Ressentimentos

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O Campus não era o mesmo sem a Tess.

Quando Leo soube do que aconteceu socou a parede com tanta força que sua mão ficou roxa no segundo seguinte. Laura ainda estava triste e provavelmente a mais ferida da história, mas tentava animar seus dois companheiros o máximo que podia.

- Gente, ela não morreu, isso já aconteceu antes, só vai ser alguns dias.

As palavras de Laura eram reconfortantes, parecia mesmo estar convencida que seria assim, e tinha de estar.

Quatro dias se passaram desde então. Miguel sofreu o trote dos calouros, que percebera só agora que não tinha acontecido porque estava protegido pelas assas de Tess.

Os garotos o amarraram seminu na árvore perto do prédio escolar principal, e em suas costas escreveram com caneta permanente preta "Sem Tess, sem proteção".

Pelo menos deixaram um estilete na mão dele para eventualmente se soltar, quanta consideração! Foi o dia mais longo da vida de Miguel, o mais sofrido também. Nunca pensara que aquela garota tinha o poder carismático do Hitler, fazendo todos a sua volta a venerarem.

Cinco dias, nenhuma mensagem de texto, WhatsApp, e-mail ou mensagem de fumaça. Nada.

Miguel resolveu parar de se importar tanto com a questão. Se já tinha acontecido antes era impossível que acontecesse algo ruim dessa vez, não é? E mais, o que ele podia fazer contra a máfia?

O ruim disso tudo é que alguma coisa o incomodava, profundo, e enraizado no fundo do seu coração "se você realmente a ama é melhor não se meter" essa frase repetia incessantemente na cabeça de Miguel, fazendo-o se sentir pior, era como se tivesse vendido sua pequena amiga.

- Sabe Miguel – Diz Leo na fila da cantina– Descobri o serviço de sua mãe. Ela é dona da Star, não é? É legal por lá?

- Mais ou menos, minha mãe fica em um prédio afastado da fábrica, então o que eu vejo são só executivos trabalhando sem parar arranjando um novo jeito de conseguir dinheiro.

Era dia de escondidinho de carne, feito com mandioca (prova viva de que quase qualquer coisa que se pode fazer com batata fica melhor com mandioca). Ele aprendera a cozinhar algo assim há tempos, mas nunca tinha provado uma variação tão suculentamente suave ao paladar na sua vida, bom, até agora.

Laura estava com eles na fila e não parecia muito interessada na comida, calorias de mais pensava. Tirando esse seu pensamento, era a mesma garota imperativa de sempre, com um olhar malicioso pronto para dizer alguma coisa.

- Miguel, - a menina começou a falar do nada, parecia só estar esperando pegar a fruta do dia (dessa vez uma pera) para começar com sua proposta - para pode me ajudar? Aceitei um trabalho de meio-período hoje. Tem como?

Ele tinha prova de empreendedorismo a tarde, mas tinha média o suficiente para zerar em duas ou três provas sem ter nenhum problema posterior. Normalmente gostaria de ficar mais trancado, estudando, mas algo (além dos incríveis olhos verdes "pidões" de Laura) o fazia sentir a necessidade de sair do campus.

- Laura, nem todos podem sair por aí cabulando aula sabia? – Começa Leo – Além do mais, temos prova no período da tarde.

- Valeu Leo, mas eu vou mesmo assim, estou precisando mesmo de alguma distração – ele encontrou um grande fio de cabelo na camada de queijo que cobria o escondidinho, normalmente ele pararia de comer, mas para parecer mais viril colocou-o de lado e continuou sua refeição.

- Nossa, quanta coragem, eu nunca comeria algo com o DNA da Srta. Hina na minha vida –Laura apontava para a merendeira, uma velha gorda com uma berruga gigantesca no queixo, o que imediatamente fez Miguel pensar que o cabelo tinha caído dali. Seu estômago revirou na hora, mas mesmo assim ele deu mais uma garfada – Obrigada, vou te recompensar por isso.

Missões cruzadas (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora