Cap. 5 - Parte I

135 23 1
                                    

   
     SINTO meu nariz coçar e ouço uma gargalhada. Viro para o lado, incapaz de sair daqui. Só percebemos como a cama é quentinha, quando temos que nos levantar. Algo me incomoda novamente e agora é no meu ouvido. Dou um tapa, como se quisesse espantar um mosquito e acerto uma mão. Outra gargalhada.

   -- Acorda, Luna! -- Uma voz   fina diz.

   Resmungo e me sento na cama, toda despenteada, cara amassada e olhos inchados. Eu ficaria constrangida, se minha raiva e frustação não fossem tão grandes. Quem liga para aparência? Só quero dormir. Meu corpo quer dormir. Meu cérebro vai dormir. Sinto meus olhos ameaçaram se fechar e meus sentidos sumirem. Me jogo no colchão mais uma vez de barriga para baixo.

   -- Acho que precisamos apelar, Kell.

  -- Já estou indo. -- Digo com a cara amassada contra o travesseiro.

  Eles riem mais uma vez.

   -- O quê você disse? -- Robert fala ainda rindo. -- Para de ser mole, Luna. Nós vamos se atrasar. -- Ele me chaqualha e me levanto indignada, murmurando alguma coisa que nem eu sei o que é.

      Minha orelha ainda coça e minha vista está embaçada. Nós três entramos na cozinha e minha tia sorri alegremente, mexendo no fogão.

   -- Bom dia, Luna. -- Sua expressão se ilumina ao me ver, porém muda imediatamente. -- Robert o que é isso em sua mão. -- Acompanho seu olhar e Robert esconde uma mão atrás das costas. -- Pode me dar. -- Ela fala como se ele fosse um bebê, apesar de suas ações o fazer parecer um.

    -- Não é nada. -- Ele diz.

    -- Me dê. -- Ela exige. Conhecendo bem a mãe, ele cede e entrega uma pena para ela. -- Quando você vai crescer, Roby? -- Bem feito. Tenho vontade de mostrar a língua para ele. Roby! Nós o chamávamos de Roby

     Ela se vira e encerra, assim, a repreensão. Acompanho Kell que me conduz ao banheiro.

   -- Acho que você não vai querer, mas um banho vai ajudar. -- Ela percebe meu olhar pesado.

   -- Gelado? Nem pensar.
  Apenas lavo o rosto, e escovo os dentes.     

   -- Mãe, não acha melhor ficar com Rosa hoje? É perigoso passar o dia aqui sozinha. -- Ouço meu primo perguntar para a mãe, quando já estou de volta a cozinha.

   -- Até você? Quanto tempo moramos aqui? -- Minha tia diz, terminando de colocar o café da manhã na mesa, e se juntando a mesa onde Kell e Robert já estão sentados.

      Me sento a mesa, mais com o intuito de escutar a conversa, do que de fato comer. Quero saber mais sobre isso e poder me proteger. Já estou pensando seriamente em voltar para casa.

   -- Eu sei. Mas é perigoso de qualquer forma. Leopoldo está toda hora rodeado por gente e mesmo assim desapareceu.

  -- Vocês conviviam muito com ele? Esse tal Leopoldo quero dizer.

  -- Ah... sim. -- Minha tia fala triste. -- Ele é um amor de pessoa. Muito amigo de Robert.

   -- A irmã dele parece determinada a encontrá-lo. -- comento. Mesmo não me simpatizando com ela no ônibus, gostei de sua firmeza.

   -- Precisamos ficar de olho nela, antes que faça alguma besteira. -- Kell fala. -- Isso não é brincadeira.

  -- A única coisa que precisamos saber é o Rh dela. -- Robert corrige. -- Mas ela não corre perigo. -- Ele acrescenta. 

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora