A vida aqui embaixo é úmida e fria, não que eu me lembre do calor para saber diferenciar, apenas tenho vagas lembranças do sol banhando, por alguns minutos, minha pele. A sensação era de liberdade, um grande presente que Ellie havia me dado ao sugerir minha transferência da antiga instalação.
As boas memórias dissipam-se, tampo os ouvidos na vã tentativa de não escutar rugidos de dor vindo do corredor, colocavam os machos para acasalar com as fêmeas, muitas vezes elas não queriam, e os machos não as forçavam, forçar esse tipo de intimidade era considerado o mais baixo nível para nossa espécie.
O resultado era sempre o mesmo: batiam neles até a exaustão. Por esse motivo muitas de nós nos entregávamos, para eles não sofrerem esses abusos, e logo chegaria minha vez, mais uma semana e o prazo estaria completo.
Quando criança, em um exame de rotina, eles detectaram algo de errado com meu útero, por isso não me forçaram a acasalar com nenhum macho, ainda, esperaram meu primeiro calor e fizeram uma cirurgia. deram quatro meses para a recuperação do procedimento, cinco dias a mais aqui nesse lugar e seria minha vez para de entregar-me a desconhecidos a qual só conhecia o grunhidos e rugidos de angústia e dor.
ㅡ Se prepare 00, mais uma semana e você vai entrar na régua, como os outros ㅡ Ele sorri, se eu não o conhecesse, diria que era um sorriso de conforto. Infelizmente o conheço perfeitamente bem. Ele colocava as mulheres cativas para dormir e abusava delas, a sala dele fica na frente da minha cela, por isso via quando ele as trazia.
Você não terá o prazer de me violar, outra já faz há tempos. Penso enquanto retribuo o sorriso sem graça.
Sento-me na minha cela e observo o lacaio do doutor se distanciar, quando o prazo acabasse, o doutor do mal viria, um arrepio se alastra pelo meu corpo, fazendo os pelos agitados. O médico que eu temia costumava "queimar arquivos" quando não lhe davam resultados, averiguando meus exames e constando que meu útero ainda tinha problemas ele me mataria sem remorsos.
Meu DNA pode ser mesclado com o de uma pantera, mas eu tenho um cérebro e não vou ficar esperando o abate. Eu tinha um plano, seria livre, custasse o que custar, se preciso for, darei até minha vida para me libertar. Tudo era melhor do que viver assim.
O relógio na parede em frente à minha cela marca dezenove horas em ponto. À distância, farejo cheiro de comida que faz minha barriga roncar de fome instantaneamente, esse aroma maravilhoso, da comida vinda do refeitório, era destinado aos empregados, em contrapartida a nossa era ração, insossa e áspera, e muito raramente carne mal passada. Ellie uma vez me confidenciou que em outras estações mais "promissoras", meus irmãos recebiam carne fresca, para mim, apenas o cheiro era o suficiente. Talvez, lá fora, eu possa experimentar?
O barulho repetitivo do sino toca, alertando-os sobre a refeição, que já estava pronta a alguns minutos, se me perguntar.
Nesse exato momento começa o deslocamento dos funcionários para o refeitório. Aproximo-me da porta da cela, e bem no canto pego um pequeno pedaço de sabonete, escondido entre as grades. Peguei-o em uma oportunidade rara no banho, guardei em um lugar que prefiro não lembrar.
Mastigo o tablete branco com gosto amargo sem fazer careta, misturando-o com a minha saliva, quando está cremoso o suficiente, empurro com a língua. A espuma espessa desce dos meus lábios, os empregados, ansiosos por uma refeição convidativa, passam pelo corredor apressados, essa é a hora.
Caio no chão da cela em um impacto duro, debato os membros ligados ao tronco freneticamente contra o piso, sem me importar com a dor incomoda.
ㅡ A cobaia 00 está tendo um ataque! Chame o enfermeiro, não vou perder minha janta cuidando dessa aberração ㅡ Um dos funcionários exclama.
ㅡ Melhor você mesmo o chamar, já que é o responsável pela ala "C" hoje. Caso contrário o doutor vai fazer de você a aberração, se algo acontecer com ela ㅡ outro o rebate.
A cela é aberta e sinto quatro mãos me levantando do chão. Conheço a ala C como a palma da minha mão, com os olhos fechados e com o auxílio do meu olfato sei que estou indo para Ronland, o enfermeiro chefe. O elevador para, anunciando-se com uma melodia conhecida. ㅡ Ainda bem que essa cadela não é pesada igual as outras ㅡ fala aliviado um dos empregados.
Meu DNA foi entrelaçado ao de gato e pantera, por esse motivo tenho o porte pequeno, pois o de gato era mais presente, acho que sou a única com esse mesclagem, pois eles almejam a força bruta, em comparação com outras da minha espécie eu sou mais fraca nesse quesito.
ㅡ Cala essa boca e abre a maldita porta! Estou com fome poha, se demorarmos não vai sobrar nem a rapa da panela para nós ㅡ fala do da esquerda.
O ranger da porta de ferro abrindo esfaqueia meus ouvidos, fazendo-me sentir uma terrível gastura.
ㅡ Deixem-na na maca, não joguem ela de qualquer jeito seus babacas. Agora podem sair ㅡ Fala Ronland, irritado. Essa gentileza tem um preço, e é muito caro.
A porta é fechada, e meu inferno começa.
ㅡ Agora é só você e eu, docinho ㅡ sua voz doce, quase que melódica máscara o monstro que havia dentro dele, acorrentado na frente dos outros e solto quando estávamos a sós.
Posso sentir Ronland olhando-me maliciosamente, nem um pouco preocupado com minha "convulsão", sinto o contato impertinente por cima da minha bata, suas mãos apalpam meus seios, seus dedos são impacientes na exploração não consentida. Sua língua nojenta lambe minha boca, me contenho e fico imóvel, meu plano vai por água abaixo se ele notar que estou acordada.
ㅡ Como nos velhos tempos, mas dessa vez sem tesouras.
Ele começa abrindo o botão superior da minha bata.
ㅡ Sem agulhas.
Outro botão
ㅡ E sem bisturis.
Toda semana Ronland me inspecionava, fazia exames e checavam meus sinais vitais. E também toda semana ele abusava de mim, de min e de outras fêmeas, e eu sempre arranjava um jeito de feri-lo, com qualquer coisa. Acredito que o corte com o bisturi foi o meu melhor trabalho. A cicatriz profunda no seu pescoço prova isso, meu intuito era matá-lo, meu estado sonolento, embriagado impediram-me de obter êxito no trabalho.
Com um puxão ele rasga minha bata, já impaciente, e ouço os pulinhos dos botões ao caírem no chão e se espalharem por toda a sala. O som da fivela do cinto dele caindo no piso me aterroriza, meu sonho de liberdade é o único que me aquece e me conforta. Sol, calor, grama fresca. Sim, eu morreria para poder sentir isso novamente.
ㅡ Não se preocupe, vou cuidar muito bem de você.
Mãos leves acariciam meus cabelos, porém esses carinhos são substituídos por um tapa forte no meu rosto, a vontade de devolver é muita, me seguro o máximo possível para não transparecer a dor. Sinto minhas lágrimas umedecerem meus olhos, prendo-as firmes, não vou chorar, simplesmente não posso.
Matá-lo colocaria o Doutor no meu rastro com mais afinidade, pois eles eram irmãos de sangue, tornaria minha caçada, um tanto quanto, pessoal.
Surtando, nem acredito que essa é minha primeira história, finalmente criei coragem!
não cortem minhas assas ok? esse primeiro capítulo, o que acharam? gostaram?
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Novas Espécies - Liv (Completo)
Fanfiction(completo) A cobaia 00 de 17 anos planeja, há anos, fugir do laboratório terrível da Mercile, ela enfim arranja coragem depois da morte do único amigo que tinha, será que 00 conseguirá fugir? se sim, como ela viverá depois? se não, estará preparada...