Capítulo 2

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    QUANDO a sorte te abandona, Quando a vida te derruba, quase sempre alguém te vira as costas. Mas aprendi que quando isso acontece essa pessoa não merece a honra de sua companhia. Fico observando o cartão por um tempo sem nem piscar. Foi exatamente isso que Nicholas fez comigo.

    Quando as coisas ficaram ruins pra mim ele simplesmente nunca mais me procurou, passou a me ignorar. Agora que já faz seis meses que tive minha última perda, ele deve estar achando que está tudo bem, que não vai ter que aguentar choro e lamentações infantis e que voltei a ser quem eu era antes. Mas isso nunca vai acontecer, minha linha do tempo já tem dois marcos tristes que vão estar sempre lá, toda vez que eu olhar pra ela. Nicholas com certeza não merece minha companhia.

     — Está tudo bem?

   Acordo do meu breve instante de reflexões e o encaro pensativa.

   — Jim, você faria um favorzinho para mim? — Pergunto, e jogo as flores para ele.

    — Claro, As suas ordens Madame. — Ele. responde, incapaz de não tentar bancar o engraçado toda vez que abre a boca.

   — Me dá licença um minutinho, já volto e digo o que fazer. — Falo fechando a porta na cara dele.

    Vou até a escrivaninha coloco o papelzinho com o número de telefone em um canto e procuro uma caneta. Não acho nenhuma, não sei o que acontece com minhas canetas, todas as vezes que procuro uma não encontro. Abro a última gaveta do meu criado mudo e pego meu diário. Faz tanto tempo que nem olho para ele. Abandonei-o assim que minha rotina começou a ficar monótona todas os dias não conseguia escrever nada além de: Levantei, tomei café, fiquei olhando para o nada um tempão, aumoçei, fiquei pensando e chorando a tarde toda e desci para o jantar. Então resolvi parar de escrever. Puxo a caneta que costumo deixar dentro dele e volto a escrivaninha.

    Escrevo no verso do cartão que veio com as flores:

    Não me procure mais.
          Luna Moriinys
P.S.: Enfia essas flores ridículas em suas cavidades nasais.

   Pego o cartão, me levanto, e vou até a porta.

   — Jim. — Chamo olhando para os dois lados do corredor.

   — Sim. — Ele responde sentado no chão ao lado da minha porta.

Levo um susto e olho para baixo.

    — O que você está fazendo aí? — Não espero ele responder —Tome e mande para o mesmo endereço. — Digo e após ele se levantar coloco o cartão no devido lugar.

    — Você demorou um pouco mais do que o esperado, sabia? Podia ter me convidado para entrar, meu trazeiro já estava começando a doer. Não entendo porquê você nunca curtiu minha companhia. — Ele diz e se vira — Tomarei conta disso amanhã. Já volto, meu bem.
Ele sai. Como um ser humano pode me irritar tanto? Acho que o fato de ele exalar alegria e eu, espalhar tristeza.

   Entro no meu quarto e pego o número de Tia Jane. Disco e coloco para chamar.

   — Alô, é você não é, Luna? — Ouço uma voz altíssima do outro lado da linha, que tenho que tirar o telefone do ouvido para não ficar sem meus tímpanos. — Tudo bem, querida?

     — Estou sim, Tia, e vocês como estão? — Digo.

     — Estamos ótimos, você precisa ver a felicidade que Kell ficou quando soube que você viria.

   — É também estou feliz — Minto. — E Robert? — pergunto.

    — Você precisa ver como ele está bonito, bem longe daquele magricela de antes.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora