Capítulo 7 (Pt. 1)

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Alex assobiava qualquer coisa enquanto saía do elevador para a sua cobertura. Mesmo após morar há mais de um ano em Eridu, a Criação Padronizada ainda continuava a impressioná-lo. O lampejo de inspiração proveniente da beleza do imponente globo aumentava em cada mundo que ele trabalhou nos últimos 14 meses. Desde que assumiu as rédeas do Departamento de Programação do Grupo Broumgard, seu time havia desenvolvido dois mundos. O primeiro, Retiro de Golfe, oferecia 216 dos melhores percursos que a indústria poderia ter, sendo 42 destes campos designs originais da empresa e quatro outros jogados em um ambiente lunar de baixa gravidade.

O segundo mundo combinava cores brilhantes com um conceito desafiador: O Parque Triássico. Uma versão completa e não-letal do sonho de Dr. John Hammond, o cientista de Jurassic Park. A ilha de 55km² continha 80 espécies diferentes de plantas exóticas já extintas, além de 47 tipos de insetos modificados e 12 variedades extremamente dóceis de dinossauros.

A extensa pesquisa esgotou toda a sua equipe. Mesmo dispondo de 27 trabalhadores extremamente competentes em dedicação total, além de outras quatro novas contratações, eles passaram a metade do tempo total de serviço na fase de 'Veracidade'. Graças à determinação de todos, qualquer cliente agora poderia interagir com um tímido Anspeodita, um réptil fictício com forma de um gato e características de um macaco. A criação arteira deles escalava em árvores só para se balançar folgadamente de galho em galho, dependurando-se sobre uma cauda de escamas enquanto observava os humanos logo abaixo.

Já nos últimos cinco meses, eles estiveram debruçados sobre o que seria uma horripilantemente precisa recriação da Batalha de Gettysburg. Clientes teriam a capacidade de escolher se lutariam pela União ou pelos Confederados para dominar a infame cidade que nomeia o conflito.

Para manterem-se fiéis aos fatos, o programa envolvia a construção de memórias individualizadas com duração de quatro dias para cada usuário, o mesmo intervalo de tempo da batalha. Isto permitia os clientes percorrerem 12 turnos de oito horas, os quais seriam pausados enquanto o grupo saía e voltariam ao momento de parada assim que eles regressassem. Além disso, cada um deles poderia modificar sua sensação de dor, permitindo que usuário não sentisse absolutamente nada, mesmo que ferido mortalmente, ou descobrisse qual seria a sensação de ter uma bola de canhão arrancando sua perna e fazendo com que sua vida jorrasse através de sua artéria femoral. A morte dentro deste mundo fazia com que o cliente retornasse ao Lobby, podendo então escolher voltar para a batalha ou mudar para outro mundo.

Gettysburg começou como uma grande ideia, mas Alex aprendeu tarde demais que a carnificina de uma guerra nunca deveria ser recriada. Por mais que ela o assustasse, por mais que os gritos mortais e o cheiro de sangue, vísceras e pólvora o deixassem enojado, ele voltava a visitar Gettysburg. Ele também suspeitava que poderia regressar uma próxima vez sem diminuir tanto a sensação dolorosa. Ele só não sabia explicar o porquê daquilo.

Segurar o conhecido puxador da porta de sua casa indicava mais um dia de trabalho finalizado; um sentido de propósito completado. Do lado de dentro, o aroma do frango temperado permeava pelo ar. O sistema de som tocava Adele. O casaco de Neo ainda compunha a peça central na entrada principal, mas agora uma série de pinturas com temáticas campestres e urbanas da cidade de Roma substituía os antigos pôsteres de filmes.

Um conjunto de velas iluminava a mesa de jantar organizada para dois, centralizada por uma garrafa de vinho Merlot e duas taças. Alex afastou seu ar de surpresa, trocando-o pelo de adoração.

Rosa aguardava sentada em uma das cadeiras. Trajava um vestido preto com seu crucifixo de ouro pendendo para o lado de fora, seus luminosos cabelos cacheados até os ombros. A meia-luz proveniente do quarteto de velas intensificava o clima, acentuado pelo perfume floral de Rosa.

"O que significa tudo isso?" Ele perguntou, se aproximando com um beijo.

"Bem, nós temos muito o que celebrar," ela disse, indicando que ele se sentasse ao lado dela.

Eles realmente tinham várias coisas a celebrar, ele pensou, mas como ela poderia saber daquilo? Confuso, e preocupado sobre ela ter descoberto a surpresa planejada, ele decidiu permanecer calado – descobrir suas intenções.

"Isso aqui tá com uma cara e cheiro deliciosos. É alguma comemoração por estarmos na Sexta-Feira?" Ele perguntou enquanto colocava um pouco de vinho nas duas taças.

"Não. Hoje é um dia especial. Eu tenho certeza que você se lembra, mas, para eu manter o bom-humor, mesmo assim vou te lembrar: é o nosso aniversário de um ano morando juntos."

"Eu sei disso. Eu até trouxe um presente para provar."

Ela bebeu um gole do seu vinho, observando as mãos vazias dele. "É mesmo? Por favor, aumente então nossos motivos de celebração."

Ele não tinha coragem de dizer que celebrava todos os dias desde que a conhecera.

Ele então separou os pratos que estavam empilhados, fatiou o frango assado e colocou um suculento pedaço em cada um deles. Depois disso, adicionou um pão francês recém-saído do forno e inspecionou suas laterais, deixando a curiosidade dela aumentar.

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