Capítulo 4 (Pt. 2)

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Enquanto a pesada porta se fechava, veio a Alex a noção de que agora ele tinha o melhor emprego do mundo. Como chefe do departamento, seria ele responsável pela escolha dos mundos a serem criados? O Lobby oferecia a energética emoção do Big Hitter's Ball, um refúgio com tranquila comunidade em São Francisco 1968 e cumpria os desejos rudimentares com Casa dos Prazeres 101. Ele gostaria de criar algo intenso: recriar a invasão do Dia-D, um torneio com cavaleiros e escudeiros e talvez um campo de guerra metafísico, algo como se desse a louca nos X-Men. Só pensar nas possibilidades inundava-o em euforia.

Surpreso, ele aceitou que a pesquisa teria um papel principal. Desenhar a história seria outra parte; tudo isso precederia escrever o software. Um código mais longo que centenas de livros poderia levar semanas para ele se familiarizar, e até anos para ficar completo.

Sua grande força jazia no diagnóstico de falhas. Ainda assim ele tinha medo que, mesmo em um projeto tão sofisticado como este, onde os erros iniciais são rapidamente corrigidos, haveria a possibilidade de algum deles ter sobrevivido. Isto fez com que ele ativasse seu computador, ansioso para dissecar os códigos.

Os caracteres que enchiam a tela eram semelhantes a qualquer outro que ele já tinha visto, mas sabendo que estes à sua frente construíram o Lobby liberou uma família inteira de borboletas em seu estômago

Em instantes ele já havia encontrado seu ritmo: interpretar linhas de código como execuções; processar as execuções como comandos coerentes; formular a estrutura pretendida.

Ele nunca iria se acostumar com o fato de como algo tão mundano como botões em um teclado poderiam se tornar ingredientes para fazer mágica.

Carl sussurrou algo para si mesmo e se aproximou de sua tela.

Alex escreveu sua primeira anotação.

A hora do almoço chegou e se foi.

Nenhum dos dois homens se moveu de sua cadeira por mais de dois minutos para descansar ou ir ao banheiro.

Próximo das 13:00, o fone que estava no bolso de Alex vibrou. Intrigado, ele pousou sua caneta no bloco de notas e colocou o aparelho em seu ouvido. "Alô?"

"Peço perdão pela intromissão, senhor," Victor disse. "Já fazem seis horas desde sua última refeição. Gostaria que eu requisitasse uma refeição para você e o Sr. Wright?"

Contrariando a maioria das pessoas, as quais usavam o estômago para julgar a fome, Alex permitia que sua mente o controlasse. O cérebro precisava de energia para funcionar, e quando seu raciocínio se tornava confuso, ele comia. Ele já havia percebido um declínio, mas por não saber onde estaria a copa ou como eram servidas as refeições no Atrium, ele ignorou os avisos do seu cérebro.

"Você está falando comigo?" Carl perguntou.

Alex apontou para seu ouvido. "Victor está falando comigo. Está com fome?"

Claramente sem saber o que aquilo significava, Carl franziu a testa.

"Por mim está ótimo, Victor. Quais são as opções?"

"Infinitas, senhor. Todos os quatro restaurantes têm serviço de entregas. Qualquer coisa das praças de alimentação pode ser trazida até você ou, em uma emergência, temos uma copa para funcionários com uso gratuito das máquinas de venda automática do seu andar."

Olhando para sua tela, Alex ficou aborrecido ao considerar sair da sala para encontrar as máquinas. Ele então perguntou a Carl, "Quer dividir uma pizza?"

"Só mozzarella."

Alex estava esperando pedir uma pizza super-especial, mas, como a harmonia regia o mundo civilizado, ele disse, "Uma pizza média de mozzarella, um refrigerante de dois litros e anéis de cebola. Pode ser?"

"Certamente, senhor."

"Obrigado. E Victor, por favor, não me chame de senhor."

"Pois não."

Alex removeu seu fone, se alongou, foi ao banheiro e encontrou a copa. A possibilidade das guloseimas grátis incentivou-o a pegar duas barras de chocolate para a sobremesa. Assim que voltou a comida já havia chegado.

Enquanto Carl servia a bebida, ele indicou os monitores e perguntou, "Você está entendendo alguma coisa?"

"A maioria," Alex respondeu sinceramente. "Algumas coisas mais que outras, mas eu estou escrevendo uma lista cada vez maior de perguntas."

Eles comeram tranquilamente pelos próximos quinze minutos, conversando sobre jogos, programas e o amor de Carl pelo Plow Straight.

Carl então saiu para ir ao banheiro, voltou, e surpreendeu Alex ao perguntar, "Você se importa se eu terminar por hoje?"

Alex não esperava ter que assumir as rédeas da supervisão assim tão rapidamente. Como era seu trabalho, ele respondeu como sempre havia respondido, "Sem problemas."

Enquanto Carl se aproximava da porta, Alex lembrou-se de algo e disse, "Ei, antes de sair, venha só ver esse pedaço aqui. Me diga o que você acha." Ele então selecionou uma seção problemática do código.

Carl parou atrás de Alex.

"Só esse trecho a partir daqui," Alex arrastou para baixo algumas páginas e então indicou ao final da tela, "até aqui." Ele então voltou para o início do trecho para permitir que Carl operasse o computador.

Momentos depois, Carl cedeu enquanto balançava a cabeça. "Não sou daquele tipo que entende imediatamente um código novo. Eu gostaria de levá-lo comigo e pensar. Quando eu voltar estarei apto para entender mais que qualquer outro."

Alex assentiu.

"Só preciso de um pouco mais de tempo, Sr. Cutler"

"Vamos manter só Alex."

Carl concordou.

"E não tem problema," Alex disse. "Essa parte me parece cheia de erros, mas provavelmente é impressão minha. Até amanhã."

Seu futuro time de programadores trabalhava duro algumas salas após a dele. Em que exatamente? Já eram 16:00. O burburinho de funcionários saindo pelos corredores indicou a Alex que era hora de ir embora. Ansioso para enturmar-se, ele inspecionou a sua área de trabalho.

Ele havia compilado duas páginas de anotações referentes ao programa em si, além de rascunhar uma alteração no fragmento do código de transferência que ele havia achado problemático. Logo no seu primeiro dia de trabalho tentar reescrever um setor tão importante do código parecia precipitado, mas ele gostava de conversar sobre seu trabalho. Na pior das hipóteses ele estaria errado e aprenderia o porquê. Na melhor, eles fariam uma atualização que ninguém perceberia e ele sentiria novamente aquela familiar satisfação de estar mais próximo da perfeição.

Após enviar um e-mail com seu esboço para o departamento de design, ele desligou sua máquina e saiu pela porta a fim de encontrar-se com seus futuros colegas.

Ele não era exatamente sociável; não tinha a necessidade de ser o centro das atenções. Mas, por ser humano, ele preferia se encaixar, ser querido e poder se comunicar. A experiência de ontem no Lobby estraçalhou suas noções prévias de esplendor, e ele queria expressar aquilo. Ele agora fazia parte de uma seita esotérica, uma irmandade, e sentia-se confiante de que eles gostariam de compartilhar dessa sua experiência com a mesma intensidade que ele estava desejando discuti-la.

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