Missões cruzadas (COMPLETO)

Jardim Botânico

"Quanto menos se envolver, melhor". Pelo menos, era o que Miguel pensava antigamente.

Seus dias passavam monótonos e lentos na sua cidade natal, e até seus hobbies estavam perdendo o brilho.

Miguel passou por um período de negação muito grande e nesse nele, visitas ao psicólogo era algo muito frequente.

Seu mundinho perfeito tinha sido quebrado em mil pedaços depois do falecimento de seu pai, porém, ver sua mãe chorando dia após dia por conta disso lhe afetou profundamente. A separação da carne não é nada fácil, e pior ainda quando ela é uma separação forçada.

Seus traumas, suas condutas e depressões eram passadas em forma de um bloqueio para ele em sua antiga escola. O menino de personalidade frágil buscava sempre a exclusão, e com o tempo, não conseguia conversar com as pessoas direito e, mesmo que sua dificuldade aos poucos começava a se dissolver, pouquíssimos conseguiam penetrar em seu casulo.

Ainda assim ele estava se esforçando ao máximo. Seus dias eram uma conquista atrás da outra, e mesmo com dificuldades, agora havia pessoas que realmente se importavam. Menos aquela coisinha.

Miguel já tinha pensado várias vezes do motivo de continuar ajudando-a, se esforçando a correr atrás de um amor que não era o dele, mas, mesmo que ela utilizasse aquela infantil chantagem no início, Miguel apenas continuava porque queria ver o que Tess iria fazer.

Em relação a si mesmo, Miguel estava feliz. Feliz apenas por poder dividir o mesmo lugar que Laura, poder chama-la para conversar sobre o que quer que fosse ou ao menos poder olhar para ela durante as aulas. Era pedir demais que ele tomasse uma atitude, mas mesmo assim ele queria tomar uma atitude. Suas incertezas eram grandes e seu medo maior ainda. Sem saber como agir as vezes travava perto dela, mas a jovem sempre sorria de volta, como se nada tivesse acontecido.

Seu amor era como uma pequena flor em crescimento que procurava o sol para poder crescer, e o sol de sua vida, Laura, alimentava-o sem nem ao menos perceber.

É certo que segundo pesquisas, um homem tem a capacidade de se apaixonar rapidamente, mas continuar nutrindo aqueles sentimentos e de fato continuar amando já era outros quinhentos.

O jovem queria duvidar do que estava sentindo, se iludir com alguma mentira contrária, mas remoendo todas as suas dúvidas e repassando a si tudo que conseguia entender daquelas incertezas, o garoto preferia duvidar da sua capacidade de duvidar.

"Independente de tudo, eu preciso fazer alguma coisa"

Era o que ele repetia a si mesmo, uma vez por dia, todas as suas manhãs.

O balanço do ônibus chacoalhava todos sentados ali dentro. Não havia ninguém em pé devido ao horário que resolveram pegar o ônibus: 10 da manhã de um sábado.

Os quatro membros do grupo estavam indo em direção a uma praça ao oeste da cidade, bem afastada.

"Quero esse trabalho entregue daqui a cinco dias, valendo nota"

Professores, sempre inovando. E esse de geografia simplesmente não tinha o que fazer.

Bom, não podemos falar que um professor que é cliente assíduo da pequena traficante é o mais normal entre o corpo de docentes da escola, talvez os produtos consumidos aumentassem a criatividade do homem.

Os jovens necessitavam ir a uma praça que o Sr. Porter (formado em geofísica e matemática em uma conceituada faculdade pública dos EUA) tinha dito para colher alguns dados

Lá, segundo a orientação eles iriam encontrar um jardim botânico com árvores de todos os lugares do mundo e um pouco de suas histórias. A ideia, além de trazer fotos com os membros do trabalho em tal jardim era fazer um relatório resumido de vinte árvores do botânico, e se possível, curiosidades de como por exemplo era feito para que vastas quantidades dessas plantas fossem mantidas no mesmo lugar, sendo que muitas têm características de crescimento e exposição ao sol diferentes umas das outras.