Cap.7 - Parte II

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   -- ACORDA -- sinto o calor de uma mão, suave e o melhor, humana, em meu ombro e ergo a cabeça.

   Meu cabelo embaraçado cai desajeitadamente no meu rosto. Tiro-os com uma mão e com a outra esfrego o olhos esquerdo. Ergo os olhos e mesmo entardecendo consigo identificar os cabelos tampando boa parte do seu rosto e os olhos verdes em mim.

   -- Você deve estar cansada. Só acordei-te para que se alimente. -- acabei dormindo debruçada sobre a mesa e por incrível que pareça não sonhei. Talvez não tenha dado tempo.

  -- Ah... O.k. -- Digo desviando timidamente os olhos dele.

  -- O quê?

  Ele vai continuar a me perguntar isso todas as vezes que eu falar então é melhor explicar logo.

   -- Okay, significa: sim, tudo bem... -- pego uma goiaba e mordo-a. Não sei quanto tempo vou durar comendo apenas isto. -- Por que não havia se transformado antes? -- pergunto depois de um tempo, sem olhá-lo. -- Queria me assustar?

   -- Jamais -- Ele diz desconfortável. Olho discretamente para ele e seu rosto demonstra aflição. Ele deve ter sofrido algo muito ruim. "Acho que sou depressão" sinto pena dele e resolvo acabar com seu sofrimento.

   -- Tudo bem. Esquece -- pego outra goiaba. -- Você não sabe ler, não é?

   -- Muito pouco -- vejo ele levar uma mão a cabeça e tirar um tanto desajeitadamente uma mecha de cabelo do rosto, para minutos depois ela voltar ao mesmo lugar. Ele parece não se importar. Assisto tudo pelo canto dos olhos, sem que ele perceba.

  -- Então não são suas aquelas cartas?

  A agonia volta para seu rosto.

  -- São... para minha mãe. Eram deles.

  Explicado. Isso implica que o pai dele seja um lobisomem que se relacionava com uma humana, uma caçadora. Bela história. "Estás a mulher mais linda do mundo"  gravida de Kayo, em outras palavras. Mas o que aconteceu com eles? E se Kayo é como o pai, será que existe mais deles?

   A noite vem chegando e agonia toma conta de mim, porque dormir significa ter pesadelos. Não sei e não quero perguntar para não parecer antiquado de minha parte, se Kayo vai dormir em forma humana ou não. As duas me deixam desconfortáveis em mesma quantidade então não vai fazer diferença alguma.

   -- Não quero passar por aquilo outra vez -- Ele diz do nada.

   -- Tenho algumas ideias do que fazer. -- digo -- Está se sentindo melhor?

   -- Sim. Mas dói quando mexo-me.

   -- Incrível, como cura rápido.

   -- Curar rapidamente não significa menos sofrimento.

   Não sei se faz sentido.

   -- Amanhã de manhã você vai me levar para casa.

   Ele me encara. Seu olhar quase doi. Me seguro para não corar. Minha vida realmente virou de cabeça para baixo. De repente um mostro virá um príncipe. Droga. Sorte que não precisou de beijo. Rio de minha idiotice.

   -- És engraçado?

   -- O quê? -- Finjo não ter entendido.

   Ele balança a cabeça negativamente em um movimento microscópico, pensativo. Parece arrependido.

    -- É uma maneira -- digo -- De se livrar deles.

    -- Não entendi -- confessa.

    -- Você vai entender. Agora quero ir dormir. -- digo e me levanto.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora