Cap. 13 - Parte II

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   — JÁ SABEMOS tudo, não? — pergunto para Dhiilay querendo voltar para casa.

   Tirar as dúvidas é maravilhoso, mas bom mesmo é estar de volta a nossa linda e amada – nem tanto, ultimamente: poluição do ar, hidrografia na UTI, desmatamentos... – Terra, porque um lugar que não amanhece não pertence sequer ao sistema solar! E será que essa lua é a mesma que ilumina nosso planeta? E se não conseguir sair daqui?

    Acho que nunca tiramos todas as nossas dúvidas. É meio que impossível. As vezes acho que nós, seres humanos, fomos condenados a isso, porque por mais que tentamos sempre vamos nos perguntar coisas como: "Qual o sentido da vida?" "Deus existe?"

   — Acho que sim — ele responde —, mas Xiina é meio maluca...

   — CALADO! — ela grita aparecendo pelo buraco. — Dhiilay, querido, por que ao invés de ficar falando lorotas, não conta para Kayo a origem dele e o que ele faz aqui, por que eu vou arrumar as coisas para a viagem.

  Arregalo os olhos. Ela vai junto! Quem vai aguentar essa mulher e Tia Jane juntas?

   — Mas você não... — ele inicia um protesto.

   — Vire-se! — ela corta-o e desaparece novamente.

  O barbudo suspira alto e depois de um tempo em silêncio, estica o pescoço para inspecionar discretamente se Xiina não está mais ouvindo.

  — Não sei se vocês perceberam mas... — ele balbucia.

   — Dhiilay! — ela aparece novamente nos fazendo pular de susto — Falando mal a minhas costas? Onde já se viu isso?

   — Xiina...

   — Eu te odeio, seu abutre! — ela suspira e começa a chorar alto demais para uma velha. O barbudo abre a boca para dizer alguma coisa mas ela interrompe parando de chorar tão rapidamente quanto começou: — Não diga mais nada! Suas palavras são tão nojentas como sua barba!

   Mordo a bochecha para não soltar uma gargalhada. Kayo funga em uma mistura de dor e vontade de sorrir deixando seu corpo pender no chão novamente e sua cabeça encostar em minhas coxas. Dhiilay revira os olhos e Xiina desaparece pelo buraco novamente.

    — Então, Kayo — ele fala alto para garantir que ela escute — segundo aquela senhora rabugenta, completamente louca, feia e...

    — Você me ama! — Ouço ela gritar.

    — Nem se eu tivesse o seu cérebro — ele retruca alto.

    Xiina não responde. Ele se vira para nós:

   — Após Kriem se entregar, os Moryniis...

   — Espere! — grito. — Mas fomos nós que roubamos vocês? — pergunto completamente confusa.

    — "Nós" quem?

    — Os Moriinys — respondo desejando com todas as forças que ele saiba responder.

    — Na nossa língua, Moriinys significa salvação, como a feiosa vidente ali te disse — rio discretamente —, e Moryniis significa Maldição, por isso que apilidamos assim os Pentacartenses.

    Então na pedra da biblioteca está escrito maldição e salvação ao mesmo tempo? Se eu sou a salvação, quem é a maldição?

   — Onde é Pentacarta? — pergunto ao velho voltando a acariciar os cabelos macios de Kayo. 

   — Não há só o nosso mundo, Srta. Moriinys, há vários outros. E acho que não precisarei contar-te pois se tudo correr bem, estou certo de que você conhecerá cada um deles, e seus habitantes.
  
  
   — Por que eu? — faço a pergunta que mais me incomoda.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora