Algo está errado

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Ouço os gritos do meu filho, enquanto a sua pequena mão continua a agarrar o seu braço. O sangue que jorra por entre os seus dedos faz os meus olhos ficarem baços e tento ser forte o suficiente para ultrapassar as palpitações que fazem o meu coração abalar sobre a areia. Eu não me posso perder, não agora.

Sinto o meu corpo ser agarrado pela minha melhoramiga e, por muito que tente lutar com a sua força a minha é inexistente. 

Vejo o Zayn agarrar no nosso bebé e sair dali a correr. Tento mover o meu corpo, tento gritar, tento sentir, mas.... Uma lágrima solta-se dos meus olhos e toda a minha orbita é uma câmara lenta que congela cada segundo.

"Vai ficar tudo bem." - sinto os leves dedos do Zayn correrem ao longo dos meus fios de cabelo.

Permaneço em silêncio. Existe um ninho de perguntas e de ideias sem sentido que rodam ao longo da minha mente. Quem é que pode ter feito uma coisa tão horrorosa a uma criança totalmente indefesa? Só pode ser.... Mas porque agora? Porque mais uma vez connosco? 

Só quero que os médicos saiam daquela sala e me digam que o meu filho está bem, que vai ficar bem. Só quero poder aperta-lo entre os meus braços e nunca mais o largar. Agora eu sei, sei mais do que nunca, que seria capaz de me meter em frente àquela bala, sei que seria capaz de sentir toda a dor que ele está a sentir, sei que seria capaz de dar a minha vida por ele. Encaro a mancha de sangue no meu vestido e sinto as lágrimas desceram silenciosamente pelo meu rosto.

"Amor..." - ouço a voz do Zayn.

Sinto o seu corpo largar o meu e de seguida posicionar-se em frente ao mesmo. As suas mãos encaminham-se até às minhas, apertando-as com força, mas uma força boa, que enche um pouquinho o meu coração.

"O nosso menino está bem, está tudo bem. Se ele te vir assim a chorar e triste ele vai ficar ainda mais triste. Não te esqueças que és a guerreira dele. Sempre que ele precisou foste tu que lá estiveste. Quando ele chorava todas as noites com medo dos monstros foste tu que entraste dentro do armário e lhe mostras-te que os monstros eram amigos. Quando ele chegou da escola com feridas foste tu que as concertas-te. Ele precisa de ti forte. E sei, ambos sabemos, que as coisas que têm acontecido nos têm derrubado, mas por ele, aliás, por todos nós precisamos de ser fortes, de lutar contra estes palhaços que nos tentam roubar a vida. Nós agora somos casados, completamos tudo aquilo que precisavamos para mais ninguém quebrar o laço que nos prende, eu estou aqui para ti, assim como sei que estarás em todos os momentos para mim, então vamos ser só mais uma vez e só mais um pouquinho fortes. Nós merecemos alcançar a felicidade e mostrar aqueles otários do que nada que eles façam nos vai derrubar." - sinto as suas mãos, agora, acariciarem a minha face.

"Mamã." - ouço a voz do Thomas atrás de nós e logo me levanto.

Corro até ele e agarro-o, apertando-o contra mim com cuidado para não magoar mais o seu braço. Sinto o seu pequeno braço envolver o meu pescoço rapidamente e logo deixo escapar um sorriso que se faz acompanhar de uma corrente de lágrimas. Pego nele e caminho até ao Zayn, mas antes que o possa alcançar o seu corpo sai a correr pela porta do hospital.

"Amiga vai lá, eu tomo conta do nosso guerreiro." - a Ellen pega no meu menino e depois de depositar um beijo nos seus lábios vou atrás do meu marido e abraço-o por trás.

"Que foi meu amor?" - deixo um beijo nas suas costas e, de seguida, deito a cabeça sobre as mesmas. 

Sinto os seus soluços silenciosos e logo o viro para mim. Envolvo o seu pescoço com os meus braços e logo sinto os seus em volta da minha cintura.

"Eu fui tão idiota durante todo este tempo e o pior é que só descobri isso, agora, e só percebi porque vi que as pessoas que mais amo estão a correr verdadeiro perigo de vida." - sinto as suas lágrimas molharem a pele do meu braço.

"Olha para mim."- sussurro, mas ele nega.

Pego na sua face e conduzo o seu olhar até ao meu.

"Eu sei que o passado teima em tentar queimar a nossa vida, mas como tu disseste à pouco nós somos bem mais fortes do que isso e vamos ultrapassar todos os obstáculos. Esquece todos os erros do passado, vamos centrar-nos em conquistar o futuro. Vamos viver tudo o que temos para viver. Errar já todos nós erramos, por isso para de te julgar." - limpo as suas lágrimas com os meus polegares.

Os seus braços voltam a apertar o meu corpo e eu logo o imito.

"Vamos buscar os nossos meninos." - sussurro, novamente.

"Vamos e desta vez eu não vou deixar que mais nada, que mais ninguém vos tire de mim ou vos faça mal." - o seu olhar choca novamente com o meu.

Roço os nossos narizes.

"Eu amote meu marido."

"Eu amote minha esposa." - junta os nossos lábios.


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