Limpo as lágrimas que não param de correr ao longo da minha face. Faz três dias que ele foi embora e eu? Eu não consigo seguir a minha vida tal como ele seguiu a dele. Ele abriu a porta e deixou, somente, um leve amo-te pairar pelo ar. Lembro-me de ter fechado os olhos depois de ouvir a porta atrás de mim bater. Juro por segundo ter sentido a sua respiração atrás da madeira fria sobre a qual me deixei cair, mas é mentira. Tudo foi uma mentira. Eu pensei que ele tinha mudado, que realmente as coisas iam ser melhores, mas tudo o que ele fez foi destruir-me, foi destruir o pouco que construi.
"Amor os meninos precisam de ti." - ouço a voz da minha melhor amiga, mas finjo estar a dormir. - "Pára, tens que encarar a realidade"
"Que realidade? O facto de ele me ter abandonado. O facto de o homem que eu amo não passar de um canalha?"
"Desculpa, mas eu acho que já chega. Já chega do Zayn ser sempre o mau da fita. Já chaga do Zayn ser sempre o único que erra. É pena que não tenhas percebido que durante este tempo todo ele fez o melhor que pode. Ele deu tudo o que tinha e que não tinha. Se ele já errou? Sim, ele já errou, mas também já te ajudou. Pensa que secalhar ele só está a fazer isto porque te quer proteger, porque quer proteger os seus filhos, os seus amigos, as pessoas que ama. O Zayn não é isso monstro que tentas pintar. Secalhar se o tentasses compreender minimamente, ao invés de todos os dias lhe atirares pedras, tudo isto não tinha acontecido. Talvez fosses a arma que ele precisava para vencer e não a bomba que o destruia." - vejo as lágrimas correrem ao longo da sua face. - "Não foste só tu que o perdeste. Os filhos dele também o perderam, os amigos, os afilhados, toda a gente o perdeu, por causa de algo que o devia trazer de volta. Tu."
Sinto mais e mais lágrimas correrem ao longo da minha face. Ela é minha amiga e está a dizer-me estas coisas.
"Tu és minha melhor amiga, era suposto estares do meu lado em todos os momentos" - grito.
"Apoiar-te e não dizer somente aquilo que queres ouvir. Tu cresceste muito durante este tempo, mas também desenvolves-te uma raiva e um rancor que não são normais em ti. Tudo está sempre mal, quando muita coisa podia ser simplificada. Achas que és só tu e o Zayn que tem problemas, achas? Todos os casais têm e achas que é a culpar-se um ao outro que conseguem resolver-se? Não é. Tem calma contigo, porque já perdeste o homem que amavas e a continuar assim não te vai restar muito mais do que uma casa, quatro paredes e um silêncio mais infernal que todos os gritos."
"Tu não sabes o que dizes."
"Pois não, esqueci-me que tu também desenvolveste a competência da assertividade máxima. Só tu é que sabes, sói tu é que ages bem. Tudo o que é bom és tu, o que é mau são os outros."
"Sai daqui!"
Sinto as lágrimas sufocarem cada poro meu. Sinto a minha garganta secar e sinto o abismo aproximar-se à mais lenta velocidade da luz.
"Podes querer que se desta vez sair eu não voltarei."
(...)
"Mais calma?" - ouço a voz que há muito não ouvia.
"Li...Liam?" - a minha voz falha e sinto choques pelo meu corpo.
Levanto-me apressadamente do sofá e encaro-o.
"O que é que estás aqui a fazer?" - aperto as mãos com forma.
"Só te vim dar um aviso." - aproxima-se de mim, mas eu tento fugir, recuando.
"Sai daqui ou eu vou gritar." - sinto pequenas lágrimas correrem pela minha face.
"Experimenta e vês o que acontecer ao teu filho." - dirige o seu olhar para a porta da cozinha e o meu logo o segue.
"Filho" - sussurro entre lágrimas, assim que o vejo acorrentado o lado da Denise, que me lança um sorriso maquiavélico. - "O que é que queres de mim?"
"Primeiro quero que me digas onde está o teu querido e amado namorado?"
"Eu não sei dele, nós não estamos mais juntos."
"Hum, nesse caso também vamos ter que levar este menino."
Solto um grito e logo sinto um tropo na porta, que se abre de seguida, revelando um Zayn todo suado.
"Larga o meu filho." - grita, apontando uma arma à Denise.
Fecho os olhos com força e sinto algo afiado escorregar pela minha espinha abaixo.
"Malik, Malik, tens a certeza que queres fazer isso." - sinto algo afiado trespassar o meu braço e logo solto um grito de dor.
"Larga-a, seu cabrão." - sinto o sangue quente correr ao longo do meu braço gelado e tento controlar a vontade de chorar.
Olho o Thomas, que me encara aterrorizado. O meu olhar desvia-se para o Liam que caminha apressadamente até ao Zayn, apontado a sua pequena lamina contra o seu estomago.
Ouço um tiro e fecho os olhos com força.