Depois de acordar em lugar desconhecido eu decido sair dali o mais rápido possível, voltar a ser uma cativa não estava nos meus planos, a pessoa que me atropelou pode ser um cidadão comum ou um funcionário da Mercile, mesmo que sendo improvável que esse lugar seja um laboratório. Parece-me uma moradia comum, mas não irei ficar para ter certeza, fuja primeiro, tenha dúvidas depois.
Respiro profundamente, procurando cheiro humano na casa, fungo com o odor de mofo e poeira que impregna minhas narinas, o lugar deveria estar inóspito há algum tempo. Meus passos fazem a madeira sob meus pés rangerem, o ruído ecoa pelo lugar escuro. Outro Nova espécie teria escutado em alto e bom som, um humano, com sua capacidade auditiva limitada, não.
Adentro a porta seguinte a que eu estava e me deparo com um quarto todo rosa claro, um humano deitado em uma enorme cama, que parece bem deslocada naquele ambiente infantil, ela é o ponto preto do quarto, pelas marcas no chão, foi arrastada recentemente. O ser está deitado em uma posição estranha, as pernas e os braços abraçam um travesseiro grande e rosa.
Pego um vaso de vidro, ele está em cima de uma mesa de decoração, ele é pesado o bastante para nocautear alguém.
A respiração dele está leve, seu peito sobe desce vagarosamente. A cobertura cobre apenas metade do seu corpo, aproximo-me curiosa, calculando meus passos e não fazendo nenhum ruído sequer, ergo o máximo que eu posso o jarro, e antes que eu quebre-o na cabeça do humano ele diz:
— Quer mesmo agredir seu salvador? — No mesmo instante, salto para outro lado do cômodo, como uma gatinha assustada que acabou de perceber uma cobra desavisada. o fato de ele estar fingindo dormir não me assusta, mas sim sua voz terna e calma — Não sei se você conhece o nome, chama-se ingratidão. Ele afastou as cobertas e tem a displicência de se espreguiçar, como se a minha pessoa com um jarro de vidro na mão não apresentasse perigo algum para ele. Olho-o atordoada descobrindo meus caninos. O humano está portando apenas ridículos pedaços de tecido cobrindo seu membro, que aparentemente precisa ser aliviado.
Agacho-me, posicionando minhas mãos prontas para atacar quando o ser se levanta da cama negra, ele é, no mínimo, três polegadas mais alto do que eu. Seus olhos são de um castanho profundo que me observam atentamente, cabelo preto curto, o corpo bem treinado exibe músculos capazes de me encurralar, o medo sobe em mim. Voltando minha atenção para seu rosto fico confusa, sua expressão é de preocupação e cautela, não de raiva, franzo o cenho.
— Você deve prestar mais atenção ao atravessar a rua, acidentes podem acontecer — sua fala é pausada como se explicasse a uma criança petulante.
Ele caminha calmamente até um objeto branco retangular, e tira de lá uma jarra transparente com um líquido que parece água, bebe direto do gargalo, dando-me suas costas, eu poderia chegar nele em segundos e enfiar minhas garras em sua jugular facilmente, ele nem me veria chegando até que fosse tarde demais. Damos nossas costas quando estamos na presença de quem confiamos, esse... esse estranho confiava em mim?
Ao aproximar-se de mim, deixa a garrafa em uma mesinha de canto, oferecendo uma trégua silenciosa, não sou uma covarde de ameaçar uma pessoa desarmada que não me faz nada quando teve a oportunidade, quando eu estava desacordada no cômodo ao lado.
— Não chegue perto — o ameaço. Sério que você o ameaçou com um jarro? Não seria melhor pedir flores primeiro?
Noto ao lado da cama uma arma, essas coisas me dão medo. Calculo uma rota mais segura para pegar a arma primeiro. Ele percebeu minhas intenções e dá um passo se aproximando de mim logo após eu arrebatar a arma.
— Não chegue perto grrrr — Rosno. Dessa vez não consigo controlar e começo minha sessão de tremelique e andar de lado, sei que meu cabelo está parecendo que levou uma carga elétrica e meus pelos estão eriçados.
Em questão de milésimos ele me desarma, tento sair das suas mãos, mas estou muito fraca, há dois dias que não me alimento. Quando sua pele toca a minha sinto um choque, acompanhado de um calafrio que percorre todo meu corpo. E nesse instante contato que não me sinto presa, na verdade seus braços envolta de mim são reconfortantes, fungo alto, ele cheira tão bem, sinto vontade de passar minha língua por seu pescoço e ver por mim mesma se o gosto é tão bom quanto o cheiro. Forçar meu corpo um pouco mais me daria vantagem, meus instintos me dizem que está tudo bem.
— Te solto, mas só se você prometer não atirar — sua voz é calma, possivelmente divertida, mas é impossível dizer já que não posso ver suas expressões.
— V-você tem uma arma — falo embasbacada, ressaltando o óbvio, dando voz a razão.
— Eu nunca machucaria uma mulher — Ele diz para me tranquilizar, pois eu machucaria um macho sem pensar duas vezes.
— Não confio em você, humanos são monstros — falo mais para min do que para ele, como um humano pode ser meu companheiro? essa sensação, deve ser o cansaço e euforia, eu me sentia assim com 006, a presença dele me acalmava, eu queria estar perto dele sempre, e quando, às vezes, o levavam eu via tudo rodando ao meu redor.
Fungo balançando meu rosto, isso não pode está acontecendo. Me viro em seus braços e ele me agarra apertado, suas mãos encaixam minha cabeça em seu peito, estou bastante trêmula tentando suprimir minha luta particular com meu cérebro e olfato. Juntando toda minha coragem me deixo ser abraçada, inspirar seu cheiro é algo parecido com mato molhado e madeira. Rosno ao inspirar novamente, principalmente porque me dei conta que ele está só de cueca. O cheiro deles é igual, de 006 e desse estranho, como é possível?
— Eu não irei machucá-la, se quisesse já o teria feito. volte a dormir, precisa descansar — Ele me afasta do abraço, um vermelho toma conta da sua face quando percebe que me abraçou usando praticamente nada de roupa. Os humanos são estranhos.
— Você me prendeu aqui e as janelas estão trancadas — exclamo, procurando um motivo para colocá-lo na lista de pessoas ruins, mesmo meu instinto dizendo para confiar nele.
Na cama ele procura e acha algo, aperta o objeto pequeno e preto, ouço um clique.
— Pronto, as janelas estão destravadas, antes de ir embora saiba que estão te procurando. Melhor ficar por aqui até a poeira baixar, pelo menos até sua perna melhorar — sua atenção caí para minha perna direita enfaixada ao falar.
Ele deitando-se novamente na cama e se ajeitando para dormir, dessa vez de conchinha. fico imóvel parada observando meu humano. Pouco a pouco sua respiração se torna suave e novamente sei que ele dormiu.
Checo a janela próxima a cama, é de vidro diferente da do outro cômodo que parecia de metal, forço-a para frente e nada de abrir, sabia que ele estava me enganando, forço para trás, sabia que...
Interrompo meus próprios pensamentos quando forço para o lado e ela abre, uma brisa suave entra no quarto, o sol dos primeiros minutos da manhã me cegam temporariamente, fico quieta e inspiro deixando ele banhar minha pele.
Fecho-a.
Estou com tanto sono que sigo suas instruções e volto a dormir. Meu último pensamento antes de dormir " encontrei finalmente a liberdade".
Me deixem saber o que estão achando? será que ele é do mal?
Votem e comentem! se não vou assoprar no ouvido de vcs quando forem dormir.
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Novas Espécies - Liv (Completo)
Fiksi Penggemar(completo) A cobaia 00 de 17 anos planeja, há anos, fugir do laboratório terrível da Mercile, ela enfim arranja coragem depois da morte do único amigo que tinha, será que 00 conseguirá fugir? se sim, como ela viverá depois? se não, estará preparada...