Capítulo 15

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Era o dia do jogo de estreia. A semana havia acabado rápido demais, o fim de semana havia passado, rápido demais. E as aulas da segunda-feira também voaram. 

Tudo conspirando para o meu desespero.

Eu estava morrendo de nervosismo dentro do vestiário, batia o pé desesperadamente no chão enquanto minha amiga tagarelava alguma coisa que eu não prestava atenção e prendia seus longos cabelos loiros em um rabo alto.

–Calum está ali na porta – Maggie, uma das garotas do time avisou em tom mais alto, ao entrar no vestiário.

 Mackenzie se levantou, provavelmente iria até lá. 

– Ele pediu para chamar você, Alexis – morena adicionou quase se divertindo, por fim. Fazendo a outra garota dar meia volta, contrariada.

Segurei a risada ao ver a cara emburrada da ruiva no momento em que passei por ela, no meu caminho até a porta. Ellie não foi tão discreta, e começou a gargalhar sozinha lá de seu lugar.

–Caralho, esses shorts ficam mais curtos a cada ano. – o moreno parado ao lado da porta, brilhantemente observou assim que colocou os olhos em mim.

–Você acha que já não reclamei disso? – comentei divertida.

A escola fornecia novos uniformes a cada ano de competição. Nossa cor desta vez era azul escura, assim como a do time de futebol.

 Consistia em uma camiseta padrão, com numero (o meu era 5) e nossos nomes escritos atrás, em conjunto com um short preto, que era justo e curto. Eu francamente não sabia o que passava pela cabeça da direção ao nos colocar em algo como aquilo em frente a toda aquela torcida. Também usávamos um meião preto, até o fim da panturrilha, com a intenção de disfarçar nossa falta de roupa, mas não adiantava nada no fim.

–Oh não – ele respondeu sacana – eu nunca reclamei.

–Idiota. – resmunguei, revirando os olhos, e deixando um tapa estralado em seu braço esquerdo.

–Trouxe pra você. – ele estendeu uma garrafinha de plástico colorido, não era possível ver o que tinha dentro com clareza.

–E o que seria? – arqueei as sobrancelhas, estranhando.

–Vitamina! – ele respondeu simples. – Fiz mais cedo, prometo que está boa.

–Obrigada Cal, –sorri com gentileza – mas não vou tomar agora não, o jogo está pra começar.

–Imagino que você já tenha comido alguma coisa antes, então..? – ele averiguou.

Suspirei, toda aquela história de comida ia começar de novo, só o que me faltava.

–Claro – menti.

–Você não vai mentir pra mim, –ele negou com a cabeça – nem tenta.

–Pode, por favor, me deixar em paz com isso?! –reclamei – Poxa vida, toda hora é alguém diferente, me dizendo como estou agindo errado com isso, errado com aquilo. Já pararam para pensar que a vida é minha?

–O que você está pensando, Alexis?! –me repreendeu – Se você desmaiar no meio do jogo, assim como eu sei que fez na semana passada durante o treino, eu vou te dar uns tapas assim que você acordar!

Ellie era mesmo uma filha da mãe, me prometeu que não falaria sobre o incidente acontecido naquela semana, mas foi correndo contar pra Calum.

–Isso realmente não é da sua conta. – resmunguei– E nem da Ellie, ela não tinha que sair falando isso por aí.

–Ela me contou porque estava preocupada contigo! – ele a defendeu – Todos nós estamos. Eu realmente não sei o que pensa que está fazendo, – seu tom aumentou – mas não vou deixar você destruir sua saúde diante dos meus olhos.

–Não preciso de babá, qual sua dificuldade de entender isso?!

–Não sou sua babá, sou seu melhor amigo e eu vou cuidar de você. Com, ou sem, sua aprovação.

Revirei os olhos, prestes a simplesmente virar as costa e caminhar de volta ao vestiário, mas o garoto segurou meu braço primeiro, como se tivesse previsto meu movimento.

–Só vai sair daqui, depois de no mínimo metade da garrafa vazia. – ele me lançou um olhar mortal, estendendo a garrafa, que eu segurei relutante.

–Isso é ridículo – resmunguei, não colocando fé em sua ameaça.

–Posso ir direto falar com sua treinadora – ele voltou a falar – Ela adoraria saber de seus hábitos super saudáveis de passar fome, eu imagino.

Em primeiro lugar, eu não "passava fome". Sempre que sentia vontade, comia alguma coisa, acontece que meu apetite era meio fraco, o que há de tão errado com isso?!

–Você não se atreveria. – eu desafiei, levantando minha cabeça para encontrar seus olhos, que me deram uma espécie de choque, Calum estava mesmo puto da vida.

–Vai pagar pra ver? – ele revidou, colocando seu rosto em uma distância próxima demais do meu, fazendo nossos narizes praticamente se tocarem e minhas costas irem contra a parede do corredor.

Em segundos ele já havia recuado, e acabei levando o líquido a boca, com relutância.

Foi mais difícil que eu imaginei tomar o que deviam ser 250 mls, da tal vitamina doce. Mas depois de um baita esforço eu consegui, batendo a garrafa pela metade em seu peito.

–Com licença. – sibilei antes de virar as costas.

–Você pode ficar brava agora,–Calum soou calmo – mas sabe que eu estou cuidando de você.

Eu entendia que ele estava tentando ajudar, mas não me contentava em ter alguém decidindo o que era bom pra mim ou não.

–Agora arrasa naquela quadra! – ele continuou falando, como se não soubesse que eu estava brava com ele.

Na verdade eu queria estar, queria muito, muito virar a cara, cruzar meus braços e ir embora. Mas eu simplesmente não era capaz, e pelo tom calmo e sereno de Calum, ele também sabia disso 

 – Você é minha atacante, Harvey.

Dei cerca de quatro passos rápidos até chegar aos seus braços abertos outra vez, me aconchegando lá.

 Era o "abraço de boa sorte" sempre fazíamos antes de um de nós jogar, e eu francamente não estava a fim de entrar em quadra pela primeira vez sem ele. 

Fui obrigada a deixar meu orgulho de lado, e aquilo feria meu ego, mas valia a pena.

–Eu odeio você, –murmurei baixinho – sobretudo eu me odeio, por não conseguir te odiar direito.

Calum soltou apenas uma risada baixa, e doce. Logo ouvimos cochichos, e vozes diversas vindo do corredor ao lado. A treinadora devia ter chegado, provavelmente eu deveria me apresentar.

–Agora eu preciso ir. – expliquei me afastando. – Me deseje sorte.

–Boa sorte, Lexi – ele voltou ao tom delicado, deixando um beijo no topo da minha cabeça. –Nos vemos depois.

Assenti, indo finalmente ao encontro do time. Tivemos uma daquelas palestras motivacionais de nossa treinadora, e em seguida seguimos para a quadra, sob os gritos da torcida.

Meu coração parecia a ponto de explodir em meu peito, o nervosismo era enorme. Por outro lado estava disposta dar tudo de mim naqueles sessenta minutos de jogo.



Best Friend - CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora