Falar com o Thomas

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"Com quem estás a falar?" - ouço a voz do meu filho e logo me arrepio.

Tiro o telemóvel da minha orelha e retraio os soluços que se tentam a escapar pela minha boca. 

"Com a tua mamã, acho que devias conversar com ela." - ouço, agora, a voz da Ellen.

"Não, é melhor não. Deve lá estar os outros e a Denise também não quer que fale com ela."

E quem é ela para querer que o meu filho fale, ou não, comigo. Ela não manda nele. Ela não lhe é nada. Suspiro e tento guardar bem longe de mim, a raiva que sinto pela mulher do Zayn. 

"A Denise não precisa de saber, eu digo-lhe que foste à casa de banho e tu ficas aqui a falar com a mãe."

Alguns segundos se passam e sinto uma pontada de esperança alegrar o meu coração. Os segundos passam e sinto-me cada vez mais ansiosa. Será que vou voltar a ouvir a sua voz, ou até mesmo a sentir o seu toque, o seu cheiro. As saudades são tantas. As lembranças são veneno.

"Estou mãe." - a sua voz é fria e o meu coração desmonta mais e mais os cacos em que se tem transformado.

"Como estás?" - pergunto, enquanto olho a minha irmã.

"Bem e a mana?"

"A mana está bem, com saudades tuas, mas bem."

"Eu também tenho saudades dela e tuas...." - sussurra, fazendo uma leve lágrima transbordar pelas fendas da minha face.

"Então porque não vens cá? Porque não voltas a viver com a mamã."

"Porque agora a minha mãe é a Denise. Quando o Liam não estava aí tudo era melhor, nós riamos muito e eu amava-te muito mãe, mas depois ele estragou tudo e tu escolheste-o sem exitar. Pelo menos a Denise brinca comigo e com o Noah, tu só choravas. Não gosto mais da nossa casa, a casa do papá é maior e o Liam não vem para aqui. A culpa é toda do Liam."

"A mamã só está a fazer isto para o teu bem, para o bem da mana e do papá."

"Tenho que ir. Gosto muito de ti." - sussurra.

"Amote muito." - a chamada é desligada.

Levanto-me e caminho até ao jardim. Olho o céu e deixo que as lágrimas corram ao longo da minha face. 

Custou tanto ouvir as suas palavras, mas a vida continua e eu não posso parar. Eu vou conseguir acabar com este pesadelo. Vou lutar até ao fim, porque posso ter perdida muitas batalhas, mas a guerra final sou eu, e somente eu que a definirei. Vou conseguir escapar das garras de quem tanto mal me fez e marcar o território que me roubaram, porque o bem? O bem vence sempre. 

Passo as mãos pelo cabelo e volto a abrir os olhos, recebendo os mais fortes raios de sol. A força está em nós, em cada um de nós. O coração bate e a vida segue. Então desprende-te das correntes e rema em direção aquilo que te faz feliz. Rema para longe e alcança a vida e no fim, a vitória será o maior troféu. Só assim subirás ao pódio. 

Sorrio e subo a correr. Beijo a pequena face da minha filha e vejo nela, o motivo para continuar a luta que sempre travei.



Mais um capítulo dedicada à melhor e mais guerreira sogrinha do mundo. Gosto muito de si.

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