Capítulo 26

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Isabel

Estava numa casa, nunca tinha estado ali antes, mas me sentia muito bem lá, era linda, decorada com todos os meus gostos.
Começo a andar pelos cômodos achando tudo uma maravilha, passo as mãos pelo corrimão enquanto desço as escadas trajando um vestido floral.
Caminho até a varanda, vejo minha moto lá fora, que saudade de andar de moto, começo a andar até ela.
Nesse exato momento começa a chover. Fico admirando os pingos batendo em meu rosto e logo um sorriso surge em meus lábios...

É uma sensação surreal.
Derrepente olho para os meus pés, eles estão molhados.
A água começa a subir rapidamente, encharcando todo o meu vestido.
Tento correr de volta para a casa, mas a água me congelou no chão.
O nível dela continua a subir, me deixando apenas com a cabeça de fora.
Olho para cima, mamãe está com uma toalha nas mãos e grita:

Isa meu amor, venha logo você está toda molhada.

– Mamãe...

Tento dizer mais alguma coisa, mas a água acaba por me cobrir completamente.
Ainda consigo ouvir um eco de sua voz que diz:


– Filha reage... Você precisa acordar... Agora!


***


Reagir?

Começo a tossir, uma dor insuportável vem do meu tornozelo.
Vejo ao redor, estou na beira do riacho.
Fico olhando para cima, é tão alto, nunca achei que fosse sobreviver a isso, vejo tantas pedras aqui, eu poderia ter caído em cima de uma, o que seria fatal.
Na certa o cara achou que eu morri, mas por ironia do destino e azar deles, não. Estou bem viva.

Me levanto devagar, a dor me acerta em cheio, devo ter batido meu pé em alguma pedra.
Nossa, estar doendo muito.
Tento caminhar, mas é uma tortura.
Me arrasto até a mata, que cerca tudo ao redor, e me sento próximo ao tronco de uma árvore.
Tento pensar em alguma maneira para conseguir andar.
Não posso ficar aqui, eles conhecem o lugar e poderiam dar a volta, ou sei lá, e me achariam. E eu não irei deixar isso acontecer...

Procuro em volta por algum galho no chão, acho imediatamente, não é tão difícil quando se estar numa mata, não é.
Quebro o galho, de mais ou menos um metro em duas partes.
Coloco um pedaço de cada lado do tornozelo, rasgo um pedaço da minha blusa fazendo uma tira. Com isso, me preparo para a maior dor que já senti na vida.
Seguro o grito profundo que emana de dentro de mim ao amarrar forte os dois talos junto ao tornozelo.
Droga!
Espero alguns minutos para me recompor da dor. Logo procuro por um galho maior para servir como uma espécie de bengala.
Me levanto ainda zonza e começo a caminhar devagar me apoiando no galho.
Onde será que estou?
Vou seguindo reto, com a esperança de que a algum momento surja uma estrada, uma trilha ou seja lá, alguma coisa Deus...

Enquanto a Paul, onde será que ele está?
Será que conseguiu ajuda, ele estava tão mal, espero que esteja tudo bem, não me perdoaria se algo tiver acontecido a ele, porque eu quem dei a idéia mesmo sabendo que estávamos tão longe de qualquer lugar.

Passo o que parece horas andando, mesmo que devagar. Já estou bem longe do riacho, até agora não apareceu nada, nenhum sinal de que um dia já houve alguém aqui.
E agora meu Deus, como vou sair dessa mata, ninguém nunca vai me encontrar aqui...

Ao longo de mais algum tempo andando, escurece de um jeito que já não vejo mais nada. Então sem mais opções, sento encostando-me num tronco de uma árvore e acabo caindo no sono.


Acordo de repente, o dia está começando a clarear. Um enorme frio me invade, tento abraçar as pernas, mas malmente sinto meus braços.
Tenho que continuar.
Olho para o meu tornozelo, está ficando cada vez pior.

Levanto e começo a caminhar novamente, não sei quanto tempo irei aguentar.

Depois de mais um tempo caminhando, o sol começa a esquentar, me libertando aos poucos do frio, e também ajudando a enxergar melhor.
Continuo seguindo em linha reta na esperança de aparecer algum caminho, mas a floresta parece ser infinita.

***

Depois de passar o dia todo andando, mas parando pra descansar alguns minutos, a noite chega novamente, e nada muda, apenas árvores, galhos e verde pra todos os lados que olho.
Será que sobreviverei, ou morrerei aqui mesmo?
Fico pensando várias coisas enquanto estou encostada no tronco de uma árvore esperando pelo dia.

E quando Luan não fizer mais o contato com o Hero, será que eles vão sacar que ele não está mais comigo?
E quanto a Luan, será que deixou isso passar, ou está me procurando por aí com seus capangas?
Mais fácil está me procurando mesmo, mas e se ele pensa que eu morri?
E o Paul, onde será que está numa hora dessas, será que ele conseguiu?

Olho ao redor, a escuridão da floresta me dá medo, mas não é pior do que quando estava nas garras de Luan.
Preciso encontrar uma saída daqui...

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Será que dá pra gente voltar no tempo?Onde histórias criam vida. Descubra agora