Capítulo 7 (Pt. 2)

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"Tá bom, parou com a brincadeira," ela disse. "Onde está a minha surpresa?"

Ele continuou servindo o jantar, uma colherada da caçarola de feijão verde e outra de purê de batatas para cada um.

"Fui chamado hoje no escritório do Adisah. A terceira vez no ano." Ele exibia orgulhosamente os dedos mostrando o número.

"Que sortudo," ela disse erguendo sua taça.

Seu intuito era realmente o de elogiar. Adisah representava uma lenda viva, mesmo para aqueles que não tinham autorização de segurança suficiente para conhecê-lo. "Ele me deu um aumento que permite que eu me torne Sócio Acionista." Para enrolar um pouco mais, ele então entregou o prato dela, deslizando o seu para ficarem lado a lado. Mesmo que ambos não objetivassem acumular riquezas, ele gostaria que ela considerasse a ideia de que seu aumento de salário culminaria em sua grande novidade. Assim que percebeu este resultado, ele continuou, "Mais importante do que isso, ele me deu acesso ilimitado à estrutura de Eridu."

Rosa permaneceu em silêncio. Ela tentou esconder seu interesse cortando sua fatia de frango em cubos. Ela havia abandonado as tentativas de questionamento sobre o que acontecia no Atrium, mas sua curiosidade permanecia, às vezes extremamente intensa.

"Por ser o funcionário favorito do Sr. Boomul, seu protegido, por assim dizer, além de estimado por Roy Guillen," Alex disse em tom de brincadeira, relembrando da última visita dele e de Roy ao Lobby, quando Alex venceu na pista Sawgrass por quatro tacadas de diferença. "Adisah, depois de dizer que eu sou o futuro desta empresa, perguntou se tinha algo que ele podia fazer para deixar minha rotina mais confortável."

Ela colocou um cubo de frango na boca e mastigou lentamente enquanto observava-o.

Pegando seu pão, ele também deu uma mordida e continuou a falar mesmo de boca cheia, "Resumindo, eu aumentei sua liberação de segurança. Tá preparada pra saber o que acontece nos bastidores?"

Ela engoliu sua comida quase respondendo. Mas, ao invés disso, tomou mais um gole da taça de vinho. Ela então levantou e passou uma das mãos pela cintura, ajeitando seu vestido de seda. "Eu estou aqui há três anos. Tenho certeza de que você não percebeu, mas o fato de não saber o que você faz, além do que traz todas estas pessoas poderosas à nossa cidade me deixa louca. Só se ouvem boatos sobre que tipo de orgias ou máquinas científicas malucas do prazer vocês têm por lá." Ela ajeitou as mechas rebeldes de seu cabelo e fitou-o olhos nos olhos. "O raciocínio é que nada além disso poderia fazê-los ficarem tão felizes; tão preocupados em manter este segredo. Mas eu conheço você. Eu sei que uma 'casa de prazer' não é o que mantém este seu sorriso permanente durante as semanas. Você não é um daqueles malucos que ficaria se relacionando com robôs." Ela segurou sua taça e tomou o último gole de vinho. "Mas agora você me diz que eu posso fazer parte disso?" Ela sorriu e então soltou os ombros. "Será que eu quero mesmo descobrir do que se trata?"

Ele havia sonhado com este momento talvez o ano passado inteiro. A adorável incerteza dela fez seu coração palpitar. Ele se aproximou, segurando ambas as mãos dela. "Você definitivamente vai querer."

"E se for como dirigir um carro importado? Daqueles que depois que você entra, todos os outros carros perdem o brilho. Eu não quero perder meu brilho..."

Ela trouxe um ponto válido. Ele se perguntava algumas vezes se o Lobby havia acabado com os prazeres de uma vida normal. Como sua vida era bastante normal, ele não diria que sim, mas ele fantasiava estar no Lobby pelo menos uma dúzia de vezes durante o dia. Inclusive na noite anterior, logo após fazer amor com Rosa, quando ele imaginou como seria se ele a trouxesse para São Francisco 1968, fugissem para longe e fizessem ali mesmo.

Tudo parecia melhor quando se estava lá. Ele nunca havia considerado jogar golfe antes do Lobby. Agora, ele mal podia esperar para voltar ao campo e trabalhar na correção de suas tacadas para continuar à frente de Roy na amistosa rivalidade deles. Ele precisava manter a face do seu taco virada um pouco mais para a direita e manter seu olhar no...

Rosa segurou nas mãos dele, trazendo-o de volta para o presente.

"Vamos para o sofá," ele disse e então a acompanhou. "Vai levar alguns minutos para que eu possa explicar."

Pelas próximas duas horas, sua detalhada explicação sobre uma das coisas que mais amava foi na direção exatamente oposta à que ele esperava. A primeira reação dela foi ficar em choque. Após isso, ela demandou entender os mínimos detalhes do processo de transferência. Ela ficou horrorizada com o fato da sua alma ser sugada para fora de seu corpo. Assim que conseguiram superar este percalço, ela quis saber sobre como funcionavam as necessidades fisiológicas enquanto conectada ao Lobby e se ela poderia se defender de um ataque externo. Quando eles chegaram na descrição do Marcador, todo aquele inferno recomeçou.

Após discutirem por meia hora, Alex entendeu o porquê de Tara simplesmente sedar os novatos, inserir o Marcador e colocá-los para dentro do Lobby. Uma hora e meia depois e ele a convenceu, relutantemente, a testá-lo.

A discussão consumiu-o tanto quanto se ele tivesse lutado dez rounds com um campeão de boxe. Ele então mexia na comida, já fria após tanto tempo deixada de lado. As várias oposições que ela teve o levaram a um estado de confusão. O que havia de errado na vida perfeita?

Como era de costume, eles tomaram banho embanheiros separados para depois subirem juntos na cama. Porém, no espaço entreeles naquela noite, seria possível fazer uma viagem pelo cosmos.    

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