t r i n t a e n o v e

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Mamãe, acabei de matar um homem
Coloquei uma arma contra sua cabeça
Puxei o gatilho, agora ele está morto
Mamãe, a vida acabou de começar
Mas agora eu joguei tudo isso fora

Bohemian Rhapsody - Queen

POV Jade Emerson (finalmente, UFA)

Saio da faculdade e sento em minha Harley que ganhei no meu aniversário de dezoito anos, lembro-me que esperei ansiosa por essa moto desde quando tinha dez anos e ia aos encontros de motoqueiros junto com meu pai que também é fanático por motos.

Eu gosto quando estou sobre uma moto, é como se nada mais existisse além de mim e o vento.

Em alguns minutos chego em casa e estaciono minha moto com cuidado, quando chego na porta escuto gritos e temo o pior.

Depois que Mason, meu pai, começara a beber, virou todo o nosso mundo de cabeça para baixo, ele chegava em casa bêbado e agredia minha mãe. No outro dia ela ameaçava ir embora, mas ele sempre dizia que iria mudar.

E ele de fato mudava, quando estava sóbrio.

Era só uma questão de tempo até as últimas doses que ele tomaria.

Algum tempo depois eu fui crescendo, e com o meu crescimento a minha raiva também cresceu, estava cansada de vê-lo bater em minha mãe sempre que ele perdia a cabeça.

E ele parecia não se importar de me machucar.

Ele ficava furioso e batia em nós duas, e como eu era fraca demais, apanhava calada.

Minhas marcas roxas espalhadas por todo meu corpo começaram a ser frequentes, porque toda vez que iria bater em minha mãe, eu o enfrentava, enfrentava com todas as minhas forças - mas nunca era o bastante.

Mas não hoje.

Hoje acordei diferente, acordei pronta para tudo.

Entro em casa com meus passos firmes e determinados.

Meu "pai" estava na cozinha e segurava minha mãe pelos cabelos enquanto ela choramingava e pedia para ela parar.

Mas ele não parava.

Ele parecia não ouvi-la.

Estava distribuindo socos por sua cabeça e as mãos dela tentavam impedir que ele a tocasse e fizesse algo pior.

Tudo porque bebia e não sabia se controlar.

Toda aquela cena fez com meu coração doesse e se naquele momento eu pudesse trocar de lugar com ela, eu trocaria.

Os gritos da minha mãe preencheram meu cérebro e ficaram se repetindo diversas vezes me perturbando e fazendo com que um ódio desconhecido tomasse conta de mim.

Eles não me viram, sorri amargamente e algo reluziu em meus olhos como se me instigasse a pegá-lo.

Uma faca brilhou com a luz do sol e com a mente a mil desatei a pegá-la. Segurei a faca com força em minhas duas mãos e enquanto meu pai socava a cabeça da minha mãe na bancada da cozinha estava me concentrando no ponto certo de suas costas.

Respirei fundo e com o máximo de força que eu tinha penetrei a faca em suas costas bem no ponto onde eu sabia que acertaria seu coração, ele gritou, e seus gritos só me incentivaram a afundar mais a faca e girá-la fazendo com que ele sentisse toda a dor que eu estava sentindo.

Eu estava incontrolável.

- Jade. - seus olhos me olharam com espanto. - Você não é assim.

- A muito tempo que eu não sou EU.

E então como se eu fosse experiente em fazer aquilo tirei a faca dele. Mason começou a cuspir sangue e a ficar tonto andando de um lado para o outro. Minha mãe olhava tudo com os olhos cheios de lágrimas e gritava infernizando ainda mais o meu cérebro.

Fiquei tão desconcertada com seus gritos que não percebi quando Mason tenta tirar a faca de mim e dá um corte profundo em meu pulso. Grito assustada e consigo tomar a faca dele cravando finalmente de frente para seu coração.

Nossa hora a cozinha estava inundada de sangue para todo lado.

Depois de muito tempo Mason caiu no chão e se agonizou até morrer, ele morreu com os olhos abertos e me olhava como se não acreditasse no que eu havia feito.

- ISSO É CULPA SUA! - grito quando ele para de respirar, mas ele não me ouviu.

Eu o matei.

Matei o que eu mais amava.

Mas o que eu mais amava tinha se tornado um monstro desconhecido.

Meu coração estava em ruínas.

Olho para minha mãe e ela pega em meu braço aos prantos.

- Jade, o que você fez? - pergunta e jogo minha faca com força no chão.

- O que eu fiz? - pergunto. - O que ele fez?!

- Filha...

- NÃO ME CHAME ASSIM! - interrompo.

Viro-me de costas para ela e saio de casa apenas com minha moto e pronta para enfrentar qualquer coisa que entrar no meu caminho.

Ouço minha mãe gritar atrás de mim e acelero minha moto deixando com que seus gritos fiquem para trás.

Dirijo por alguns minutos sem saber para onde ir e uma nuvem densa e carregada paira sobre mim, ótimo, até o tempo quer me ferrar. Desço da minha moto e ando um pouco, me surpreendo com o que vejo, estou tão alto que consigo ver toda a cidade de Atlanta.

Deixo minhas lágrimas caírem e pego uma maça em uma árvore que estava perto de mim. Logo o céu começa a chorar junto comigo e a me molhar, jogo a maçã longe e caio de joelhos no chão.

Grito e rasgo minhas roupas de cor azul e fico olhando a cidade calma e com vários aviões decolando sem pressa. Pego os restos de minha roupa e enrolo as mesmas em meu pulso.

Meu pulso latejou de dor - mas eu ignorei.

Desde aquele momento eu já não sentia mais dor.

Sentia apenas um grande vazio por dentro.

A partir daquele momento eu nunca mais usaria roupas coloridas, eu estaria quebrada para sempre.

Porque todo o melhor de mim se foi com eles.

Ao me lembrar de Brian começo a ter a certeza de que eu não tenho mais ninguém e quem eu tinha EU matei. Nesse momento eu só queria que uma bala perdida me acertasse em cheio.

Levanto do chão e olho para a cidade.

A partir de hoje vou me fechar, não quero mais ser fraca.

Cansei de ser fraca e indefesa, não sou mais aquela menininha que chorava para poder andar de moto - eu sou muito mais.

Eu sou um monstro!

E monstros não são fracos.

Juro (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora