Capítulo 17

93 10 0
                                    

Sinto os tentáculos repugnantes me abraçarem no instante em que caio batendo meu ombro com força no chão.

Meus braços são atados por eles como se fossem cordas geladas, gosmentas e ainda por cima: vivas. Gemo de dor quando eles apertam e sinto mais inúmeros deles me agarrando por todo o corpo e meus braços ficando roxo pela falta de circulação. É horrível. Um barulho metálico se faz ouvir e quando vou virar minha cabeça para ver o que é e pedir socorro, sinto um tentáculo atar meu pescoço e começar a apertar.

É o meu fim!

É o nosso fim!

Nem vou chegar a ver essa tal esmeralda.

Não vou ser capaz de ajudar aquele povo que está sofrendo tanto...

Os urros e gemidos das Panteras ainda ressoam e uma delas faz uma enorme força cravando as unhas em um dos tentáculos que tenta desesperadamente estripá-la.

Força! Preciso de força!

Mas eu não tenho. Nunca tive. Eu me entreguei quando perdi minha mãe, e agora que estou perdendo minha própria vida? Contudo, nosso instinto busca por sobrevivência e o meu, mesmo tendo me deixado na mão todo aquele tempo, faz com que eu praticamente agonize levando meus nervos ao extremo.

Mas como ainda estou acordada?

Um estalo metálico me liberta e mesmo com minha visão demorando um pouco para voltar, meu corpo se mexe em desespero e terror. Mais barulhos e sinto boa parte dos tentáculos serem cortados. Tem algo preto e prateado brandindo o que me parece ser dezenas de espadas... não, são as asas de Kayo. Enquanto me debato e tento em vão repelir as atadeiras nojentas e mortais, ele liberta parcialmente Elane e Robert que mordem os tentáculos com toda a ferocidade possível.

Percebo algo maior aparecer em minha visão periférica. Droga! É o dono dos tentáculos e eles não param de aparecer e se não estou enganada, onde Kayo corta, nascem dois, formando o que se assemelha a língua de uma cobra, embora essa seja um milhão de vezes mais ágil e perigosa.

Estou novamente atada. Muito mais atada. O tentáculo do meu pescoço agora são dois, e estão cada vez mais apertados. Enquanto tem ar em meus pulmões eu grito. Kayo parece ter perdido a batalha para eles, suas asas não são atingidas mas seu corpo está sendo esmagado fortemente. Não podemos morrer...

Não há nada o que fazer. Tudo a minha volta roda mas sei que os tigres não estão mais se mexendo, talvez até já se foram... sou tomada por um pavor tão grande que mesmo sem ar nos pulmões consigo chorar. Minha alma chora. Mas... eu ainda estou acordada talvez... Talvez seja minha vez de agir.

Me concentro ao máximo tentando lembrar dos passos que temos que seguir no pergaminho de Xiina mas nada me vem. Lembro de que tem algo sobre o olhar...

Quanto mais demorar menos são as chances de sairmos vivos daqui. Droga!

O medo só te trás mais medo.

Minha boca está começando a secar e a sensação é de que meu cérebro vai explodir a qualquer momento. Abro os olhos com todas as forças que restam e vejo Kayo atado e sua cabeça balança sem rumo, sem vida. Não! As panteras não emitem mais nenhum ruído. Porque ainda estou viva? Porque já não morri como eles? Seria mais fácil. Desejei isso por tanto tempo. Mas não é esse sentimento que predomina em mim: é a ira. Quero matar, massacrar, estrangular o bicho que matou-os. Quero desesperadamente agir, sair daqui. Sinto algo maior que eu, maior que ira, maior que qualquer coisa, crescer dentro de mim. Minha mente força em alguma coisa sem eu mandar, meu corpo estremece com uma vivacidade e vontade repentina, algo incontrolável.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora