Uma semana antes de Miguel deixar tudo para trás graças ao trabalho da sua mãe, a mesma se sentiu na obrigação de me dar uma festa de despedida. Sabe, ela acreditava fielmente que a popularidade de seu filho tinha avançado às cegas todo esse tempo, mesmo depois do seu primeiro ano no colegial (como se ela nunca tivesse visto ele jogar Halo antes), então Miguel se viu obrigado a convidar todos os seus "colegas", ou seja, toda aquela galera que ele tinha trocado um "oi" ou "eaew" durante os últimos anos e principalmente aquelas pessoas do curso técnico de Redes de computadores ao qual ele se juntava por necessidade social.
Ele não estava esperando muita coisa da festa (embora sabia que aquela gentinha ia aparecer, porque sua casa era considerada "recanto dos playboys" com direito a vários quartos, uma quadra de tênis e uma boa piscina, coisa que adolescentes não seriam loucos de recusar), mas a alta produção de sua mãe fez com que fosse o evento do ano na pequena cidade de Araras.
Sem exageros, ela contratou um serviço de bufê, iluminação e o Dj mais recomendado que ela conseguiu (até mesmo preparou um mine bar perto da piscina onde a idade não importa) a única coisa que faltava era a vontade do anfitrião aparecer no dia marcado.
Tudo estava pronto para o evento, e naquela fatídica sexta-feira Miguel e sua mãe Gabriela se sentaram às 18:00 P M no sofá para esperar a cavalaria do adeus Miguel chegar.
Pouco a pouco jovens entre 14 e 19 anos chegavam a festa. Ironicamente quem Miguel tinha se dado o trabalho de convidar pessoalmente foram os últimos a chegar, esboçando um "desculpe pelo atraso" ao entrar na casa, que agora estava mais movimentada do que a 25 de março no natal.
- É sério que você vai embora mesmo Miguel? – Fala seu melhor amigo Richard, o único que realmente veio a festa para se despedir dele – diga-se de passagem, como você conseguiu reunir tanta gente aqui? – Eles falavam enquanto entravam na fila da churrasqueira para pegar um espetinho de carne recém assada.
- Dois motivos; primeiro: A maioria que está aqui gostaram da ideia dessa balada grátis; segundo: Minha mãe deu 10% de desconto para todos que viessem a festa.
D. Gabriela não aceitava o fato de seu filho ser um antissocial, então, quando ela achou que ele não estava vendo começou a dar desconto para todos os jovens que comprassem da sua marca "Star" que fabricava roupas, sapatos e acessórios, e, diga-se de passagem, era uma das marcas mais compradas do país.
Richard esconde o cupom de desconto que esquecera na sua mão direita dentro do seu casaco Star de couro, o garoto adorava a marca.
- Pois é, loucura dela, não é?
Uma garota com cara de quem se importa chega perto dos dois. Ela se chama Wendy, uma das pessoas que frequenta o mesmo círculo social que Miguel. Por alguns meses Miguel podia jurar que ela queria algo com ele, até saber que o namorado dela era Richard, por isso ela via-se meio obrigada a se dar bem com ele.
- Oi, Miguel! – Ela diz mordendo o espetinho do Richard!
- Ei! Entra na fila!
- Oi! – Ele responde com uma leve vontade de enfiar aquilo dentro da goela dela.
- Então, como foi suas férias?
- Mais ou menos, a melhor parte foi a viagem que eu fiz para ver o Cristo Redentor. E a sua?
- Bem, eu consegui um emprego, fui assaltada e desisti no dia seguinte. Depois ajudei a montar um teatro beneficente para as crianças...
Conversa fiada, coisa que Miguel nunca foi bom em fazer, por isso preferia seu mundo RPG online que era bem mais fácil e você não precisava conversar muito para saber o que tinha de fazer. Quando aqueles lábios cor de cereja esboçaram um final para seu resumo de férias Miguel balançou a cabeça e fez um joinha dizendo "que legal, deve ter sido mesmo divertido", o que acidentalmente acabou com a conversa inteira. Por um tempo, D. Gabriela passou na sua cabeça; como aquela mulher conseguia enrolar tanto em um tema chato e desinteressante. Bem que ela podia ter passado isso para ele em seu gene.
Richard e Wendy adentram a casa, na esperança que um dos quartos do segundo andar esteja disponível (Richard ainda tem a cara de pau de zoar seu amigo por não ter ninguém).
A festa durou mais ou menos até as 4:00 A M quando eles tiveram de arrancar alguns jovens dos quartos do segundo andar. A festa tinha sido um sucesso, salvo a parte que Miguel teve de parar a música para dizer um discurso de adeus.
Ele sabia que não seria bem aceito, então tentou resumir tudo em 20 palavras "Pessoal! Espero que estejam aproveitando a festa. Só quero dizer que foi um prazer conhecer vocês e até a próxima! ". Sua mãe não gostou muito, mas sabia que até isso foi difícil de mais para seu filho.
- Ficou feliz com a festa? – Diz a mãe dele enquanto o ajuda a colocar o sofá de volta no canto da sala.
- Feliz eu estou de nós não morarmos mais aqui depois de hoje. Francamente, viu como ficou os quartos de hospedes? – Ele solta um "Urr" quando tem de levantar o sofá para o colocar em cima do tapete com estampa africana.
- Você está bem mesmo em deixar tudo para trás se mudar assim?
- O papa veste Prada?
Ela solta um pequeno risinho. No fundo sabe que seu filho vai continuar sendo assim mesmo depois de se mudar para outro país.
Gabriela e sua empresa "Star Inc." iriam abrir uma sede em Tóquio, Japão e sua mãe teria de ir para lá arrumar a papelada da diretoria, nomear o CEO de lá, todo aquele trabalho chato de diretor da empresa. Atualmente ela tem sede em mais de 20 países afora, mas dessa vez era especial. Gabriela sempre teve o sonho de morar no Japão por um tempo, ela achava aquela cultura muito exótica, e queria vive-la.
Seria perfeito se seu pai Vitor não tivesse morrido há alguns anos em um trágico acidente de avião em uma viagem da sede dos EUA para a China. Os peritos dizem que o avião caiu porque foi pego em uma tempestade, mas nunca foi o suficiente para Miguel essa informação. Sua última lembrança para seu único filho foi um headset preto e vermelho com fone retrátil e um relógio analógico/digital que combinava com o fone e não importa para aonde o jovem vá, ele sempre os usava.
Desde então, Gabriela se viu administradora de uma empresa multinacional sozinha, e com os sócios, toca o negócio até hoje.
Por outro lado, Miguel nunca quis muita coisa. Para ele um quarto com internet era o suficiente para viver. Certa vez ele passou 5 dias jogando sem pausa, evitando ir no banheiro ou coisa parecida, só sobrevivendo a base lanchinhos racionados (não era uma façanha que ele se orgulhava muito). Ele quer estudar e se tornar um astrofísico, por isso deseja a sua mãe muitos anos de vida, para poder assumir a empresa quando tiver uns 70 anos de idade (sua mãe o teve com 16 anos, então não era algo tão impossível de se acontecer).
A história dos pais de Miguel é bem interessante, mas deixemos para outra ocasião.
Eles sentam no sofá e ficam ali, apreciando a lareira apagada bem à frente. Miguel estava atrás de uma grande aventura em sua vida, pois mesmo sendo um recluso social ele queria sentir o que ele mesmo determinava ser "alegria", e sua mãe sabia que ele não ia encontrar com aquele povinho que tinha comparecido à festa.
Ele se permite por um momento deitar no colo de sua mãe, coisa que não fazia tipo, desde que tinha desmamado. Ela lentamente faz círculos preguiçosos nos cabelos escuros e encaracolados do seu filho, depois passa a mão levemente sobre o fone que sempre estava em seu pescoço lembrando do seu falecido marido. Logo após de uns minutos assim, compartilhando a melhor conexão que podia ter com sua mãe, Miguel acaba adormecendo em seu colo.
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Missões cruzadas (COMPLETO)
Novela JuvenilA história acompanha principalmente a vida de Miguel, um garoto meio conturbado que vivia em um tédio profundo. Após sua mãe abrir uma filial em outro país, Miguel vê uma oportunidade de encontrar uma "grande aventura" nesse novo lugar, e realmente...