EXTRA - A Notícia

1.6K 139 12
                                    

>James Carstairs<

    Ela estava no telhado, próxima à beira. Tinha o rosto levemente inclinado para o alto em silenciosa contemplação.
    Então me reservei o direito de contemplar também. Enquanto ela admirava o céu nublado daquela tarde de outono, eu a admirava. Minha esposa. No dia seguinte completaríamos três anos de casamento. E eu era o homem mais feliz da face da terra. Sempre resplandecente, sempre luminosa, Talita era meu mundo. Meu sol. Eu vivia para vê-la sorrir, porque seus sorrisos eram minha maior motivação para viver. Eu a amava. Amava tanto que, por vezes, me perguntava se tudo o que eu tinha vivido não havia sido a forma como o destino me preparou para ela. Se fosse esse o caso, eu só podia ser grato por, no fim, ela ter escolhido ficar comigo.
    — Saudade de casa? — perguntei ao me aproximar.
    Vez ou outra eu a flagrava nesses momentos, quando olhava para o céu e simplesmente o observava. Apesar de ela nunca ter dito isso, eu sabia que, nessas ocasiões, Talita orava.
    Sentei-me ao seu lado e abracei-a, a puxando de encontro ao meu peito.
    Ela sorriu.
    — Não — falou — Dessa vez não. Estou apenas contando a eles a novidade.
    Franzi o cenho.
    Havia uma novidade a ser contada aos Anjos?
    Antes que eu pudesse perguntar a que ela se referia, a voz de Alec, lá embaixo no jardim, chegou até nós:
    — Talita!
    Nos inclinamos mais para a beirada do telhado e o vimos de pé com os braços erguidos.
    — Vamos logo com isso, Landway! — ele exclamou — Você prometeu levar Sherazade para escolher o vestido do aniversário dela. E Magnus está enlouquecendo com os feitiços que Max anda disparando pela casa, então você precisa levar seus sobrinhos para passear.
    Não pude evitar rir.
    Alec e Magnus eram pais magníficos. Eram totalmente apaixonados por Max, Sherazade e Jeremy, mas aproveitavam ao máximo o fato de a família ser grande para dividir os esforços na hora de conter as peripécias das crianças. O pequeno feiticeiro era particularmente maroto.
    — Eu prometi levar Sherazade — Talita disse — Não falei nada sobre Jeremy e Max entrarem no pacote.
    — Você é tia deles, é sua obrigação — Alec retrucou — Então conte logo ao James e vá buscar meus filhos no Brooklin.
    Olhei para Talita.
    — Do que Alec está falando, amor? — perguntei.
    Ela riu.
    — Já já falamos sobre isso. Primeiro deixe que eu me livre do meu irmão — e, levantando-se, gritou: — Isso aqui era para ser uma coisa íntima, Alexander. E eu não tenho a mínima condição de cuidar daqueles três ao mesmo tempo.
    — Você tem sete filhos — Alec disse — Pode muito bem cuidar dos meus três.
    Tornei a rir.
    — Nossos sete filhos não disparam feitiços cada vez que espirram — lembrei-lhe. Max era realmente um garotinho peculiar.
    O rapaz bufou e colocou as mãos na cintura.
    — Sua mulher precisa adquirir experiência com todo esse lance de fraldas e mamadeiras, James. Considerem um exercício de treinamento.
    Confuso, olhei de um para o outro à espera de uma explicação. Vi Talita fuzilando Alec com os olhos e, depois, retirando o casaco.
    — Eu já volto, meu amor — falou. E permitiu que as asas irrompessem pelas fendas na regata.
    Suas asas eram lindas. A pureza do branco e a delicadeza do prata evidenciavam o que, de certo modo, eu sempre soubera: Minha esposa era um Anjo. Um Anjo belo, forte e incomparável. Meu Anjo.
    Talita saltou, as grandes penas reluzindo, e planou até o chão. Alec tentou fugir, às gargalhadas, mas não havia como escapar dela. Em um portal vindo do nada, Talita fez o Nephilim desaparecer. E voltou para o telhado, rindo.
    — Alec não parece ter entendido que a Runa de Fraternidade não nos tornou irmãos siameses — brincou — Há coisas que precisam ser feitas com privacidade.
    Ela tornou a encolher as asas para dentro da carne e veio sentar-se em meu colo, frente à frente comigo.
    — O que o intrometido do meu irmão estava tentando insinuar — disse ela — é que teremos realmente que lidar com fraldas e mamadeiras em breve.
    Fiquei paralisado.
    Talita estava dizendo o que eu achava que ela estava dizendo? Ela… Nós…?
    Encarei sua barriga, plana, firme, e pensei que eu estivera errado. Antes eu não era o homem mais feliz da face da terra.
    — Segundo Gabriel — ela cochichou — será um menino. Miguel apostou que será uma menininha.
    Mas agora eu decididamente o era.
    — Você está grávida? — perguntei, precisando de uma confirmação de que era real, de que eu não estava perdendo o juízo. De que verdadeiramente teríamos um bebê.
    O sorriso que Talita ofereceu-me, de orelha à orelha, fez meu coração acelerar.
    — Sim — sussurrou.
    Seria impossível receber um presente melhor em nosso aniversário de casamento.

Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Anjos Renascidos (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora