CAPÍTULO DOIS

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PARTE DOIS
> Alexander Lightwood <

    Era uma patrulha de rotina, apenas. Nada além de um exercício de campo para treinar as habilidades recém-adquiridas de Simon. Não que eu realmente tivesse planejado passar meu sábado à noite caçando demônios junto com Simon Lewis, mas eu havia prometido à Izzy. E, bem ou mal, iríamos todos juntos, o que evitaria que eu tivesse que ouvir piadas mundanas sem sentido algum. Meu atual cunhado/ex-vampiro/recém-ascendido companheiro Nephilim havia entrado definitivamente para a Clave, mas ao que parecia ainda não tinha superado seus antigos... Costumes. E nem sua antiga mania chata de encher meu saco. Mas, por Izzy, eu o aguentaria o quanto fosse necessário.

    OK, eu não poderia realmente dizer que não gostava de Simon. Eu o admirava, no mínimo. Mas queria conhecer um cara que gostasse muito do sujeito que roubou sua irmãzinha. Não que Isabelle fosse uma donzela indefesa de um conto de fadas mundano, bem longe disso. Mas, ainda assim... Ela era minha irmã caçula, poxa! Eu tinha o dever de protegê-la. Tudo bem, Izzy não queria ser nem minimamente protegida de Simon. Eu sabia disso. Eu aceitava isso. Só não conseguia ser exatamente um poço de simpatia quando ele estava perto. Até porque as marcas de suas antigas presas ainda eram visíveis em meu pulso.

    — Pensando mais uma vez em maneiras de escapar da caçada de hoje? — Clary perguntou ao parar ao meu lado.

    Na mosca.
 

   — Claro que não, Clary — respondi.

    Estávamos parados ao lado do elevador esperando que os outros chegassem, o que já deveria ter acontecido havia algum tempo. Após alguns minutos de um silêncio compartilhado, surpreendi a mim mesmo ao perceber que estava encarando Clary. Acho que eu não havia notado o quanto ela tinha mudado, apesar de tudo. Não era mais a garota mundana que tínhamos conhecido no Pandemônio, ela era uma Caçadora de Sombras, agia como uma Caçadora de Sombras. Talvez eu ainda não tivesse assimilado isso, no final das contas. Mesmo depois de tudo...

    — OK, vamos nessa — Jace pulou os últimos degraus da escada e veio até nós.

    — Deixe eu adivinhar — Clary provocou — Você estava arrumando o cabelo esse tempo todo.

    Jace pareceu horrorizado com a ideia.

    — Não sei de onde você tira essas coisas, Fairchild — ele disse enquanto abraçava a namorada.
    E ali, enquanto os observava retrucando um o outro, eu me senti feliz. Clary fazia um bem tão grande ao meu irmão...

    — Estou pronto — Simon fez com que eu voltasse à realidade. Ainda era estranho vê-lo usando o traje preto dos Nephilim, mas pelo menos era mais familiar do que presenciá-lo bebendo sangue. Ou, pior, do que compartilhar o meu sangue. Ok, talvez eu ainda estivesse meio complexado com a doação que precisei fazer em Edom.

    — Nossa, Lewis — Clary fingiu surpresa — Você ficou um gato com essa roupa. Imagine o que Erick diria se visse você assim.

    — Provavelmente — Simon disse — ele falaria que pareço um Cosplay de Dungeons and Dragons.

    — Eu continuo sem saber o que é isso — Isabelle finalmente apareceu. Quando Simon abriu a boca para falar, provavelmente já preparado para discursar sobre o jogo ou seja lá o que Dungeons and Dragons era, Izzy acrescentou: — E prefiro continuar sem saber, se não é incômodo.

    Sorri. Talvez aquela noite não fosse ser tão chata, afinal de contas.

                 🗡️    🗡️    🗡️


    — Simon — Clary chamou baixinho — Será que você pode parar de cantarolar?

    Fazia uma hora que andávamos pelas ruas de Nova York sem que um único demônio aparecesse em nosso caminho. Isso me cheirava mal, muito mal. Era praticamente impossível que uma caçada não resultasse em, no mínimo, um Ravener morto.

    E como se não bastasse, Simon decidiu cantarolar.

    — Desculpe — ele pediu então — Estou nervoso.

    — Você já lutou contra dezenas de demônios, já encarou um Anjo, já foi um rato e um vampiro — Jace lembrou — Sinceramente não entendo como pode estar nervoso agora. Será que a Ascensão não funcionou? Isso seria uma pena. Talvez a gente tenha que arrancar suas marcas e deixar que você vire um Renegado.

    — Jace! — Izzy e Clary repreenderam ao mesmo tempo.
 

— Só estou sugerindo, meninas — ele falou, visivelmente sem conseguir segurar o riso.

    Foi quando ouvi. E, sem dúvida, meus parceiros ouviram também. Vidro se estilhaçando, um rugido distorcido seguido pelo som de pés enormes se movimentando.

    — Isso não é humano — Simon comentou. Como se fosse necessário!

    Jace havia parado de rir e já puxava o Sensor do bolso da calça. Mas eu não precisava de confirmação alguma de que havia algo grande, uma fonte forte de energia demoníaca por perto.

    No pescoço de Isabelle, o colar de rubi pulsava como o coração de um animal assustado.

                  🗡️    🗡️    🗡️

    Os corredores do metrô estavam escuros, havia umidade demais no piso de concreto e nas paredes. Carregávamos três Pedras de Luz Enfeitiçada, porque uma só não era o suficiente. Apesar de ser óbvio que era mesmo um demônio que estávamos perseguindo, acabamos fazendo uso do Sensor para rastreá-lo. E, por algum motivo, a criatura tinha corrido para o metrô. O engraçado é que parecia que ela estava fugindo de nós, ou indo atrás de algo talvez. Independente do motivo que levou o demônio até lá, nós o encontramos.

    Paramos em um corredor a uma centena de metros de onde uma figura escura estava agachada, suas costas voltadas para nós. Parecia estranhamente pequena e humana e, ainda assim, imponente. Um Eidolon, provavelmente, um metamorfo capaz de assumir as formas mais improváveis. Fosse o que fosse, estava no nosso território.

    Puxei uma flecha da aljava ao mesmo tempo em que erguia o arco. Era um movimento tão conhecido que chegava a ser fácil. Armar, mirar, matar. Fácil. Porém, no momento em que a flecha atingiria as costas do demônio, ele se moveu. Foi mais rápido do que eu imaginaria possível, mais rápido do que o próprio Jace teria conseguido. Só o que sei é que em um segundo minha flecha estava voando diretamente para o corpo da criatura e, no instante seguinte, aquele ser que se parecia tanto com um humano girou, uma espada longa em sua mão, e partiu ao meio a haste antes que a ponta afiada da flecha pudesse atingir seu corpo.

    Aquele ser estranho se colocou de pé em um piscar de olhos, duas espadas longas em suas mãos que pareciam ser tão... Normais. E quando o capuz caiu sobre seus ombros e finalmente pudemos ver seu rosto e pescoço, enxerguei uma cortina espessa de cabelos tão claros que provavelmente seriam considerados brancos. Mas não foi isso o que chamou minha atenção. Não, o que eu assimilei mais do que imediatamente foram as linhas e curvas desenhadas em sua pele. Mesmo à distância eu soube que aquela coisa, seja lá o que fosse, tinha Runas marcadas em seu corpo. Runas, sim. E, mesmo estando tão longe, era visível que elas eram... Prateadas.

Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Anjos Renascidos (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora