Cap 8 - Parte II

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   DEIXO de observá-los e vou até kayo que aperta os olhos e mantem a mandíbula e punhos cerrados, para tentar segurar a dor. Me ajoelho ao seu lado e coloco as mãos em seu rosto tentando acalmá-lo; sinto ele relaxar e inspirar. Me pergunto porque estou tão preocupada, mas estou ocupada demais para pensar em respostas plausíveis.

   Ele leva a mão ao braço esquerdo que está completamente ensanguentado. Se eu rasgar mais partes do meu vestido vou ficar pelada, então fico parada olhando para ele sem saber o que fazer para ajudá-lo. E isso é no mínimo agoniante.

   — O que aconteceu?

   Levanto a cabeça e Kell está parada atrás de mim encarando Kayo pasma, provavelmente pela cor de seu sangue.  

   — Espere, mamãe dará um jeito nisso — Kell não espera eu dizer nada e sai correndo em direção ao acampamento.

  Os minutos parecem não passar. Sinto raiva do tempo. Por correr nas horas boas e  tropeçar nas horas más; Sinto raiva de mim por não saber o que fazer e não ser capaz de ajudar ninguém.

   — Oh! — Tia Jane exclama quando avista Kayo. — O que aquele bicho fez com você? — ela diz encarando ele — Quem é você?

   — Mãe...

   — Eu sei, Kell, vá cuidar de seu irmão. — Ela não discute.

   Estou ruim. Saio em direção ao acampamento e conforme me afasto um vazio me preenche; a medida que vou ficando sozinha com o silêncio, me sinto oca. Me sento em um tronco caído e debruço a cabeça sobre os joelhos. Preciso deixar essa fraqueza de lado. Por mais que eu tente, que jure; me sentir fútil se tornou rotineiro e isso me destrói. Quanto mais frágil me sinto, minha proteção, meu muro, aquele que me isola, que suga minha vontade de viver, se fortalece. Quanto mais me sinto forte mais fraca essa muralha que venho tentando derrubar, fica. Mas o que demorou dois anos para ser construído, não se destruirá em uma semana ou um mês. Não se destruirá tão fácil.

   Ouço passos atrás de mim, mas não levanto minha cabeça, até sentir braços enlaçar minha cintura.

   — Nunca pensei que veria você dessa maneira. Eu confunderia com um mendingo, facilmente — a voz de Robert invade meus ouvidos e tento deixar a sensação de normalidade e proteção me envolver. — Estávamos tão preocupados.

   Levanto a cabeça dos joelhos e olho para ele.

   — Tenho algo para te mostrar — enfio a mão no bolso da Jaqueta e tiro as folhas que achei dentro do livro e entrego a ele.

   — O que é isso? — ele pergunta desdobrando as folhas.

   Fico observando seus olhos percorrerem o papel devorando as palavras. Ele termina e não diz nada apenas junta as sobrancelhas em um gesto pensativo.

   — O que me diz?

   — Interessante. — Ele declara simplesmente. Pensei que fosse fazer um escândalo. Ele dobra as folhas e enfia no bolso da calça.

   — Ei, isso é meu!

   — Não mais. — ele diz e se levanta. — Vem. Precisa nos explicar da onde você saiu e quem...

   — Tudo bem, não precisa dizer. Eu vou explicar.

   Kayo está sentado encostado em uma árvore afastado de todos, observando o nada. Sua mente provavelmente está em outro lugar. Onde? Também gostaria de saber. Kell observa-o riscando o chão com um graveto. Tia Jane assa o que me parece ser queijo na fogueira ao centro. Elane está parada de braços cruzados e com uma sobrancelha levantada, olhando para o Coronel, que está sentado encostado em uma árvore encarando-a com a mesma intensidade. Não sei o que pensar da cena; só me jogo no chão perto do fogo sentindo o cheiro do queijo que está me matando, afinal só comi frutas esses últimos dias.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora