capítulo 3

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A MESA do café está silenciosa. Meu pai nunca se reúne comigo e quando faz isso só fala de trabalho, dinheiro essas coisas, e hoje não foi diferente; deve ter tomado café antes mesmo do sol nascer, para ele qualquer segundo perdido é desperdício. Sempre achei chato comer sozinha; as refeições são momentos de reunir a família, conversar e trocar ideias. Eu fazia isso com minha mãe.– e depois com minha vó – todas as manhãs.

    Hoje me sinto terrivelmente sozinha e solitária. Jim que sempre aparece nesta hora para me amolar, não deu as caras, deve estar chateado de ontem, ou cansou de uma vez de mim. Me sinto terrivelmente sozinha. Estou terrivelmente sozinha. A dois anos atrás essa casa era motivo de orgulho para mim, Eu dizia para todo mundo onde morava, me sentia muito bem aqui, hoje daria tudo para não estar sentada diante de toda essa grandeza, me sentindo tão pequena. A mesa mede mais ou menos quinze metros e evito o máximo que consigo, olhar a outra ponta onde minha mãe sentava. E mais uma vez as lembranças me preenche.

   Afasto o pensamento, não quero pensar nisso. A taça e ainda está quase cheia de suco, não consegui comer nada, não tenho fome. Olho para a janela e raios de sol entrão por ela, o dia parece estar tão lindo, um vento fresco entra em contato com meu rosto e meus cabelos, isso por algum motivo desconhecido me faz pensar no pesadelo que tive esta noite.

              °°°° ◇□◇°°°°

   Primeira vez em uma rodoviária. Eu conheço bem o aeroporto, porque já viajei várias vezes, mais nunca havia vindo aqui. Ônibus  chegão e sai a todo momento. Jim está comigo disse que meu ônibus já vai chegar, e me tranquiliza dizendo que ligou para Tia Jane e ela vai mandar Robert ir me buscar.

    Ele está legal hoje, não sei se foi ele que mudou ou minha maneira de vê-lo, depois de ouvir tudo aquilo. Ontem de manhã, depois das minhas tentativas frustradas de comer, ele apareceu com um sorrisão no rosto e engatamos uma conversa até agradável, depois passamos o resto do dia fazendo minha mala, fomos ao shopping comprar algumas coisas e ele me deu uma jaqueta de coro preta de presente.

   O fato é que as palavras que Jim proferiu, me atingiram, ou melhor me despertaram. Eu estava mesmo andando, a dois anos, sobre os lados de um triângulo que eu mesma criei, cujos vértices eram: cozinha, quarto e varanda. Todos os dias eu traçava apenas este mesmo caminho. Minha vida se resumiu a isso.

     Meu ônibus é velho e chaqualha muito. Me sento em um dos primeiros bancos e sinto um frio na barriga ao ver a rodoviária cada vez mais distante.

    Já estou andando nesta coisa a mais de cinco horas e só paramos duas vezes para ir no banheiro e lanchar em um restaurantezinhos de beira de estrada. Comprei um salgado – Não tinha sanduíche natural – e refrigerante, já que não ia dar tempo de preparar um suco. E como se não bastasse uma morena que compartilha o mesmo banco comigo, solta uma gargalhada altíssima ao ouvir o meu pedido.

   Minha cabeça e minhas costas doem, minhas pernas também, Meu traseiro, e... É mais fácil listar o que não dói. Esta, sem dúvida alguma, foi a pior noite da minha vida. Umas nove horas da manhã, avisto pelo vidro, um homem com uma camisa preta de botões, sentado em uma moto velha parado numa encruzilhada. O motorista para, ele entra com rapidez e olha para os passageiros. Percebo o olhar que a morenona, do meu lado lançou para ele, sorrio, ele comprimenta-a sorrindo.

  Sinto os olhos dele sobre minha pele. E um sorriso também endereçado a mim.  

   — Vamos.

   Meu Deus! Não pode ser Robert!

    Vou caçoar dele depois. Ele era nanico e magricela a última vez que o vi e aqueles músculos parado na minha frente não tem nada a ver com magro. Olho pra ele que sorri. Claro que é ele. Quem mais tem aquele sorrisinho de moleque encrenqueiro.

O Lobo e Eu (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora