CAPÍTULO DEZOITO

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     Assim que amanheceu eu informei que voltaríamos a Nova York. O tempo já não era mais o nosso problema, agora a imprevisibilidade era. E eu não estava disposta a esperar sentada enquanto Asmodeus mantinha segredo de seus planos.
     Nos reunimos na saída do Instituto, prontos para partir.
 

   — Eu vou com vocês — Zacariah informou ao se reunir a nós.
     Parei no ato de amarrar os cadarços, o pé apoiado no primeiro degrau da escada, e ergui o rosto. Zacariah trazia consigo uma mochila e uma mala de mão não muito grandes. Usava óculos escuros, possivelmente para camuflar as marcas de cansaço abaixo dos olhos.
     — Acredito que posso ser de alguma utilidade daqui para a frente — ele concluiu.
     Pesei suas palavras com cuidado, analisando os prós e contras da ideia.
     Todos esperavam que eu dissesse alguma coisa.
     — Não — decidi, endireitando o corpo e olhando-o — Se deseja nos ajudar, fique aqui e proteja as crianças. Arthur não conseguirá fazer isso sozinho se algo acontecer.
     — Talita — Jonathan chamou — eu realmente acho que Zacariah seria de grande ajuda. Temos muito o que fazer, mais um guerreiro experiente é algo que não podemos recusar.
     Aquilo me colocava em um beco sem saída. Jonathan era o líder natural daquele grupo, era ele quem tomava a frente em situações difíceis e se colocava entre seus amigos e o perigo. Eu havia assumido seu lugar em um embate de Alfas, mas tinha dado minha palavra de que não tiraria seu posto de direito. Ignorar sua opinião agora seria faltar com uma promessa. E, pior que isso, correr o risco de causar o estopim de um novo confronto entre nós dois.
     Nenhuma das possibilidades era válida para mim.
     — Eu concordo, Jace — falei cuidadosamente — mas não posso deixar que Emma e os Blackthorn fiquem sozinhos, seria dar aos demônios a chance perfeita para revidar. Não tenho garantias de que minhas Runas me avisarão de um novo ataque, não costumo ter mais de uma visão a cada século.
     Isso deu a eles algo em que pensar. Ninguém ali estava disposto a arriscar a segurança daquelas crianças.
     — Então vamos levá-los junto com a gente — Clarissa sugeriu.
     Suspirei em exasperação.
     — Não podemos simplesmente pedir que Arthur e as crianças façam as malas e se mudem para Nova York, Clary — naquele momento eu nem percebi que estava usando o apelido da garota, algo que até então me recusava a fazer.
      — Você quer manter eles em segurança, não quer? Lá eles vão estar rodeados por Caçadores de Sombras adultos. Mais protegidos, impossível.
     — Eu não sei. Não vou forçá-los a nada.
     — Tá brincando? — Simon perguntou — As crianças vão adorar a ideia de passar mais um tempo perto de você.
     Fiz uma careta involuntária.
     — Não é uma boa tática, Simon — falei — Eles têm medo de mim. Arthur também.
     — Na verdade, não — Isabelle intrometeu-se — ou melhor, Arthur realmente não vai com a sua cara. Mas estivemos conversando com as crianças e elas estão totalmente fascinadas com você — a ironia em sua voz era quase palpável — Então — ela continuou — é só saber manipulá-las como fez com Emma.

     Odiei o uso que ela fez da palavra "manipulação", como se eu tivesse obrigado a menina a fazer alguma coisa que ela não quisesse.
 

   — Eu não tenho mais nada para usar como suborno, Isabelle.
     — É aí que está — ela retrucou — Você é o suborno.

     Ela fazia parecer tão fácil.
 

   Eu não tinha certeza se seria adequado ter crianças por perto naquelas condições. Elas eram jovens demais, indefesas demais, inocentes demais. Tê-los próximos a nós seria um trabalho adicional em quesito de cuidado, uma vez que cada conversa, planejamento ou discussão deveria ser mantido longe delas. E de seu tio. Estávamos andando por estradas que as crianças não poderiam percorrer. E que eu não queria que percorressem. Jovens demais, inocentes demais. A maldade com a qual cruzaríamos não era algo que eu quisesse que eles conhecessem.

Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Anjos Renascidos (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora