Cap. 12 - Parte II

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   — HERDEIRO? — Ele pergunta pasmo.

   — Sim. Não sei explicar bem, porque Xiina faz questão de esconder metade das visões. — ele lança um olhar magoado para a mulher que não demonstra compaixão alguma. 

    Kayo escora os cotovelos nos joelhos e pousa a cabeça nas mãos, enterrando os dedos no cabelo que cai para frente tapando seu rosto, em um gesto preocupado. 

    — Não ligue para minha mãe — Fotta recomenda.

    O homem barbudo se volta para nós, abre a boca para falar algo quando ouvimos uma voz altíssima.

    — Seu pai não voltou por sua causa — a velha diz.

    — Karion era meu pai? — ele pergunta com os olhos estreitos e identifico um certo receio em sua voz.

    — Você não sabia disso? — É a vez de fotta perguntar.

    — Não — Kayo responde.

    — Por que não? — Dhiilay pergunta parecendo confuso.

    — Não importa! — a voz da velha corta o ar pesado e abafado do lugar novamente. — O que importa é que ele transmitiu toda a responsabilidade dele a você, Kayo. E a fraqueza só vai te trazer mais fraqueza; a bravura, te traz mais bravura; o amor, mais amor; e a paciência, mais paciência — ela diz tudo pausadamente e com voz sombria. — E você, Luna, se fraquejar como sempre fraquejou certamente perecerá nos próximos dias. Certamente não alcançará o final, não cruzará a linha de chegada. Não presenciará as próximas batalhas.

    Um silêncio recai sobre a cabana. A tocha que ilumina o lugar permanece calma.

    — Gostaria de dividir conosco como era a mulher por quem o rei Karion se apaixonou? — A velha pergunta para Kayo.

    Ele fuzila-a com o olhar. Nunca o vi tão irritado. Ela não parece se intimidar.   
 
    — Como era a mulher que fez com que Karion nos abandonasse? — insiste.

    — Não se refira a ela dessa maneira — ele diz firme se levantando.

    — Você me lembra seu pai. Tenho pena de Sana — ela continua agora em um tom melancólico.

   — Qual o problema dela? — Não resisto. 

   Ninguém diz nada e parecem aflitos. O que fiz de errado? Simplesmente perguntei.

   — Voltando a sua mãe...

   — Você não precisa saber sobre ela — ele diz e caminha para a porta pisando firme.

   — Não, eu não preciso — ela concorda.

   Kayo desaparece pelo buraco.

    Essa mulher é louca! Se não precisa saber por que perguntou?

   — Mas alguém precisa — Completa, sombria.

   Me levanto imediatamente, passo por Fotta e Dhiilay que assistem tudo paralisados, e me arremesso pelo buraco a tempo de ver, pela luz da lua, Kayo virar em um beco.

    A atmosfera desse lugar é parada e cheira mal. Cheira a sangue. Um arrepio percorre minha espinha e sinto minhas pernas bambearem por um segundo.

    Paro no lugar onde vi Kayo desaparecer pela segunda vez. É extremamente apertado e isolado entre uma casa e outra, de modo que fique escuro pois a casa da direita faz sombra, o que contribui para deixar o lugar ainda mais pavoroso.

   Tem algo lá. Não consigo distinguir nada além de alguma coisa encolhida no chão.

    — Kayo — Chamo receosa.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora