Cap. 12 - Parte I

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COMO assim voltou? Ele já havia vindo aqui? Conhece essas pessoas, essa garota? Se bem que o sangue dela... Confesso que estou me sentindo desconfortável. A boa notícia é que ela fala minha língua.

- Largue-o, Sana! - A velha sentada no chão grita sem mexer nenhuma outra parte do corpo, que não seja a boca.

A garota desenlaça os braços de Kayo e olha ternamente para ele com as mãos em sua face. Vejo um pequeno brilho em sua bochecha refletindo a luz amarela da tocha: Ela está chorando.

Que ótimo! Kayo tinha até uma namorada aqui e fingiu não saber de nada este tempo todo! Mas a expressão dele me faz duvidar que de fato seja isso: Ele parece definitivamente não entender nada.

- Onde estou? Quem é você? Por que fala minha língua? O que tenho que fazer aqui? Por que vocês estão todos machucados? Como volto para a biblioteca? - Pergunto tudo de uma vez, vou explodir se ficar calada.

- Fotta, amor, pode vir aqui um pouquinho, a Srta. Moriinys parece uma máquina de interrogações - A velha pronuncia calmamente de onde está, sem se mexer, me fazendo estremecer.

Ela sabe meu nome! Como pode ter adivinhado? Ela leu minha mente? Minha respiração se acelera.

- Kayo... - me viro para ele e a garota ainda o observa deslizando a mão sobre seu peito. Kayo continua estático. - Vamos embora...

- Ninguém vai embora. Esperamos muito por isso. - A velha fala em um tom misterioso, se levanta e vem em nossa direção.

Seguro o ímpeto de sair correndo.

- Sana, não és Karion - Ela diz para a garota que respira alto, soluça algumas vezes e se retira lançando um último e caloroso olhar a Kayo, que devolve um olhar de completa confusão.

- Quem é Karion? - pergunto, sem entender.

Um vulto surge e fica paralisado ao nos ver. Deduzo ser o tal Fotta que a mulher gritou.

Acho que estou realmente muito feia! Essas pessoas parecem levarem um susto quando nos vê, como se eu fosse um monstro e Kayo tivesse de Lobisomem.

- Então és tu - Ela diz para Kayo, ignorando minha pergunta e olhando-o de cima abaixo -, motivo pelo qual ainda estamos aqui.

- Não compreendo... - Kayo começa mas ela interrompe-o. Assisto tudo tentando entender alguma coisa, fazendo de tudo para não metralha-la novamente com perguntas.

- Claro que não! Seu pai morreu.

- Não sei quem é meu pai! Nem quem é você! Não sei quem sou eu! - Kayo diz com uma voz tão firme que por um momento temo não ser ele que está do meu lado. - Não sei nada!

- Deseja saber? - a anciã esquisita pergunta com uma voz ainda mais enigmática e com os olhos estreitos, perto demais de nós.

Ele demora para responder e quando já estou prestes a gritar que se ele não quer saber eu quero, ouço sua voz novamente:

- Devo - ele troveja.

- Então seja bem vindo a minha humilde casa! - a mulher quase grita em uma alegria repentina e joga os braços para o ar. Acho que não podemos confiar em pessoas assim, podemos? - Só estava brincando - ela ri estranhamente.

- Quem é você? - pergunto para o cara que surgiu no mesmo buraco em que a garota estranha - que pelo visto confundiu Kayo com alguém chamado Karion - desapareceu. Ele tem a mesma feição que ela e mesmo com a luz escassa da tocha, consigo ver seu porte altivo.

- Senhorita Moriinys! E ela está falando comigo? Mamãe precisamos contar isso para o mundo. - É a reação dele.

E ele também sabe meu nome! Estou em um mundo escuro onde vejo milhares de pessoas mutiladas, sangrando negro e que aparentemente leem a mente dos outros. Quero sair daqui!

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora