A euforia da visita de Alex ao Lobby fora tão intensa que fez com que ele rapidamente acordasse na manhã seguinte. No momento em que abriu os olhos, seu corpo tremia como se ele houvesse tomado duas xícaras de café e feito 100 flexões de braço.
A agenda de hoje era Orientação; Alex correu para encontrar Carl no trem elétrico e, juntos, eles se apresentaram em um escritório na porção Norte do Atrium. Caixas de papelão encostadas nas paredes mostravam que aquela era uma sala raramente usada.
Um homem moreno com uma cabeleira grisalha, aparentando seus 60 anos, sentava-se relaxado atrás da bancada enquanto lia o Wall Street Journal. Um grosso cordão unia as hastes de seus óculos, que estavam apoiados na ponta de seu nariz. A sala exalava um cheiro de tabaco fresco. Alex observou um cachimbo em brasas acima da mesa.
"Sejam bem-vindos, cavalheiros. Meu nome é Rigo Espinosa," ele disse enquanto dobrava o jornal e colocava-o no topo da bancada. Um leve sotaque espanhol era perceptível na sua pronúncia. "Por favor, sentem." Ele indicou à frente, onde se encontravam duas mesas com cadeiras dobráveis e onde os aguardavam dois laptops fechados.
Alex e Carl fizeram como requisitado.
Enquanto refletia na noite anterior, Alex escreveu perguntas para fazer na Orientação, cada qual com suas sub-perguntas adicionais. Porém, após revisá-las durante o percurso do trem, ele reduziu-as a somente duas: Quando poderia voltar ao Lobby? e Quando poderia analisar o código responsável por tamanha maravilha?
Em programação, cada linha de código servia para um propósito. Quando combinadas, elas criavam uma função. Neste caso seria receber e armazenar os impulsos elétricos que compunham seres humanos, além de interpor estes dados com um ambiente matricial. Os comandos que mantinham o setor de entrada do Lobby deveriam estar na casa das dezenas de milhões. Ele imaginava que aquela parte do código agia como a fundação, na qual todos os outros mundos se conectavam.
"Hoje," Rigo disse, "nós vamos fazer com que entendam Eridu antes de liberar o acesso de vocês aos computadores." Ele parou, como se um novo pensamento lhe tivesse ocorrido. "Eu realmente não entendo essa parte dos computadores. Vocês digitam, digitam, digitam, ficam olhando para a tela e, de alguma forma, vocês ficam empolgados com aquilo. Vocês poderiam me explicar o porquê disso?"
Para Alex a razão era simples. No código, quando você instruía um comando para ir até a linha 47, ele obedecia. Se não obedecesse, você vasculhava, encontrava o erro e retornava tudo à ordem desejada. No mundo real faltam comandos de edição. Ele entrega a você um amigo com segundas intenções, um companheiro com problemas em expressar emoções, um emprego que recompensava aqueles que não seguiam caminhos corretos.
A vida real pegava um jovem forte como um cavalo, dava a ele câncer de mama e o definhava até que você estivesse aos prantos sentado ao lado do seu irmão durante seu descanso pós-quimioterapia.
Linhas de código representavam ordem e permitiam a Alex criar possibilidades ilimitadas. A realidade envolvia dor e caos, com a morte como o único fim possível.
"Não?" Rigo observava-os. "Vocês também não sabem? Bem, em todo caso, na próxima semana vocês aprenderão sobre a história desta empresa, os nossos procedimentos de segurança, informações básicas sobre sua estrutura e sobre o Lobby em si."
Só escutar este nome gerava uma reação física em Alex - Ele ergueu sua mão.
"Sim, Sr. Cutler."
"Quando poderemos voltar ao Lobby?"
"Bem," Sr. Espinosa disse exalando, enquanto removia os óculos e repousava-os em seu peito, "acredite ou não, eu tinha certeza de que você iria perguntar isso. A resposta, infelizmente, é um pouco complicada. Por ter um cargo de gerência, você irá acumular créditos mais rápido que o Sr. Wright. Broumgard também permite que funcionários autorizados comprem períodos no Lobby com taxas reduzidas, o que faz com que a vasta maioria gaste cada centavo disponível nestas férias."
Carl ergueu sua mão acima dos ombros.
Rigo indicou que prosseguisse.
"O que acontece se alguém estiver conectado e a energia acabar?"
"Excelente pergunta, Sr. Wright. Isto nunca foi testado empiricamente, devo lembrá-lo. Mas, em todo caso, você voltaria ao seu corpo momentos antes disto acontecer. Broumgard decidiu que a melhor maneira de lidar com problemas elétricos seria nunca permitir que a energia acabe. O Atrium possui um sistema de geradores com onze níveis de proteção. A melhor explicado é dada pela senhorita Capaldi, que diz que 'Poderíamos sofrer um ataque nuclear direto seguido do uso de diversos equipamentos de pulso eletromagnético e ainda teríamos quatro níveis de proteção disponíveis'."
Lembrando do 'Pai dos Hackers', Alex disse, "O Sr. Boomul passa muito tempo com os programadores? Ele vive aqui?"
"Ele vive no local," Rigo recostou em sua cadeira, estudando Alex. "Ele é um grande homem, não me leve a mal; um gênio. Sem dúvidas," disse abanando as mãos. "Mas ele não tem a mente focada nos negócios. De alguma forma existem boatos se espalhando pelo mundo, mesmo com todos os nossos métodos de sigilo. As pessoas descobriram que, se vivem com uma deficiência ou dor crônica, ao conseguirem contato com Adisah, ele fornecerá períodos gratuitos."
Alex rapidamente ponderou se dores nas nádegas por sentar com um laptop em seu colo contariam para tal.
"Filantropia é excelente," Rigo disse. "Sou totalmente a favor. Só que não para uma companhia que acabou de começar. Sem lucros nós acabaremos. Muitas pessoas depositaram vastas fortunas - tudo o que tinham - para ver Eridu prosperar."
"Se não estivermos procurando por caridade," Alex disse, "Se tivermos dúvidas sobre programação, podemos encontrá-lo?"
"Não." Rigo balançava sua cadeira de lado a lado. "Considere ele como 'permanentemente indisponível'."
A próxima hora arrastou-se enquanto Rigo explicava as várias cortesias oferecidas aos seus clientes, normalmente herdeiros de fortunas.
Por fim chegou o momento de eles ligarem seus laptops. Rigo atribuiu senhas a ambos, parabenizou-os pela contratação e finalizou com um discurso sobre confidencialidade, o quão severas as punições por quebras de segurança eram e como eles eram bem afortunados. Ele então buscou seu cachimbo, dobrou novamente seu jornal e, ao chegar à porta adicionou, "Anotem, façam o que tiver que fazer. Se tiverem alguma pergunta, enviem ao departamento de design ou tragam suas questões às suas equipes quando começarem a trabalhar. Talvez Adisah às veja." Ele analisou suas feições.
O que Alex poderia dizer? Ele ainda estava anestesiado com aquilo tudo.
Rigo exalou, satisfeito. "Divirtam-se. Trabalhem duro. Vocês criam nossos mundos e NÓS PRECISAMOS MAIS!"
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Paraíso Virtual
Science FictionAlex Cutler aceita o emprego dos sonhos indo trabalhar para uma empresa que possui um grande segredo. Milionários poderosos despejam ali suas fortunas junto de moribundos que lá depositam suas últimas esperanças de vida. O que inicia como um meio de...