Cap. 13 - Parte I

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    O LUAR adquiriu um brilho avermelhado; o vento congelante continua a uivar enquanto se choca com os abrigos; sinto mãos em minha cintura me carregando por entre as casas em direção a cabana de Xiina; Não consigo gritar ou me debater mesmo estando em pânico, e isso se deve ao meu espanto com a cena ao meu redor: criaturas evacuam suas casas em uma confusão de pelos, unhas, dentes e sangue. Todos se transformaram ao sinal.

    Sou empurrada pelo buraco e, cambaleante, quase caio no chão de terra. Olho desesperada para o dono das mãos e vejo Xiina parada respirando pesadamente e com o rosto horrivelmente retorcido. Ela imediatamente vem em minha direção; tento correr mas ela me agarra e me arrasta com uma força sobre-humana pelo buraco onde Sana entrou chorando quando ainda estávamos aqui e em meio a luz bruxeleante da tocha que se retorce com o vento frio, vejo uma jaula com a porta aberta. Por mais que eu tente, que se debata o máximo que posso, Xiina me empurra para dentro e tranca-a pelo lado externo.

    -— O que é isso? Me tire...

   Não consigo terminar. Vejo seu corpo se retorcer e seus cabelos sumirem, assim como o negrume dos seus olhos passar a emitir um brilho sobrenaturalmente forte e na mesma proporção que o olhos de Kayo são vermelhos o da velha são azuis.

    Minha respiração está acelerada e meu coração bate em disparada. Um leve tremor tomou meu corpo talvez pelo medo, pelo susto ou pelo esforço para me livrar de Xiina.

    Outra Criatura se aproxima e começam a lutar. Vejo Xiina cravar a unha com força e vontade no outro que se curva com a dor soltando um urro estridente.

   — Não! — Grito, mas é em vão.

    Qualquer esforço meu será perca de tempo. Agora compreendo Xiina. Ela me colocou aqui onde ninguém, nem ela própria, consegue me alcançar.

    O outro Lobisomem crava os dentes afiados no ombro da criatura de olhos azuis, esta se retorce e aproveita a oportunidade para deixar três valas nas costas do oponente que minam sangue negro em resposta. Ambos gritam de dor.

     Corro até o fundo da jaula, me encolho e fecho os olhos. Isso é muito para mim. A lembrança de Kayo invade minha mente. Ele deve estar sofrendo como todos os outros. Mas eu não posso fazer nada. Nada. Queria poder ajudá-los. Mas como? Não há nada o que fazer. Não agora. 

    Ainda não.

    Encolhida, reduzida a nada e com os olhos fechados, mentalizo com todas as minhas forças as palavras de Kayo; as feridas pelo corpo das pessoas; o sofrimento de todos eles; e com uma força imensa no peito prometo a mim mesma que tirarei esse povo daqui.

    Nem que tenha que dar minha vida inútil para isso.

      Os gritos de dor aumentaram, acho que mais alguma criatura se juntou aos dois, nessa batalha pelo nada; não tenho certeza pois me recuso a levantar a cabeça para assistir. Lágrimas pesadas escorrem pelo meu rosto e molham meus joelhos.

    Os gritos parecem não acabar mais e o sono começa a me rondar. Abro um cantinho dos olhos e tenho a impressão de ver um lobo de olhos vermelhos urrar em desespero. Pedindo socorro.

    A última coisa que escuto é um estrondo que faz a terra tremer. Semelhante a um corpo grande e pesado entrando em contato com o chão.

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    Minha cabeça paira sobre algo macio.

    Macio?

    Levanto-a imediatamente e olho para cima.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora