À sós

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Observar as estrelas sempre foi cativante, era um prazer especial que a muito tempo se manifestava em seu ser. Conseguir olhar o passado à luz do presente assim como era olhar o céu escurecido da noite sempre seria prazeroso, ainda mais, com ela.

As horas se apressavam a passar, escapavam por entre seus dedos de forma tal que mal percebiam um sequer estralar do ponteiro do relógio, mas a sensação de conforto com certeza valia apena.

Quanto tempo os dois passaram sem se ver, trocar mensagens ou se quer telefonar um ao outro?

Quanto assunto eles tinham para atualizar?

Quanto... seus corações mudaram desde aquele dia em que ela foi levada?

Não havia erro, apenas existia... reciprocidade.

O rosto dos dois estavam inchados, marcados pelas longas e demoradas lágrimas do reencontro. Tudo aquilo que não puderam falar foi passado ao outro por meio de seus choros, e tudo apenas serviu para que os corações de ambos entrassem em sincronia mais uma vez.

O que falaram um ao outro em sentimentos se tornava algo especial, e no fim, acabava por uni-los mais do que poderiam imaginar.

Saudade... era pouco para definir o que ambos sentiam, mas poder finalmente se desligar do globo e prestar atenção só na pessoa que estava ao seu lado, não existia ouro nem prata no mundo suficiente para pagar esses sentimentos.

Já havia algum tempo em que eles estavam na telha da casa, juntos, observando tudo aos seus arredores. Por ser um tanto íngreme necessitava de cuidados dobrados, mas de certo era o lugar mais bonito da casa, e possivelmente o lugar onde não corriam risco nenhum de serem importunados.

Miguel estava deitado, com a cabeça repousada sobre o colo de Tess, e ela, apoiada com um dos braços para trás.

Conseguia imaginar claramente as pernas da menina avermelhadas na parte onde estava deitado, porém era inevitável, a pele dela sempre se marcou muito fácil.

Normalmente ficava a cargo de ser o travesseiro, isso quando acontecia, porém, percebia agora que estar deitado também não era nada ruim. Sua visão do céu era ofuscada hora sim, hora não por lindos cabelos ruivos, e no maior ápice de beleza, um eclipse, o rosto dela.

Fazia tanto tempo que não se via dentro dos tons escarlates e cinzas daqueles olhos enigmáticos que já havia esquecido a sensação.

Se o que dizem for verdade, se os olhos eram mesmo a janela da alma, com toda certeza, aquela era a alma mais solitária e bela que já tinha tido o prazer de observar.

Era errado pensar que o mundo era feito apenas para lhe trazer aquele momento? Que toda a sua vida, todo aquele segmento de anos que tinha vivido servia apenas para encontrá-la?

"Estar com a Tess é o melhor" por muito naquela noite, aquele pensamento lhe dava conforto, e proporcionava para ele que cada segundo ali fosse aproveitado de uma maneira especial.

Quantas vezes foram? Que ela apareceu em sua mente sem nem ao menos pedir licença? Inundou os seus sentidos e trouxe a ele perguntas que jamais tiveram resposta?

Quantas vezes... ela se tornou a grande aventura que tanto buscava em sua terra natal?

Certamente, isso era o que menos importava nesse momento, e tudo que poderia importar teria de ser construído a partir de agora.

- Foi tão solitário assim? – Disse ele quase sussurrando. – Esses últimos meses foram tão ruins assim?

- É solitário... – A moça dizia em tons leves, com um sério rosto de nostalgia. – Estar no meio de um lugar onde você não se sente encaixado.

Missões cruzadas (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora