Cap. 4 - Parte I

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   O SOL queima minha pele, e suor escorre pela minha testa. A carroça balança muito mais -- Se é que é possível -- que aquele monte de ferro que chamam de ônibus. Kell está sentada ao meu lado e a aba de seu chapéu de palha roça minha têmpora, o que já deve estar vermelho. Minha tia está sentada a minha esquerda com os pés esticados e Robert dirige a carroça sentado mais a frente com um chapéu de palha com a aba tão grande que faz ele parecer uma cabana. Sinto inveja, mesmo achando ridículo. Ser torrada dói, estar feia não. Apesar de muitas mulheres pensarem ao contrário.

   A carroça é pintada de um azul apagado e tem dois cavalos puxando morro a cima. Estou enjoada com o vai e vem tedioso e não ficarei surpresa se acabar colocando para fora, toda a abóbora que comi no almoço.

   -- Aquela moto está me deixando encabulada. -- tia Jane não parou de falar desde que saímos. Eu respondo com acenos de cabeça, apenas. Estou com medo de abrir a boca, por causa das ânsias. -- Será que tem alguma ligação, Robert?

   -- Qual moto, mãe? -- Fico feliz em saber que não é só eu que não estou mais prestando atenção nela.

   -- A moto que a Luna viu, você disse que tinha uns homens feios, não é fia? -- ela se volta para mim.

   -- Todos os homens daqui são feios mãe. Menos eu. -- Robert solta uma gargalhada da própria piada.

  -- Eu ainda não entendi. -- Falo ignorando o medo de vomitar. -- Qual o problema daqueles homens ter vindo daquela direção?

  Observo os olhos da tia Jane encontrar os de Robert.

  -- Nenhuma. Só é estranho, por que Robert teria encontrado com eles. -- Ela responde.

  -- E se eles passaram quando ele estava guardando minhas malas e nem notou?

  -- Teríamos ouvido. A estrada é perto, você sabe, dá para ouvir, e não passa gente... muita gente por lá.
  
     Lembro de Jim e como sua insistência me irrita, penso em como posso parecer ele se continuar a especular, mas não me importo.

    -- Por que não?
 
   -- Por que ninguém além da gente mora para lá. -- Robert responde já que minha tia agora parece irritada.  

    Não sabia. Isso significa que eles moram sozinhos cercados por uma mata enorme, de sabe-se lá quantos quilômetros de extensão.

     Tenho total consciência de estar parecendo uma criança e mesmo assim sou tentada a perguntar por que de novo. Mais resisto.

     Meu primo faz um shiiiii com a boca e mexe nas cordas que controlam a carroça e ela para. O morro é alto e vemos tudo lá em baixo. Meus cabelos esvoaçam com o vento, que parece mais forte aqui, e sinto um frescor maravilhoso em meu corpo assim que a brisa se choca com minha pele suada.

   -- Sempre adorei essa vista. -- Kell diz ao meu lado se enclinando, para conseguir  olhar para a frente por cima do ombro de Robert, já que ele está logo a sua frente, e é bem maior que ela.

  -- Maravilhosa -- Digo, observando o verde das pastagens, contrastando com o azul intenso do céu.

   A vista alcança bem longe daqui de cima. Um tapete verde cobre a terra lá em baixo, dividido por riscos como se fosse linhas pretas em um sulfite verde. Pontinhos brancos enfeitam a paisagem distribuídos desigualmente sobre o plano, como estrelas no céu. Gado. Chega um ponto em que os pastos acabam, dando início a uma floresta densa, e tão extensa que mesmo do morro onde estamos não consigo ver seu limite. Um lago caudaloso e calmo corta as pastagens e a mata. Do lado oposto, cercada por verde, vejo o que deduzo ser a Vila que me falaram. É bem pequena, um único borrão de tinta marrom, em meio a tanto Verde.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora