Cap. 9 - Parte II

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    NÃO consigo responder. Apenas respiro fundo tentando acalmar-me do susto.

   -- O que está fazendo por aqui? -- pergunto sentindo uma rajada de vento jogar meu cabelo para frente fazendo as pontas tocarem o corpo preto e grande a alguns centímetros de mim. Estremeço. Um relâmpago corta o céu e posso ver, muito rapidamente, sua forma monstruosa.

  -- O que tu fazes por aqui? -- devolve a pergunta sem me responder. -- Nestas horas e sob tamanha tempestade?

  Não sei o que dizer a ele. Devo contar a verdade? Estando ciente de que é impossível prever sua reação, é melhor mentir. Mas como mentir? Dizer o quê? É melhor dizer a verdade. Ela sempre prevalece.

   -- Preciso de você -- digo com cuidado. -- vamos te ajudar.

   Ele fica em silêncio.

   -- Luna! -- ouço uma voz feminina vindo de longe.

   -- Volte -- ele diz. -- Vais ficar doente.

   -- Precisa levar-nos a sua casa. -- digo enquanto ouço me chamarem novamente. -- Vamos...

   -- Tudo bem -- sua voz horrenda corta o silêncio da mata. -- Não há motivos para que se preocupes, estarei por perto cuidando de ti e pronto para ajudar-te.

  -- Por que? -- solto a pergunta sem perceber. Não há motivos para ele se preocupar comigo dessa maneira e porquê disse que ia embora, se não foi?

  Seu silêncio me irrita.

   -- Apareça ao amanhecer -- digo encerrando o assunto. -- Vamos acabar com isso de uma vez -- completo deixando-o para trás na escuridão.

   -- Durma bem -- ouço-o me desejar.
   Não respondo. Ele precisa sentir a dor do silêncio.

   Sigo as vozes desesperadas que me chamam a todo momento e não demora muito estou de volta ao acampamento toda molhada, mas com a causa resolvida.

    Foi fácil demais. Meu cérebro acusa. Algo difícil me espera. Afinal a vida é feita de fases e elas são posicionadas alternadamente. O ruim é que não sabemos quanto tempo cada uma delas vai durar.

°°°°◇□◇°°°°

    Novamente sou seguida por uma águia, duas Panteras e uma espécie de lobo branco alado; uma cobra gelada desliza sobre meus braços e estou em um deserto infinito. A sede está me matando e minha pele arde com os raios ultra-violetas.

     Agora o coronel atira sem parar em Robert fazendo seu corpo pular conforme as balas penetra-o, grito sem parar e Tia Jane chora se colocando em frente o corpo. Gradativamente tudo muda e Kell está caída em um chão gramado, mas não consigo ver o que a atacou. Corro até ela mas a vida já abandonou seu corpo; lágrimas e mais lágrimas escorrem pelo meu rosto e começo a gritar implorando para que volte, implorando socorro. Estou novamente sozinha com Kayo e ele está em forma humana jogando os cabelos crescidos para trás e me encarando com seus olhos verdes.

    No minuto seguinte estou encurralada entre dois homens mascarados e com as armas apontando para mim; e Kayo me observando lambendo os beiços e sangue pingando de suas presas. Não entendo porque, mas sinto minhas pernas me levarem até Kayo e me colocarem de joelhos diante dele encarando seus olhos vermelho e unhas mortais. Parte de mim quer correr outra parte quer ficar ali, diante dele. Humilhada.

   -- Eu até te cutucaria, mas é tão divertido ver você sofrer.

   Por um momento penso que ainda estou sonhando mas uma mão quente me traz a realidade. Meu mundo roda: em uma fração de segundos acredito estar na minha cama olhando para o lago pela porta de vidro e Jim me cutucando; depois o buraco na parede da casa velha de Kayo e ele em forma humana me observando; e finalmente a abertura da barraca, com Robert esticado ao meu lado, com aquele sorriso safado no rosto.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora