Mesmo não sendo um ávido leitor, estantes de livros povoavam suas paredes do escritório em casa e, surpreendentemente, ele havia finalizado a maior parte de um livro na noite passada. Uma ficção-científica que tratava de viagens em buracos-de-minhoca. A possibilidade de adentrar por outros mundos o manteve acordado além da meia-noite.
"Precisa da minha ajuda para chegar em algum lugar?" Jason perguntou por detrás dele.
A ajuda poderia servir a Alex, mas era o primeiro dia do início de tudo e ele queria absorver aquilo.
"Não, obrigado. Eu tenho Victor comigo." Ele indicou o seu ouvido enquanto saia.
"Quem? Ah, sim. Tudo bem então. Te vejo lá embaixo." Quando as portas se abriram, Jason passou por ele e se juntou à multidão.
Como um túnel gigante de hamster, a torre do trem elétrico era conectada ao Atrium por uma passarela de vidro por toda sua circunferência. Ele aguardou os funcionários atravessarem as duas séries de portas duplas e então, estando sozinho, perguntou, "OK Victor, para onde?"
"Seu destino é a Área de Trabalho 1. Assim que entrar no Atrium, você pode pegar o elevador à sua esquerda ou as escadas logo à sua frente."
Alex procurou por câmeras no teto, acreditando que Victor deveria estar ligado a elas para saber sua localização. Ao não encontrar nenhuma, ele concluiu que o seu fone utilizava rastreamento por GPS.
"Quando chegar ao andar principal, fale com um dos atendentes."
Alex atravessou as portas duplas e parou. Um corrimão de vidro envolvia todo o terceiro andar. Ele apoiou-se na borda e observou a portaria principal.
Raios de sol atravessavam os vidros e refletiam no piso esmeralda, iluminando a entrada do prédio. Letras cromadas tão dominantes quanto estandartes estavam alinhadas verticalmente na parede Oeste: 'B G'. Duas curvadas recepções repousavam abaixo delas com generosos corredores em ambos os lados. Meia-dúzia de seguranças se ocupavam por detrás das mesas; alguns olhando monitores; outros fazendo anotações; outros conversando.
Avistar Tara Capaldi, diretora de funcionários da Broumgard, trouxe imagens de seu primeiro encontro no aeroporto. Uma saia social envolvendo coxas e quadris atléticos; relógio e saltos de marca; cabelos loiros sombreados com castanho e presos em um rabo de cavalo. Ela foi a mulher mais linda que Alex já tocou. Apesar de estar perto dos 30 anos, algo em seus olhos cor de avelã parecia maduro, frio e repelia qualquer noção de atração. Ela era uma profissional destinada a coisas maiores. Alex respeitava seu conhecimento e capacidade organizacional. Acima disso, ele simplesmente apreciava sua habilidade de reduzir a tensão dele com apenas algumas palavras.
Ela estava trabalhando atrás do balcão mais próximo, recurvada, observando um monitor ao lado de um dos seguranças (a ideia de atendentes de Victor). O elevador anunciou sua chegada ao fundo. Ao virar ele viu os últimos passageiros do trem e correu para juntar-se a eles.
Enquanto o elevador de vidro descia, ele observava o único rosto familiar no grupo. Tara riu de algo que um dos seguranças disse. Todos à sua volta viraram para observar o ato.
Ao cruzar olhares com Alex ela sorriu e acenou para ele se aproximar.
Removendo seu fone enquanto saía, ele o guardou no bolso de sua camisa.
Analisando o alvoroço, parecia que a maioria dos seguranças em Eridu eram defensores de futebol americano no auge de suas performances. Os que sobravam poderiam ser campeões de musculação de uma penitenciária de segurança máxima.
"Bom dia Sr. Cutler," Tara disse enquanto apertavam as mãos. "Tudo correndo bem até agora?"
"Bom dia, e nem posso imaginar algo melhor que isso."
Um modesto sorriso. "Não tenha tanta certeza assim," ela disse enquanto passava e indicava para que a seguisse por um dos corredores principais.
Um segurança parecido com um mamute observava Alex enquanto ele a acompanhava. Seu olhar mantinha-se firme, porém não era ameaçador.
"Bom dia Sr. Cutler."
"Bom dia," Alex respondeu enquanto coçava seu pescoço, incomodado pelo fato de um homem com este tamanho saber seu nome antes mesmo dele se apresentar.
"Vou levá-lo à sua equipe," Tara disse. "São 26 programadores em tempo integral aqui. Sem orientação, falta a eles o tipo de sinergia que você introduziu na Vision Tech.
Ele não tinha certeza de que havia introduzido algo além do Plow Straight. A camaradagem pode ter sido um resultado do complexo de superioridade que ele havia provido.
Ela parou em frente à uma porta com os dizeres 'Área de Trabalho 1' e segurou a maçaneta. "Está pronto?"
Ouvindo animadas conversas vindo do lado de dentro, ele olhou para Tara a fim de responder, mas ela já havia aberto a porta. O barulho do lado de dentro encobriu suas palavras.
Mesas de tamanho mediano tomavam a sala. A maioria delas ocupada por pessoas falantes e vestidas com roupas casuais. Um alto pé direito, paredes decoradas com pôsteres de histórias em quadrinhos e filmes de ficção-científica e uma plataforma elevada contendo uma mesa dominante que estava voltada para todo o resto do cômodo.
Algumas mulheres povoavam a sala predominantemente ocupada por homens de meia idade e geeks de computadores. Dois deles usavam óculos de realidade virtual. Pelo modo com o qual seus dedos se moviam no ar, eles estavam interagindo com mundos privados. Um grupo de asiáticos havia juntado suas mesas próximos ao fim da sala. Eles estavam concentrados em um pequeno sujeito com um cabelo ruivo brilhante que estava em cima de uma cadeira entretido em uma história animada em língua estrangeira.
Alex encontrou seu rotundo parceiro de trem, Jason, no fundo com os pés sobre sua mesa. Ele estava com as costas viradas para o resto do grupo enquanto lia seu livro e pescava chocolates em uma pilha esparramada.
"O dia anual de contratação é um grande dia para nós," Tara disse. "Um dia onde expomos nossas vidas e permitimos pessoas especiais, como você, fazerem parte da nossa família."
"Aqui na Broumgard nós oferecemos uma variada gama de eventos para entreter nossos clientes. Tenho certeza de que você ouviu falar das várias cortesias oferecidas no Hotel La Berce, mas quero apresentar a você nossa verdadeira atração: O Lobby."
Alex virou em direção ao lobby, indagando se havia perdido algo, e voltou a Tara, que o observava dessa vez com um sorriso perceptível.
"Você gosta de futebol americano, Alex? Nós jogamos uma partida todos os anos: Seguranças contra Programadores."
Até as regras básicas de futebol americano eram confusas para Alex. Ele não tinha certeza se um touchdown significava 6, 7 ou 8 pontos; mas, enquanto as palavras dela se assentavam, ele observou a sala. A maioria dos homens e mulheres ou tinham baixa estatura, ou tinham sobrepeso ou pareciam frágeis.
Ele se recordou dos seguranças observando por sobre as bancadas atrás de Tara, olhou novamente aos seus colegas e então relaxou, seguido de uma sensação de frustração. Se futebol americano estava associado a programadores, este evento tão exaltado seria em torno de um super vídeo game. Secretamente, ele havia esperado por uma tecnologia extraterrestre ou então talvez a tal da 'Arca de Noé' - Só Deus sabe o quanto o mundo precisa de uma nova limpeza.
Jogar vídeo game o desapontou. Ele não sabia tanto quanto seus colegas e, apesar de ter aptidão, não se divertia tanto jogando. Ele até poderia passar a tarde segurando um controle, mas assim que acabasse e olhasse para trás, ele se perguntaria para onde havia ido todo este tempo e se arrependeria do desperdício. Passada somente uma hora do seu primeiro dia e ele estava pensando em refutar a afirmação de Tara e tornar-se a primeira pessoa a se demitir do Grupo Broumgard.
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Paraíso Virtual
Science FictionAlex Cutler aceita o emprego dos sonhos indo trabalhar para uma empresa que possui um grande segredo. Milionários poderosos despejam ali suas fortunas junto de moribundos que lá depositam suas últimas esperanças de vida. O que inicia como um meio de...