Cap. 9 - Parte I

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   -- LUNA, onde fica essa tal Casa? -- Robert pergunta assim que me vê enquanto coloca lenha na fogueira. 

   -- Mata adentro -- digo prendendo o cabelo.

   -- Muito longe daqui?

   -- Bem -- digo me sentando no chão ao seu lado --, andei quase a manhã inteira.

   -- Consegue nos levar até ela, não?

   -- Como? No meio disso? -- pergunto. É quase impossível eu saber. -- Mas... por que a pergunta?

  Algumas folhas se agitam e viro-me para verificar, com um pouco de receio é claro, o que é.

     O Coronel Saturnino está encostado em uma árvore atento a tudo. Acho que o encontro com Kayo aguçou sua imaginação. Eu sei o que é isso: sua mente começa a imaginar formas fantasmagóricas em tudo; um simples arbusto, por exemplo, a noite pode se transformar no mais terrível dos fantasmas.

   -- Kell está convencida de que esse lugar e toda essas coisas... ãhn... sobrenaturais -- ele demora na palavra -- e meio... absurdas, podem nos levar ao nosso pai, Yumi, Kenny e todos os outros. A esperança é a última que morre, não é?

   Estranho, ele não citou o Leopoldo.

   -- Eu não acho que tenha alguma ligação com isso -- Declaro desviando a atenção do coronel que além de atento parece extremante mal humorado. -- Mas de qualquer forma tem algo relacionado a nós. Você acredita em mim, não é?

   Ele não diz nada.

   -- Por que eu mentiria, Roby? -- digo me virando e observando a claridade amarelada das chamas no rosto dele.

   -- Eu sei que você não mentiria, mas mesmo assim não é fácil acreditar -- ele joga um graveto na fogo e diz depois de um tempo: -- Mamãe e Kell nos contaram o que aconteceu com você.

   -- Eu sei, também não foi fácil para mim. Mas é verdade -- digo tentando convencer tanto ele quanto eu. -- Eu não estou ficando louca. 

   -- Preciso admitir que você nunca foi muito certa das ideias -- Meu primo diz com um sorriso.

   Dou um soco em seu braço.

   -- Não teve graça. E como você explica esses arranhões no rosto? -- digo também sorrindo por me dar conta do quanto gosto de conversar com ele. -- Tenho que admitir que você já não era muito bonito e... provavelmente vai ficar cicatrizes nada agradáveis complementando sua beleza escassa. 

   Kayo deixou três cortes fundos na bochecha dele.

   -- Elane concordou -- Muda de assunto. Levanto uma sobrancelha me declarando vencedora e ele sorri.

   -- Com o quê? -- pergunto assim que me dou conta de suas palavras.

   -- Em verificar o lugar que você esteve estes últimos dias.

   -- Como?! -- Não dá para acreditar, ela se mostrou tão durona mais cedo.

   -- Ela está lá dentro -- ele aponta para uma barraca --, e não desgruda das folhas. Já deve ter decorado. 

   -- O que você acha delas?

   Ele pega um graveto e desenha alguns homens palitos na terra.

   -- "Homens roubados. Tesouros levados." -- ele recita a primeira frase do texto ponderando sobre cada palavra. -- Elane diz que provavelmente se trata de uma profecia muito antiga, e que se refere a vingança, guerra, algo do tipo. 

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora