Silêncio

110 17 349
                                    



Aquela foi uma das piores manhãs de sua vida, se não a pior.

Ele lembrava de ter ido ao festival, tudo que tinha feito de manhã como a venda dos brinquedos, cartas da sorte, bebidas e drogas para Tess. Também se lembrava do período da tarde que não teve muita coisa especial, também de sua mãe chegando alegremente no período da noite, Leo, a barraca do beijo e tudo aquilo que passara naquele instante.

Porém, esse último período estava se tornando nebuloso em sua mente. Ele sabia que tinha saído para beber depois de conseguir alcançar sua amiga, mas depois disso seus sentimentos se dissolviam em sensações de alegria, prazer e amor sem sentido, sem lógica e pior ainda, sem nenhuma lembrança visual ou auditiva do que tinha acontecido.

Ele se orgulhava de conseguir lembrar de tudo que ao pensar tinha vivido até aquela noite, mas a perturbação por aquele período de silêncio era angustiante, e extremamente doloroso.

Pelo menos um sonho tinha se construído a partir do nada que ele lembrava da noite anterior, mas se misturava um pouco com a realidade.

Tinha visto Tess chorar... tinha reclamado da vida, tinha bebido e a partir daí apenas um sonho de ter beijado Laura... Espera... Era a Tess?

Sua cabeça doía de tentar relembrar o que tinha acontecido, mas quase sempre que sua mente vacilava ele se encontrava nessa indagação.

Quando acordou, o garoto teve uma grande surpresa, além, de quebra a ressaca que veio ao levantar a cabeça.

Estava sozinho no quarto, pelado em baixo das cobertas, com um balde de lata com água e uma garrafa quebrada de vinho ao lado da cama.

O cheiro de cigarro estava muito forte, foi incrível ter conseguido dormir e não morrer asfixiado.

Melhor não lembrar... pelo bem da sua integridade mental.

Parando para pensar, seu corpo estava mais pesado do que o normal e não estava conseguindo se mexer direito, então ele tratou de se apressar a fazer suas coisas.

Mesmo sem levantar, ele tateou o pequeno criado mudo ao lado da cama para procurar os seus óculos, ou o celular, o que viesse primeiro.

Ele encontrou os óculos. Torto e todo manchado, enxergar com aquilo ou sem, dava no mesmo.

E então ele encontrou seu celular. Custou a enxergar a tela, mas estava conseguindo.

Havia umas 300 mensagens, mais de oito conversas diferentes, mas ali tinha uma única que ele tratou como urgente.

"Oi filho, tudo bem? Mamãe está bem, ontem eu fui dormir na casa de uma nova amiga tá? Estou voltando para casa, quando puder me liga, mas prefiro que você venha a um almoço comigo um dia desses. Mamãe te ama muito! Continue me orgulhando sendo esse menino responsável que você é!"

Era mais de dez e meia da manhã, domingo. Todo o pessoal que participou do festival devia estar lá cedo para começar a desmontar as coisas, no entanto ele tinha perdido feio a hora que isso ia começar.

Agora que seus sentidos começavam a despertar, aquela sensação de peso que ele estava sentindo não parecia ser apenas o corpo pesado, era como se... tivesse mais alguém ali, em cima dele.

Não era possível, devia estar imaginando coisas.

Miguel levantou o cobertor lentamente soando frio, mas o que viu com certeza tinha o potencial para mata-lo mais tarde.

Tess.

Na altura de seu peito, e aparentemente vestindo o mesmo que ele, nada.

Miguel soltou rápido o cobertor e olhou desesperadamente para os lados. Queria ao menos se sentar, mas não conseguia, queria que tudo aquilo fosse um sonho, mas a sensação de contato da pele era forte demais para ser tal devaneio.

Missões cruzadas (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora