande salão cheio de personalidades. Claro que ele nunca havia dançado uma valsa antes ou conhecido pessoas importantes, além do Atrium ser a construção mais legal que ele já estivera. Mesmo assim, aquilo não impediu que seu eu-imaginário acertasse todos os passos de dança e conseguisse sussurrar algo ao ouvido de Rosa que fizesse ela inclinar a cabeça enquanto ria.

"Eu posso cozinhar, fazer drinks, jogar baralho, qualquer coisa," Kole disse, quebrando a magia.

O trem desacelerou até parar ao passo que o coração de Alex acelerava ao pensar que iria vê-la mais uma vez. Saindo por primeiro, ele parou e esperou por Kole, destinado a aceitar a oferta. Ao invés disso, Kole passou reto por ele.

"Ei, Rosa!" Ele gritou.

Ela virou e parou enquanto Kole se aproximava.

Alex escorava-se atrás dele.

"Tudo bem?" Kole perguntou.

"Tudo. Tudo bem." O tom cauteloso de sua voz arrepiava cada parte do corpo de Alex.

"Oi," ela disse a Alex quando ele apareceu.

"O-Oi."

Após alguns momentos de silêncio, Kole disse, "Este é Alex Cutler. Ele queria conhecer você."

O coração de Alex afundou. Ondas de calor atravessavam sua pele. Por que Kole diria aquilo? Para fazer ele parecer um maluco perseguidor? Por que não dizer logo que ele gostava da cor do pijama que ela usou na noite passada? Ou que havia inventado um método para organizar melhor a gaveta de meias dela?

"Ele é novo aqui," Kole continuou, como se já não tivesse estragado tudo. "Ele mora em uma daquelas coberturas. Nós queremos chamar um pessoal para beber e comer algo, pra podermos dar as boas-vindas a ele nesta nossa bela cidade. Mas nada disso vai acontecer a não ser que você venha."

As palmas das mãos de Alex estavam encharcadas. Ele deveria ter deixado Kole fazer isso sozinho, ou, melhor ainda, não ter deixado nada disso acontecer. Foram somente alguns segundos, mas o suspense que precedia a resposta dela o agonizava. Ele teve que se conter para não correr na direção oposta e pular nos trilhos do trem.

Ela olhou para Alex e sorriu. "Eu não bebo sempre, e nem muito," uma breve pausa, "mas parece uma boa ideia."

Alex respirou aliviado.

"Ótimo. Ele está no Prédio A, cobertura 2. Pode vir lá por... 18:00? Convide um alguém se você quiser, desde que esse alguém seja do sexo feminino."

"Estarei lá," ela disse. Ela estendeu sua mão para Alex. "Muito prazer, por sinal. Sou Rosa."

Perceber que a mão dela estava tão úmida quanto a sua o surpreendeu. A não ser que a mão dele seja uma fábrica de suor capaz de molhar a própria mão e a dela, o que fez com que ele pensasse que ela agora achava ele mais úmido que uma sauna, fazendo com que ela quisesse desistir do convite.

Ao invés disso, ela sorriu e continuou sua caminhada.

"Uma bela visão," Kole disse assim que ela desceu as escadas.

"Ela é," Alex respondeu absorto. Então, ao perceber que Kole falava dos quadris dela, corou pela irritação, a qual acabou passando. Kole era a razão pela qual ele estaria jantando com Rosa em algumas horas. "Obrigado, cara."

"Sem problemas. Vamos lá pra casa. Eu vou deixar minha mochila, pegar umas salsichas com cheddar que eu encomendei mês passado e faremos o resto na sua casa."

"Combinado," Alex aceitou a companhia. Ele não estava tão nervoso assim desde... bem, desde ontem.

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